Gesner Oliveira: Integração vertical: condição para maior competitividade

Atualmente, a luta está se desenvolvendo cada vez mais no nível de cadeias logísticas

Por: Gesner Oliveira*  -  22/07/22  -  12:20
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

O setor de transporte marítimo está em constante mudança. No passado, os armadores e os portos costumavam competir uns com os outros. Atualmente, a luta competitiva está se desenvolvendo cada vez mais no nível de cadeias logísticas. Os players do mercado são selecionados com base em pertencer ou não a uma cadeia logística marítima de sucesso, não apenas por sua competitividade autônoma. Isso explica a busca por maior controle sobre as cadeias logísticas, seja em alianças verticais e horizontais ou fusões e aquisições.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Casos de integração vertical entre terminais e linhas marítimas são comuns. Na Alemanha, o Terminal do Mar do Norte Bremerhaven é vinculado à APM-Maersk e o Terminal Altenwerder, em Hamburgo, à Hapag-Lloyd. Na Espanha, existem diversos terminais integrados verticalmente, como os de Algeciras (APM-Maersk), Valência e Las Palmas (ambos da MSC). Também podemos citar o Terminal APM em Roterdã (Holanda), o Terminal APM Constanza (Romênia) e o porto israelense de Haifa (Shanghai International Port Group).


O processo de verticalização permite que a empresa ganhe uma vantagem de custo ao dominar mais de uma etapa do processo de entrega de valor. No setor portuário, se uma companhia é uma transportadora e tem navios que transportam pedidos de clientes, pode ganhar escala ao adquirir um terminal de contêineres, por exemplo, pois conseguirá ter um custo menor no momento de desembarque de mercadorias, diminuindo essa diferença no preço do serviço oferecido para o cliente.


E isso não significa que ela só operará cargas próprias. Como toda empresa quer lucrar, logo ela atenderá cargas de terceiros, assim como suas embarcações vinculadas poderão ou não utilizar os terminais próprios. Tudo é questão de preço e capacidade disponível!


A integração vertical não é uma particularidade do setor de contêineres. Na mineração, por exemplo, tal comportamento também é comum. É possível citar os portos de Ust-Luga (Rússia), Beira (Moçambique), Tubarão e Itaqui (ambos no Brasil). Outro setor bastante integrado verticalmente é o agrícola, no qual os players detêm tanto os terminais portuários quanto as embarcações e, muitas vezes, até a própria produção. Podemos citar Cargill, Bunge e Hidrovias do Brasil em Miritituba, o Grupo Amaggi em Porto Velho e vários outros.


No setor de transporte, a integração vertical deve ser reconhecida por suas eficiências, como a redução de custos operacionais devido à expansão da cadeia logística, uma maior cobertura de mercado, criação de economias de escala e de escopo e maior valor agregado ao produto, entre outros. A integração permite uma melhora da relação entre fornecedores, na qualidade geral de serviços prestados e dos produtos, maior controle nos prazos de entrega e outros. Ou seja, algo que já é mensurável em diversos setores.


Estratégias de expansão para dentro ou fora da cadeia logística são parte integrante do processo logístico no Brasil e em outros países. O foco em eficiência é essencial para nosso País ganhar competitividade. A retomada do crescimento da economia brasileira depende deste foco no consumidor final.


*Gesner Oliveira é economista, professor e coordenador do Centro de Infraestrutura e Soluções Ambientais da FGV


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter