Porto de Santos vê alta nas exportações de milho e soja após um ano de guerra na Ucrânia

Incursão das tropas da Rússia em solo ucraniano completa 12 meses nesta sexta-feira (24)

Por: Bárbara Farias  -  24/02/23  -  10:06
Em 2022, Porto de Santos embarcou 16,3 milhões de toneladas de milho, 80,3% a mais que no ano anterior
Em 2022, Porto de Santos embarcou 16,3 milhões de toneladas de milho, 80,3% a mais que no ano anterior   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A guerra na Ucrânia completa um ano nesta sexta-feira (24) e, contrariando as expectativas iniciais e a onda inflacionária global, favoreceu as exportações de grãos do Brasil, em especial de milho, ao longo de 2022. E o Porto de Santos se tornou a principal porta de saída desses produtos no País. As sanções internacionais impostas contra a Rússia e o fechamento de portos na Ucrânia, grande produtora de trigo e milho, abriram espaço ao Brasil no comércio exterior de commodities, mas não imediatamente.


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“O início da guerra impactou na movimentação de trigo, milho e fertilizantes, considerando que a Rússia é um parceiro comercial importantíssimo para o Brasil. Houve, na fase inicial, um freio nas exportações de café e aumento nos preços dos combustíveis e, consequentemente, no frete marítimo”, afirmou o diretor-executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), José Roque.


Contudo, o balanço anual da Santos Port Authority (SPA) confirma o aumento no volume exportado de milho e soja em comparação ao ano anterior. Entre janeiro e dezembro de 2022, o complexo portuário santista embarcou 16,3 milhões de toneladas de milho, 80,3% a mais em comparação a 2021 (9 milhões). Já em relação ao complexo soja, foram exportadas 34,6 milhões de toneladas contra 30,2 milhões em 2021 — alta de 14%.


“Se, antes, o Brasil era usualmente um maior exportador de milho entre junho-janeiro, no ano passado a exportação começou em março e até agora segue com line up agressivo”, disse Roque. Ele acredita que, se o confronto armado na Ucrânia continuar, influenciará a manutenção do Brasil como país estratégico no suprimento da cadeia alimentar no exterior.


“A guerra deve contribuir para o contínuo crescimento do volume de exportação no Porto de Santos, pois ela limita o escoamento de grãos pela Ucrânia e o Brasil acaba repondo esse volume na cadeia mundial. Além disso, com a consolidação da exportação de milho brasileiro para a China — com os governos entrando em consenso e o Brasil se adequando às imposições chinesas -, temos tudo para fazer da China um importante destino também para o milho, enquanto na soja segue sendo o principal”.


Para o diretor-executivo do Sindamar, “caso os números de produção para soja e milho se confirmem, sem variações de quebras de safra por condições climáticas, 2023 tem tudo para ser mais um ano de recordes de exportação de grãos no Brasil e, logicamente, Santos seguirá sendo o principal corredor de escoamento”.


Favorecimento
O economista Denis Castro observou que o comércio exterior brasileiro foi favorecido pela crise alimentar global, apesar da alta de custos no transporte marítimo. “As altas do diesel e do frete marítimo e a escassez de contêineres impactaram a operação, que ficou significativamente mais cara. No entanto, Santos continua batendo recordes de movimentação, uma vez que, enquanto exportador, o Brasil foi beneficiado pela crise internacional, pois a nossa exportação é baseada em commodities agrícolas”.


Castro analisa que o mercado continuará aquecido para o País, que deve seguir como terceiro maior exportador de alimentos nos próximos anos, só atrás da China e dos Estados Unidos. "A alta de commodities agrícolas beneficia a balança comercial brasileira, no entanto, impacta de maneira negativa no preço dos alimentos e no mercado interno. A população brasileira sente no bolso a inflação dos alimentos, que tiveram sua demanda aumentada no cenário internacional".


O diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, estima que as exportações de milho devem se manter em alta e se tornaram um movimento irreversível. Elas estão atreladas, principalmente, à vocação e à capacidade produtiva da nossa agricultura, além da topografia e clima favoráveis.


"É evidente que, momentaneamente, a saída de um importante país fornecedor do grão, por conta de uma guerra, possa abrir espaço para outros fornecedores. No entanto, destaco que o milho tem sido o maior companheiro da soja brasileira no processo de alternância de culturas em uma mesma área. E a tendência é crescer ainda mais", ressaltou Mendes.


Fertilizantes em Santos
O Porto de Santos descarregou 10,5 milhões de toneladas de fertilizantes no ano passado, o que equivale a 26,3% do volume total importado no Brasil.


“Atualmente, os navios de fertilizantes vindos da Rússia estão chegando, atracando e descarregando normalmente. O impacto das sanções foi sentido no ano passado, logo após irromper o conflito, mas durante o ano foi normalizando”, afirmou o diretor-executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), José Roque.


O Brasil importa cerca de 85% dos insumos necessários à produção agrícola, sendo que quase 30% são oriundos da Rússia e Belarus. Contudo, não houve desabastecimento. “O Brasil, como todos os outros países consumidores, reduziu a importação de fertilizantes em 9% na comparação de 2022 com 2021 - de 43,7 milhões de toneladas para 39,8 milhões. Já no fim de 2022, notamos que o Brasil se encontrava com excesso de fertilizantes e começou a reexportar a outros países”, disse Roque.


Roque citou ainda que “os importadores tentaram trazer fertilizantes de outras origens, mas em volume menor apenas para suprir uma necessidade urgente. Aos poucos vai normalizando, mas ainda não está 100%, sendo que a guerra afetou bastante as sanções financeiras”.


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