Falta de mão de obra e capacitação atrapalha o setor portuário

Dificuldade para o serviço de cabotagem também foi tema, nesta quarta (8), do Encontro Porto & Mar

Por: Ted Sartori  -  09/05/24  -  16:40
Atualizado em 13/05/24 - 18:10
  Foto: Matheus Tagé/ AT

A falta de mão de obra e a capacitação dos marítimos foram alguns dos temas debatidos por especialistas ligados ao setor portuário, em sua maioria colunistas de A Tribuna, com os integrantes do painel envolvendo cabotagem, dentro do Encontro Porto & Mar. O evento foi promovido pelo Grupo Tribuna e realizado, ontem, no auditório da Receita Federal, em Santos.


O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac), Luís Resano, revelou que um estudo encomendado à Fundação Vanzolini mostrou que a falta de mão de obra de marítimos até 2030 pode variar de 4 mil a 10 mil. “Infelizmente, a Marinha trabalhou por anos com a teoria do pleno emprego, o que gerou esse déficit. Não vamos formar esses marítimos em tempo. Precisamos de ação por parte da Marinha”, sentencia.


Secretário nacional de Hidrovias e Navegação, Dino Batista chama a atenção para a certificação exigida pela Marinha, que precisaria ser revista. “Uma coisa é formar um comandante lato sensu e outra é formar um comandante de um petroleiro. O mercado é muito mais dinâmico. Tem que aprofundar com a Marinha não só a formação dos marítimos, mas a continuidade da carreira deles”.


Resano também comentou que a indústria naval brasileira é inexistente para atender à cabotagem. “Todo mundo quer vender tecnologia, parece que é como vender espelhinho. Infelizmente, nos colocamos nessa posição. Falo isso com tristeza. Da arrecadação do adicional de frete, 3% vão para o Fundo de Ciência e Tecnologia, para um comitê que desenvolve tecnologia da área aquaviária. Sabe quanto tem sido gasto? Nada. Temos recursos, podemos investir, mas precisamos que sejam mais efetivos”, emenda o diretor-executivo da Abac.


Energia, carga e hidrovias
A busca por energias renováveis, tanto nas embarcações quanto nos portos, foi abordada pelo secretário nacional de Hidrovias e Navegação, Dino Batista.


“Estamos neste grande debate internacional para viabilizar nossas teses que envolvem o etanol e diversas outras coisas, com discussões de geopolítica e geoeconomia envolvidas. Nem todo mundo está preocupado com meio ambiente e descarbonização, mas para vender tecnologia”, afirma.


Vice-presidente da Log-In Logística Intermodal, Marcos Voloch, ainda vê como algo possível o compartilhamento de cargas por navios, embora, ao mesmo tempo, utópico.


“Por mais que esteja sendo condenado no Cade ou em demais autoridades de competição ao redor do mundo, os VSAs (vessel sharing agreement) estão cada vez mais sendo impossibilitados. Agora, do ponto de vista operacional, é uma ferramenta sensacional. Seria um compartilhamento do pool de navios. Seria uma solução interessante, por mais utópica que seja”.


As hidrovias também não foram esquecidas no debate. “Queremos a infraestrutura. Se vierem os custos adicionais, que eles sejam para isso. O usuário da cabotagem quer pontualidade, confiabilidade e segurança na carga”, lembra Resano. “Um dos grandes projetos que estamos tocando é o de concessões hidroviárias. Vai ser um divisor de águas, com o perdão do trocadilho, para perenizar todas as atividades necessárias para transformar um rio navegável em uma hidrovia”, emenda Batista.


Sucesso
Consultor para assuntos portuários do Grupo Tribuna e mediador do encontro, Maxwell Rodrigues valorizou o alto nível dos debates. “Um evento como esse consegue proporcionar, mais uma vez de forma muito assertiva pelo Grupo Tribuna, um debate riquíssimo, de uma maneira extremamente técnica”.


O diretor Comercial do Grupo Tribuna, Demetrio Amono, destacou a vanguarda do Grupo Tribuna na discussão de temas, como no evento de ontem: a cabotagem e a descarbonização. “Não poderia ser mais oportuno trazer essas agendas e mergulhar nesses dois assuntos atuais”, comenta.


Investimentos
O secretário nacional de Hidrovias e Navegação, Dino Batista, espera que o apetite de investimentos da iniciativa privada siga firme na cabotagem. É a resposta à pergunta que deu título à palestra dele no Encontro Porto & Mar: A Cabotagem - O que o Governo Espera do Mercado?


“Vamos finalizar a regulamentação da BR do Mar e, com ela, o mercado vai ter todas as condições de fazer as suas contas e avaliar os diversos modelos de negócio possíveis na cabotagem. Não temos dúvida nenhuma de que a cabotagem brasileira faz sentido não só para o País, mas enquanto negócio. O que a gente espera realmente da iniciativa privada é que eles façam as contas e invistam no Brasil”, afirma.


Batista deixou claro que a cabotagem brasileira tem de ser feita por brasileiros, independentemente da bandeira da embarcação. "Mitigar as influências internacionais na cabotagem vai acontecer quando cada vez mais essa navegação for brasileira, feita por brasileiros. Na de contêineres isso já é feito e, talvez, seja um dos motivos de termos estabilidade de preços e de operações, algo que não acontece em outros segmentos da cabotagem”, justifica.


O secretário também valorizou o Encontro Porto & Mar como momento de se ouvir e de se trocar ideias. “É fundamental que tenhamos essa porta de contato, para termos condições de aperfeiçoar a política pública em Brasília e tomarmos as decisões corretas”.


Descarbonização
A diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética, Rosana Santos, acredita que o Porto de Santos e o estado de São Paulo possam liderar uma cadeia de descarbonização.


“O Porto de Santos é o maior do País e do Hemisfério Sul, São Paulo é um estado extremamente industrial e tem que liderar essa neoindustrialização verde. O estado de São Paulo tem muitos resíduos e pode fazer biometano (combustível renovável derivado do biogás), além de poder ter acesso a uma matriz elétrica bastante limpa. Ou seja, o estado de São Paulo tem tudo para liderar e o Porto de Santos está no estado de São Paulo”, argumenta.


O título da palestra de Rosana, realizada durante o Encontro Porto & Mar (O Brasil, a Descarbonização e as Portas para a Transição Global) não foi gratuito. Portas remetem a portos. “Parte da cadeia produtiva vai migrar para perto dos portos ou a matéria-prima ou o produto vai passar pelos portos. O Porto é aonde tudo vai acontecer”, afirma.


Além das mudanças de frota, de transporte, de segurança causadas pela descarbonização, a diretora-executiva também citou a estrutura das ZPEs (Zonas de Processamento de Exportações), uma das ideias econômicas para a Baixada Santista, como um ponto de união em prol desse objetivo.


“Um conjunto de indústrias que utilizem uma mesma matriz energética - por exemplo, o biometano - ajuda para construir a infraestrutura. E é em torno dos portos que essa infraestrutura vai se desenvolver”.


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