Crise hídrica pode afetar transporte de cargas até o Porto de Santos

Motivo é a redução das operações da Hidrovia Tietê-Paraná, por onde passam grãos em direção ao cais santista

Por: Fernanda Balbino  -  19/06/21  -  15:22
    Transporte de cargas para o Porto de Santos poderá ser afetado
Transporte de cargas para o Porto de Santos poderá ser afetado   Foto: Foto: Alexsander Ferraz/AT

A movimentação de cargas na Hidrovia Tietê-Paraná poderá ser prejudicada a partir dos próximos dias. O motivo é a crise hídrica, que forçará a redução nas operações, o que deve afetar diretamente a logística de cargas em direção ao Porto de Santos. Agora, o setor teme impactos e se prepara para um aumento da utilização de caminhões para o escoamento da produção agrícola.


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A Hidrovia Tietê-Paraná atende regiões de Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Sua extensão navegável chega a 2,4 mil quilômetros. Destes, apenas 800 quilômetros estão na área paulista, a mais industrializada e desenvolvida do País e que abriga o maior porto da América do Sul.


Grande parte das cargas que vêm para Santos é embarcada em São Simão (GO) e desembarcada em Pederneiras (SP). Desse ponto, seguem de trem até o complexo santista.


Mas, de acordo com o presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, dois cenários são apresentados para conter a crise. A paralisação da via ou a redução do calado dos navios que navegam na hidrovia, o que reduz a capacidade de transporte.


No primeiro caso, haveria um ganho de 1,6% da energia armazenada. Já na segunda opção, 0,5%. Há ainda outras medidas apontadas pelo ONS como as restrições da vazão das usinas hidrelétricas de Jupiá e Porto Primavera.


“Se não adotarmos essas ações chegaremos em 2022 em uma condição muito frágil para atender a necessidade de energia daquele ano”, afirmou o executivo durante audiência pública promovida pela Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.


O Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo (DH) recebeu um alerta do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) informando que a hidrovia Tietê-Paraná poderá ser paralisada. Em seguida, iniciou estudos com a Agência Nacional de Águas (ANA) para uma redução gradativa de calados no rio Tietê e, assim, evitar a paralisação, permitindo o escoamento dos grãos.


Atualmente, a Tietê-Paraná recebe 24 embarcações por dia e registrou alta de mais de 90% na movimentação de cargas no primeiro trimestre. Foram 416 mil toneladas de cargas movimentadas ante a 216 mil no mesmo período de 2020.


“Sobre a crise do setor elétrico, o problema afeta diretamente o transporte da produção agrícola do Brasil. É por isto que a Secretaria de Logística e Transportes entende que é importantíssimo mudar a matriz energética do País para diminuir a dependência das hidroelétricas. A Secretaria acredita que tem faltado uma ação mais firme de planejamento para atenuar o problema, que é recorrente e vem se agravando em períodos mais recentes”, destacou a pasta estadual, em nota.


Logística


De acordo com o Ministério da Infraestrutura, a gestão do uso múltiplo das águas é uma competência da ANA, que deve deliberar sobre a redução de quotas em reservatórios, o que pode ter efeitos em hidrovias.


“Não há qualquer deliberação neste sentido, até o momento. Porém, caso ocorra algum impacto no transporte hidroviário, este poderá ser substituído por outros modos de transporte para o escoamento da safra via Porto de Santos, em especial o rodoviário, o que traz impactos para o custo logístico e para toda a sociedade”, destacou a pasta de Infraestrutura, em nota.


Especialistas preveem impactos


Especialistas em logística, o transporte hidroviário é mais limpo, eficiente e tem os menores custos operacionais na comparação com os outros. Portanto, caso a Tietê-Paraná realmente sofra a interdição prevista, serão grandes os impactos logísticos no escoamento de cargas em direção ao Porto de Santos.


Uma barcaça é capaz de transportar até 1,3 mil toneladas de mercadorias. Para atingir esse volume seriam necessários 25 caminhões.


De acordo com o economista Helio Hallite, especialista em comércio exterior, já é esperado um aumento da demanda de caminhões e, isso acontece em um momento em que os caminhoneiros reivindicam uma pauta antiga e ameaça com paralisação: reajustes das tabelas de fretes e controle do preço dos combustíveis.


“Teremos tempestades pela frente. Havendo greve do modal rodoviário, interrupção da hidrovia e a impossibilidade do modal ferroviário absorver 100% dos transportes de grãos, seguramente os impactos serão prejudiciais às operações de embarque”, destacou o professor universitário.


Hallite ainda destaca as consequências dos problemas logísticos. “O modal ferroviário ainda depende da hidrovia. Teremos aumento dos custos logísticos, é possível a repetição dos antigos problemas com estacionamento e congestionamentos de caminhões”.


O Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp) está acompanhando todos os detalhes sobre a crise hídrica que o país enfrenta, com possíveis impactos logísticos e operacionais nos portos da Baixada Santista. “Porém, considera prematuro uma análise conclusiva, já que as propostas e ações estão ainda sendo discutidas a nível federal e estadual”.


Procurada, a Autoridade Portuária de Santos (APS) informou que a Hidrovia Tietê- Paraná é uma importante via para transporte de cargas que chegam cais santista. Porém, apontou que, “de forma direta, tem reduzida ação sobre questão, já que o problema deriva basicamente da suscetibilidade das condições climáticas”.


A estatal ainda destacou que “mantém investimentos nos acessos e vigilância nos sistemas de agendamento de caminhões de forma a manter a fluidez das vias de acesso ao Porto”.


Ferrovia


A MRS também acompanha a questão com bastante preocupação, principalmente quando se coloca o rebaixamento do Rio Tietê a níveis que não permitem a navegação dos comboios de carga como uma das soluções para a crise energética. “Já passamos por isso na crise hídrica de 2014 e 2015 e juntamente com as empresas de navegação e os clientes amargamos muitos prejuízos”, destacou a empresa, em nota.


Para a concessionária ferroviária, uma possível paralisação da operação neste trecho é capaz de minar a confiança do investidor neste corredor logístico. Assim, espera que sejam encontradas alternativas que não sacrifiquem o modal.


“Outro ponto a ser observado é a necessidade da retomada de obras estruturantes para a citada hidrovia, principalmente o derrocamento do Canal de Nova Avanhandava, que permitirá, no futuro, a navegação em uma cota menor do que a atualmente necessária, reduzindo o risco de novas interrupções”.


Uma possível paralisação da operação neste trecho prejudicaria não apenas a MRS e nossos clientes, mas acabaria minando a confiança do investidor neste corredor logístico.


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