Logística: pilar do universo portuário e cada vez mais vital ao Porto de Santos

Entenda por que manter o complexo santista como principal conexão econômica do Brasil com o mundo exige planejamento

Por: Anderson Firmino  -  21/08/22  -  09:36
O papel da logística é tornar acessível um produto ao seu cliente: investimento constante em tecnologia e mão de obra
O papel da logística é tornar acessível um produto ao seu cliente: investimento constante em tecnologia e mão de obra   Foto: Carlos Nogueira/Arquivo/AT

No dicionário, logística é um substantivo feminino que significa organização, gerenciamento, gestão dos detalhes e pormenores de quaisquer atividades. Mas, para quem lida com o universo portuário, o conceito é mais amplo: um desafio frequente, visando elementos como competitividade, agilidade e produtividade. E fazer essa roda girar 24 horas por dia no Porto de Santos, maior da América Latina e responsável por uma parcela significativa da economia brasileira, exige um sentido absoluto de planejamento das empresas que atum no cais.


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“Podemos dividir a logística em três formas: a industrial, a comercial e a internacional. A que serve à indústria procura fazer o abastecimento de suprimentos, de matéria-prima para as fábricas. Uma vez o produto finalizado, entra em cena a logística comercial, que é a de distribuição física do produto. Há ainda a internacional, quando se pretende exportar ou importar um bem”, explica o professor doutor da Strong Business School - FGV, Renato Marcio dos Santos.


Ele lembra que o papel da logística é tornar acessível um produto ao seu cliente. “Quando a gente fala da logística portuária, é a que tem origem no rompimento de uma fronteira, ou seja, saindo de um país e indo para outro, pois nenhuma nação é completamente autossuficiente. E, por isso, precisa da importação de matérias-primas. Por isso, trata-se do principal meio para o produto caminhar pela cadeia produtiva”.


Tecnologia e planejamento

No caso das empresas do Porto de Santos, essa missão é exercida a todo momento por um exército de trabalhadores. Entender o que precisa ser feito é o primeiro passo para garantir a tão desejada eficiência, com maiores e melhores entregas e redução dos custos. Uma equação desafiadora em um complexo portuário que conta com mais de 50 terminais, dos mais variados tipos de cargas.


“Um eficiente sistema logístico exige amplo conhecimento sobre a cadeia de produção. A origem, o processamento e a finalização do produto são fundamentais em um sistema que funciona integrado ao negócio. Precisamos entender como fazemos o que vendemos para definir a melhor maneira de entregar esse produto ao cliente, o nosso principal objetivo”, resume o gerente geral de Logística e Operações da Eldorado Brasil Celulose, Flávio da Rocha Costa.


Dia a dia de um porto vai além da navegação e inclui várias atividades
Dia a dia de um porto vai além da navegação e inclui várias atividades   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Ele conta que, no caso da Eldorado, a partir do armazenamento, já é avaliada a destinação ao mercado interno e aos portos, com finalidade de exportação. “No auxílio de tudo isso, temos o emprego de uma gama importante de tecnologia, recursos, procedimentos e pessoas. Nossa torre de controle nos permite tomar decisões de maneira antecipada aos problemas, o que diminui custos e assegura o nível de eficiência almejado”.


Costa reforça a importância presença direta da tecnologia nas operações da empresa. “Ela está presente em todas as etapas de produção da celulose. Desde os tratores semiautônomos, no campo, até a própria torre de controle. Conseguimos contratar transportadores por meio de aplicativo de smartphone, identificar lacunas operacionais, quais navios estão atracados e o volume de celulose em transporte para os clientes, dentro e fora do Brasil”.


A força do ser humano

Para o professor doutor, que é especialista em logística portuária, a tecnologia no trabalho portuário tem espaço importante, mas nunca vai dispensar a presença do ser humano. “O computador não tem a capacidade de tomada de decisão que um ser humano tem. Ele se baseia em algoritmos, espécie de programação de decisão, mas que precisa ser melhorada com o tempo. Sempre vamos depender de pessoas para fazer essa tecnologia funcionar”.


Chegada e saída de cargas precisa ser organizada em nome da fluidez
Chegada e saída de cargas precisa ser organizada em nome da fluidez   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Mesmo com as empresas investindo cada vez mais em softwares e hardwares para incrementar o parque tecnológico, não é possível descuidar do capital humano. O conselho é do proprietário da Instituto de Capacitação Técnica Profissional (Incatep), João Gilberto Campos, que faz um alerta: essa capacitação não deve ser de responsabilidade exclusiva das companhias, mas também partir de investimentos pessoais dos profissionais.


“Não se pode esperar que a empresa pague pela capacitação. A pessoa tem que correr atrás. Esse é o segredo. O norte-americano enaltece o chamado self-made men, o cara que corre atrás por meios próprios. Antigamente, tinha empresa que pagava MBA, e hoje não é mais assim”, exemplifica, frisando que o profissional deve ter em mente que ele é parte de todo uma cadeia logística.


“Não basta somente ter uma visão do cargo que ela ocupa. A ideia, em qualquer ramo da logística, hoje, principalmente a portuária, é de que tenha uma espécie de 'trilha de conhecimento', um entendimento do processo como um todo. É nisso que ainda reside a maior dificuldade”, analisa Campos.


Ele explica que, na Incatep, as chamadas trilhas formativas ampliam os conhecimentos sobre as dinâmicas de trabalho portuário. Os treinamentos permitem o trabalho com diversos tipos de carga, como contêiner, granel, celulose e offshore.


Investir em pessoas

Flávio da Rocha Rocha, da Eldorado Brasil Celulose, reitera a preocupação com a capacitação dos trabalhadores, com ganho para eles e para a empresa. “Nossas pessoas são incentivadas e preparadas para conhecer todo o processo de produção da celulose. Dessa forma, os times entendem as necessidades e conseguem identificar melhorias que não seriam notadas se eles não se movimentassem internamente. O treinamento e a prática dessa filosofia nos garantem eficiência e o desenvolvimento dos profissionais”.


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