Frete marítimo está em alta até 2022

Aumento no valor do transporte de cargas deve se agravar nos próximos meses, alertam especialista e agente de navegação

Por: Fernanda Balbino  -  29/08/21  -  12:31
 Operação de contêiner no Porto de Santos: preço cobrado por armadores para levar uma mercadoria da região até o Porto de Xangai, o principal da China, quintuplicou no último ano devido à pandemia e seus efeitos
Operação de contêiner no Porto de Santos: preço cobrado por armadores para levar uma mercadoria da região até o Porto de Xangai, o principal da China, quintuplicou no último ano devido à pandemia e seus efeitos   Foto: Matheus Tagé/AT

Desde o início da pandemia de covid-19, no ano passado, o frete marítimo sofreu reajustes que, em algumas rotas, quintuplicaram o seu valor. É o caso do transporte de um contêiner do Porto de Xangai, na China, até o Porto de Santos, que custava US$ 2 mil e já atingiu US$ 10 mil. O problema, tende a se agravar nos próximos meses, com ainda mais aumento de custos. E não há uma perspectiva de baixa nos preços e de regularidade nos serviços de transporte de mercadorias.


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“No primeiro semestre de 2020, houve um cancelamento generalizado de bookings e encomendas. As empresas de navegação tiraram capacidade pra não ter prejuízo e houve um acúmulo de cargas. Quando a demanda global começou a acentuar, o mercado tinha que dar conta do volume que usualmente transporta e toda a carga acumulada”, afirmou o especialista em Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Matheus de Castro.


Em paralelo, o executivo aponta a retomada da economia e do poder de consumo, diante das medidas de estímulo adotadas pelos governos. Somado a isso, ainda foram registrados problemas, como o encalhe de seis dias que interrompeu o tráfego no Canal de Suez, no Egito, e o recente fechamento do Porto de Ningbo-Zhoushan, o terceiro maior do mundo em movimentação de contêineres.


Segundo Castro, esses fatores causaram “a tempestade perfeita”. Ele aponta que o problema é maior em rotas extensas, como é o caso das que servem ao Brasil. Além disso, também há a questão da oferta e da procura. “Desde julho, a demanda dos Estados Unidos é tão elevada que, hoje, o preço médio de frete Xangai para a Costa Leste da América do Norte já está até mais elevado”.


Colapso

Para o diretor-executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), José Roque, essa turbulência deve avançar até o próximo ano, com os preços dos fretes maiores e com frequentes atrasos nas chegadas dos navios. Hoje, segundo ele, nem todos os navios estão chegando dentro da janela de atracação.


“Armadores que tinham 52 escalas ao mês tiveram redução substancial e, se você tinha cinco navios por semana escalando Santos, essa quantidade foi reduzida em um ou dois navios, que deixam de aportar aqui. As consequências são o desbalanceamento do equipamento, a rolagem de carga, atrasos nas entregas aos compradores, entre outras, provocando um colapso”, afirmou Roque.


De acordo com o executivo do Sindamar, esse aumento pela procura do transporte marítimo está gerando, além do congestionamento nos terminais, escassez de contêineres e falta espaço nos navios, com os transportadores tentando equilibrar a logística trazendo contentores do exterior.


“As rotas transpacíficas atraíram maior quantidade de tonelagem extra nos últimos meses nos tráfegos Ásia e Estados Unidos, com aumento na capacidade de embarque em torno de 35%. E nas rotas comerciais com a Europa, atingiu um aumento de 21%”, afirmou Roque.


A paralisação parcial, até o momento, do Porto de Ningbo-Zhoushan aumenta ainda mais os desafios enfrentados na cadeia logística mundial. “Há a questão dos terminais estarem enfrentando dificuldades de lidar com o aumento de volume, principalmente devido à restrição de mão de obra motivada pelos períodos de quarentena impostos pelas autoridades sanitárias de diversos países, em decorrência da pandemia”, explicou o diretor-executivo do Sindamar.


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