Gesner Oliveira: Economia do Brasil não está imune à pandemia na China

As medidas de restrição à mobilidade cederam no Brasil

Por: Gesner Oliveira  -  06/05/22  -  14:03
  Foto: Ilustração: Max

Se a pandemia afeta menos a rotina no Brasil, a economia ainda não está vacinada contra os efeitos da covid-19. Some-se a isso a Guerra da Ucrânia, a instabilidade política brasileira e a disparada da inflação e das taxas de juros ao redor do mundo e entende-se o tamanho do desafio.


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As medidas de restrição à mobilidade cederam no Brasil. Atualmente, poucas cidades mantêm a obrigação de uso de máscara e mesmo assim em locais específicos. Embora, no País, se discuta o fim da pandemia do ponto de vista sanitário, com o avanço da vacinação que reduziu o número de casos graves e óbitos e fez a média móvel de mortes ficar abaixo de 100 nos últimos dias, para a economia a pandemia ainda não acabou.


Em contraste, na China, o governo local mantém uma política de tolerância zero com a covid-19, colocando em lockdown cidades inteiras por semanas. O caso mais emblemático é o de Xangai, município chinês com aproximadamente 25 milhões de habitantes e sede do maior porto do mundo, que está em lockdown por três semanas.


O impacto de um revés na economia chinesa será grande para o mundo todo. No Brasil, alguns setores continuam sofrendo com a falta de matéria-prima, como o segmento automobilístico, que tem dificuldade em adquirir semicondutores e outros produtos chineses.


Além disso, a economia brasileira pode ter dificuldades em escoar sua produção para o seu principal mercado. Entre janeiro e março de 2022, o Brasil exportou US$ 19,8 bilhões para a China, ou 27,4% de todas as exportações brasileiras. Por sua vez, importou da China US$ 14,7 bilhões no mesmo período, ou 24,3% de tudo que o Brasil compra no exterior.


O aumento da incerteza só eleva o risco. No caso desta incerteza sobre o funcionamento dos portos chineses, o impacto sobre o preço do frete de transporte marítimo deve ser grande.


O Brasil não pode baixar a guarda. Para não ser dragado pela tempestade da economia mundial, é hora de construir uma visão de longo prazo, na qual a infraestrutura e os portos em particular têm um papel central.


*Gesner Oliveira é Economista, professor e coordenador do Centro de Infraestrutura e Soluções Ambientais da FGV


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