Gargalos no acesso ao Porto de Santos preocupam empresários e acendem sinal amarelo

Em encontro, entidades e dirigentes pediram soluções rápidas para problemas antigos

Por: Anderson Firmino  -  16/06/23  -  07:34
Aumento da produção a ser escoada por Santos expõe problemas da logística portuária
Aumento da produção a ser escoada por Santos expõe problemas da logística portuária   Foto: Carlos Nogueira/AT/Arquivo

Os gargalos no acesso ao Porto de Santos acenderam um sinal amarelo na cadeia logística, com especial atenção à região da Alemoa. Com a perspectiva de aumento nas safras no segundo semestre, ou ações efetivas acontecem logo ou o risco de perda de cargas no complexo santista, o maior do País, pode se tornar real. Esse foi um dos alertas deixados durante encontro que reuniu autoridades, empresários e outros representantes do setor portuário, nesta quinta-feira (15), na Associação Comercial de Santos (ACS).


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Diretor de assuntos corporativos da Brasil Terminal Portuário (BTP), Joel Contente argumentou que o grande gargalo na entrada e saída do Porto está na Margem Direita do cais, em Santos. “Entendemos que, do terminal para dentro, funcionamos bem. Mas, hoje, o Porto de Santos precisa de capacidade. Quando tem um caminhão que entra ali, temos por meta fazer o giro em 60 minutos”.


Ele conta que, nos últimos tempos, a empresa foi procurada por exportadores preocupados com os gargalos santistas. “A carga pode ir para outro lugar. Temos que acelerar as soluções. O exportador não tem muita paciência”.


Quem também apontou dificuldades foi a secretária executiva da Associação dos Exportadores de Açúcar e Álcool (Aexa), Ângela Quintanilha. “O açúcar, lá atrás, costumava ter um período de safra específico. Mas, há alguns anos, passou a ocorrer o ano inteiro, com embarques a granel, ensacado, em contêiner... E os problemas são diários. Santos é um coração prestes a infartar. As artérias estão entupidas e os stents não dão mais conta”.


Encontro nesta quinta-feira na ACS reuniu autoridades e empresários ligados ao Porto
Encontro nesta quinta-feira na ACS reuniu autoridades e empresários ligados ao Porto   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Ela diz já ter ouvido queixas de armadores e outros atores do setor portuário. “Não falo só de açúcar, mas os outros produtos que concorrem na exportação e na importação. É mais que necessária uma medida mais efetiva, rápida”.


Soluções

O secretário de Assuntos Portuários e Emprego de Santos, Bruno Orlandi, entende que a evolução do Porto passa por trazer mais cargas, com uma logística compatível. “Para que a gente possa fazer isso, primeiro passo é ter uma infraestrutura logística compatível. Ninguém vai trazer mais carga se a gente não tiver condição estrutural de fazer entrega”.


Ele acredita que algumas ações podem ser feitas no curto e médio prazos para melhorar as condições para quem transporta cargas pela Alemoa: aumento no número de agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Santos), bem como incremento no número de policiais na região.


“Essa ajuda para que o trânsito possa fluir um pouco melhor e, eventualmente, coibir algumas práticas que prejudicam o sistema viário, bem como aumento de policiamento no local, têm impacto direto na chegada da carga”, reforça Orlandi.


O superintendente de Engenharia da Autoridade Portuária de Santos (APS), Orlando Razões, afirma que a obra realizada atualmente na região da Alemoa, que enfrentou problemas com licenciamentos e liberações, deve ter liberação de fluxo em 60 dias.


“Teremos a liberação de, pelo menos, três faixas de rolamento de entrada e três de saída. Mas precisamos de um segundo acesso ao Porto. Só a Alemoa está insuficiente. E, felizmente, essas obras estão endereçadas na futura Fips (Ferrovia Interna do Porto de Santos)”.


Se, no viário urbano, as soluções logísticas para o Porto de Santos e que também impactam a Cidade estão na pauta do dia, o sonho de uma nova ligação entre Planalto e Baixada Santista, embora distante na execução, já domina as intenções e os pedidos dos envolvidos nas questões portuárias.


“É um pleito da maior importância. Estamos falando de uma via necessária há mais de uma década. O aumento de carga nos últimos anos tem impactado demais o sistema viário e, obviamente, a chegada da carga no Porto. Temos apenas a Via Anchieta para descida de cargas”, resume o secretário de Assuntos Portuários e Emprego de Santos, Bruno Orlandi.


Os congestionamentos na descida da Serra, por conta do tráfego de caminhões, têm impacto nas operações da Polícia Rodoviária, por exemplo. A situação foi exposta pelo coordenador operacional do 1º Batalhão da Polícia Militar Rodoviária, major Milton Yuki. “Toda vez que ocorre um congestionamento, sobretudo nos pátios reguladores, mobilizamos, no mínimo, cinco viaturas. Não nos furtamos à nossa missão, mas o plano é de contingência, atuamos na exceção”.


Gerente de Operações da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), coronel Ailton Araújo Brandão, acrescenta que os pátios reguladores e sistemas de agendamento funcionam bem, desde que não haja problema em nenhum terminal portuário. “Quando isso acontece, afeta diretamente o Sistema Anchieta-Imigrantes. Monitoramos por meio de imagens e do contador de tráfego. Assim que fica muito pesado, a gente começa a tomar providências”.


Da discussão à prática


Rose Fassina, coordenadora da Câmara de Transportes da ACS, destaca a importância da discussão sobre logística portuária envolver diversos setores. “Quanto mais a Baixada Santista precisa se desenvolver, mais o assunto fica crítico, porque a demanda não foi resolvida”.


Já o diretor-executivo do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp), Ricardo Molitzas, espera que as ações concretas se sobreponham às discussões. “A gente precisa achar soluções para os problemas que, de certa forma, interferem na operação do Porto e nas cidades como um todo”, sentencia.


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