Parque Valongo: área escolhida para projeto foi palco dos primeiros passos do Porto de Santos

Armazéns 1 ao 8 abrigaram principal atracadouro entre os séculos 16 e 19 e o início do porto organizado

Por: Bárbara Farias  -  21/05/23  -  21:54
Os armazéns 1 ao 8 abrigaram principal atracadouro entre os séculos 16 e 19
Os armazéns 1 ao 8 abrigaram principal atracadouro entre os séculos 16 e 19   Foto: Sílvio Luiz/AT

Em Santos, a relação Porto-Cidade remonta ao século 16, quando as primeiras instalações portuárias na região do lagamar de Enguaguaçu impulsionaram o crescimento do povoado. Em 1541, para dar mais segurança aos navios, Braz Cubas transferiu os atracadouros rudimentares e os trapiches da Ponta da Praia para o interior do estuário. Quase 500 anos depois, parte dessa área abrigará o Parque Valongo. E, em alguns anos, pode receber o Terminal de Passageiros, voltado aos cruzeiros marítimos.


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As obras do Parque Valongo começarão no segundo semestre. Na última segunda-feira (15), a Prefeitura de Santos e a empresa Cofco assinaram o Termo de Responsabilidade de Implantação de Medidas Mitigadoras e/ou Compensatórias (Trimmc). Garantiu-se o repasse de R$ 15 milhões pela arrendatária do STS11, no Porto de Santos, para a revitalização do Armazém 4 e a implantação de praça de cultura e lazer na área dos antigos armazéns 5 e 6, que não existem mais. A obra ficará a cargo da Cofco.


Em termos históricos, o local é considerado um dos mais importantes de Santos - que foi elevada à categoria de vila em 1546 - e também do Estado de São Paulo. O Porto Organizado de Santos, por exemplo, que veio a se tornar o maior da América Latina, foi inaugurado em 1892 pela Companhia Docas de Santos (CDS), criada dois anos antes, e teve como primeiro trecho construído de cais um espaço de 260 metros na região dos armazéns 1 ao 8.


“Esse local (armazéns 1 ao 8) foi escolhido por Braz Cubas, que estava na missão de Martim Afonso de Souza. Chega a ser difícil explicar como o lugar mais importante, a porta de entrada de São Paulo, ficou nesse estado”, lamenta o professor da Fundação Centro de Excelência Portuária de Santos (Cenep) Hélio Hallite.


“Aquele trecho foi o principal atracadouro, do século 16 ao século 19. Essa região concentra a história do café, toda nossa história. Nada justifica tantos anos de abandono. Se no século 19 nós começamos grandes obras (construção de 260 metros de cais, estrada de ferro Santos-Jundiaí e Usina de Itatinga), como no século 21 a gente ainda discute como revitalizar a área? O Parque Valongo será a grande obra da Cidade”.


O professor conta que as operações nos armazéns 1 ao 8 foram encerradas logo após o fim da concessão privada da CDS, em 1980, quando a gestão do Porto de Santos deixou de ser privada e foi devolvida à União, sendo constituída a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). “Na década de 1980, falava-se no prolongamento do cais com o financiamento japonês do Fundo Nakasone (US$ 574 milhões a serem investidos em uma espécie de shopping de serviços portuários). Mas não avançou”.


Hallite lembra que os armazéns 1 ao 8 serviam à navegação de cabotagem. “A gente tinha rotas regulares do Lloyd Brasileiro e da Netumar. Esses navios menores atracavam ali por causa da profundidade. Mas, essa área foi sendo esquecida com a construção de diversos terminais e a alavancagem do corredor de açúcar na área do Armazém XV e do corredor de exportação. Tudo isso ganhou importância e a região dos armazéns 1 ao 8 foi ficando de lado, assoreada por falta de dragagem”.


Contudo, a promessa das autoridades é de atenção total ao local. Também na segunda-feira, o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, disse ter pressa na transferência do Terminal de Passageiros Giusfredo Santini, hoje administrado pelo Concais em Outeirinhos, para a área dos armazéns 1, 2 e 3. “Ele está em um lugar inadequado. É uma obra que também dá para fazer dessa maneira (Trimmc). Precisamos da remodelação do espaço dos armazéns 1 ao 3”.


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