Porto de Santos movimenta comércio e serviços no entorno dos terminais

De barbeiro a produtor de café, profissionais acompanharam evolução do complexo santista

Por: Ted Sartori  -  26/02/23  -  22:19
“Temos caminhoneiros fiéis que aparecem aqui (no Rei do Café), muitos da própria Cidade
“Temos caminhoneiros fiéis que aparecem aqui (no Rei do Café), muitos da própria Cidade   Foto: Alexsander Ferraz

Um terço da economia brasileira gira no transporte diário de cargas que passam diretamente pelo Porto de Santos. Em meio a isso, outra roda gira além das que compõem os pesados caminhões: a do tradicional comércio do entorno, que possui nos trabalhadores parte importante de sua clientela, embora a quantidade já tenha sido maior em outras décadas.


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A parada para o cafezinho continua sendo frequente no Rei do Café, na Rua Gonçalves Dias, esquina com a Rua Visconde de Vergueiro e próximo à Avenida Visconde de São Leopoldo. É uma tradição de quase 111 anos, iniciada em 12 de abril de 1912 e à mostra na fachada do preservado casarão.


“Temos caminhoneiros fiéis que aparecem aqui, muitos da própria Cidade. Mas aumentou o número de funcionários de empresas do Porto, o que inclui também o setor administrativo. Vinte por cento do nosso delivery é desse público, mas no balcão não conseguimos mensurar”, afirma Guilherme Mauri, há sete anos um dos administradores do estabelecimento, referindo-se à venda de café torrado e moído do próprio estabelecimento.


“A gente acaba criando uma relação de intimidade com eles (clientes)
“A gente acaba criando uma relação de intimidade com eles (clientes)   Foto: Alexsander Ferraz

A uma quadra dali, na Rua São Bento, o balcão da Nova Parada Auto Peças não para de receber compradores em busca de algo que os veículos de carga necessitem. Afinal, o caminhão tem que aguentar a pressão e as necessidades provocadas pelo trabalho cotidiano, além dos tradicionais problemas das ruas do local.


“Muitas vezes eles vêm em busca de um alternador (peça que serve para transformar a energia mecânica gerada na combustão em energia elétrica e, assim, recarregar a bateria) ou uma lanterna que quebrou”, conta o proprietário Samuel Victor Toledo de Andrade. “A gente acaba criando uma relação de intimidade com eles (clientes). A maioria é da Cidade e da região. São poucos os que aparecem aqui e são de fora”, emenda.


A cabeça e os pneus
Em frente à loja de peças, outro estabelecimento também se interessa pelos cuidados, mas no visual: é a Barbearia Santista, aberta há sete anos e que atende na base dos agendamentos.


  Foto: Alexsander Ferraz

De imediato, o ambiente chama a atenção, com objetos vintage dos mais variados, como TV e telefones antigos, além de objetos ligados a automóveis e à música. A decoração do local muda com frequência, assim como tem se alterado a rotina de trabalho ao longo do tempo.


“Já tive nove cadeiras de barbeiro aqui, mas agora são duas. Muitos deles saíram para buscar outros empregos. Quarenta por cento de minha clientela é ligada ao Porto. Há caminhoneiros que vêm sempre, alguns até de Praia Grande”, explica André Garrido, um dos sócios do local. “Vamos mexer aqui no térreo para fazermos um bar, um pub”, revela.


Domingos Januário dos Santos, o Barba, trabalhou por 50 anos com pneus de caminhões
Domingos Januário dos Santos, o Barba, trabalhou por 50 anos com pneus de caminhões   Foto: Alexsander Ferraz

Andando mais alguns metros, na Avenida Visconde de São Leopoldo, Domingos Januário dos Santos, o Barba, não para de trabalhar nos pneus em sua borracharia. No entanto, a atividade acontece apenas nos de carros e motos.


“Trabalho com isso há 60 anos (ele tem 73). Foram 50 mexendo com caminhões. Não tenho mais idade para isso”, afirma, driblando a chuva que teimava em cair enquanto acontecia a entrevista.


Apesar da queda do número de serviços, borracharia ainda tem o Porto como ganha-pão
Apesar da queda do número de serviços, borracharia ainda tem o Porto como ganha-pão   Foto: Alexsander Ferraz

Quem não desistiu dos caminhões foi a Forte Pneus, localizada na Rua Antônio Prado, bem perto da Praça Barão do Rio Branco e em frente aos antigos armazéns do Porto.


A rotina continua firme como a disposição de Fauzzer do Amaral Pereira Rossi, proprietário do estabelecimento há 14 anos: ele vem diariamente de Santo André, no ABC.


“Em outros tempos, fazíamos de 35 a 40 serviços por dia. Falo de 2012. Atualmente, chegamos a 14, 15 em um dia bom, mas geralmente temos dois ou três”, calcula, sem desanimar, apesar da vertiginosa queda dos números. “O Porto de Santos continua sendo meu ganha-pão”, emenda.


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