Consultor fala sobre o panorama de investimentos no ecossistema portuário
Juan Duarte é especialista global em crescimento estratégico e financiamento de obras portuárias
Atualizado em 29/08/22 - 11:17
O consultor global Juan Duarte, que participará do XXX Congresso Latino-Americano de Portos, promovido pela AAPA Latino e com patrocínio do Grupo Tribuna, entre os dias 28 e 30 de novembro, em Santos, mostra lucidez sobre o panorama de investimentos no ecossistema portuário do continente.
Ele descarta a falta de dinheiro para investimentos, mas avisa: o lema é menor apetite pelo risco e maior rigor na seleção de projetos. Em entrevista para A Tribuna, Duarte destaca o peso das inovações na atração de investidores. Adiante, leia trechos da conversa.
No que consiste o financiamento inteligente na área portuária?
O financiamento inteligente é o conjunto de medidas e ações, tanto operacionais quanto financeiras, em curto, médio e longo prazos, para garantir a saúde financeira de empresas, o fluxo de caixa para operações e o capital necessário para o plano de crescimento. No entanto, o conceito nos portos está relacionado à capacidade de produzir dinheiro em nossas empresas de forma inteligente, rentável e consistente.
Pensando num cenário pós-pandemia e conflitos como Rússia vs. Ucrânia, qual o segredo para atrair investidores não especulativos?
O setor portuário caracteriza-se pela ausência de investidores especulativos, já que os projetos são, geralmente, de longo prazo. No entanto, não é verdade que não há dinheiro disponível. O que acontece é que o dinheiro disponível tem menos apetite ao risco e é mais rigoroso na seleção dos projetos que deseja financiar.
De que forma devem ser realizados o planejamento, a medição e o monitoramento das oportunidades de investimento?
O planejamento é um elemento fundamental nestes tempos de incerteza. Portanto, é necessário priorizar ações que gerem maior valor para clientes, maior valor para os colaboradores, nosso principal ativo, e, principalmente, tenham um índice de rentabilidade maior, que nos permita gerar um fluxo de caixa mais saudável. A medição do investimento deve ser acompanhada por uma equipe de gerenciamento do projeto que o monitore periodicamente para garantir sua realização.
Qual o peso das inovações tecnológicas ao determinar o tipo de investimento inteligente a ser feito?
Os investimentos em tecnologia são muito importantes, mas, ao mesmo tempo, é preciso ter muito cuidado. Estes podem ser investimentos simples, que permitam automatizar e/ou otimizar um processo interno; ou um grande investimento com um efeito central sobre o núcleo de um negócio, o que vai requerer mais planejamento. O efeito que estes investimentos têm sobre a rentabilidade e o risco de recorrência dos rendimentos determinarão o peso dado aos investimentos em tecnologia.
Como driblar a burocracia, visando a viabilizar investimentos e não afugentar potenciais investidores?
Este tipo de análise é parte dos riscos que precisamos avaliar. Se o observarmos da parte das administrações portuárias públicas, uma estrutura de governança corporativa forte é essencial para proporcionar segurança aos investimentos de longo prazo e reduzir a exposição às mudanças políticas. Se o considerarmos a partir do setor privado, o risco regulatório ainda estará latente. Portanto, devemos priorizar aqueles investimentos que maximizam a rentabilidade durante o período de nossa concessão ou o período do plano estratégico e aqueles que, sem negligenciar a rentabilidade, geram maior valor para nossos clientes e nos permitem cumprir a regulamentação existente e as exigências do mercado. Isto, às vezes, requer muita criatividade de nossa equipe.
O que deve ser feito pelo setor privado e, especialmente, pelo setor público, nesse aspecto?
No setor público, uma forte governança corporativa, com políticas, regras e órgãos de controle claros, e um planejamento de longo prazo com revisões periódicas, para atingir de forma otimizada o que o mercado internacional está exigindo. E, sem dúvida, um pouco de sorte para resistir às mudanças políticas. No setor privado, uma avaliação, estruturação, execução, medição e gestão de projetos muito rigorosa de todos os nossos indicadores operacionais e financeiros.
Como você acredita que as práticas de sustentabilidade e ESG, especialmente no setor portuário, podem atrair investidores inteligentes?
O setor portuário é muito ativo nas práticas de sustentabilidade. Os bancos e as instituições financeiras exigem isso em nossa avaliação como consultores quando vão conceder financiamento. Quanto maior o volume do financiamento, mais rigorosa será a avaliação do componente ESG.
O que deve ter um projeto que agregue valor aos clientes e também aos colaboradores, e seja atrativo para quem deseja investir?
O que percebemos, em geral, é que as empresas tradicionais estão acostumadas a servir os seus clientes da maneira como têm feito durante muitos anos: sem inovações e se preocupar em ouvir mais ativamente seus clientes e o mercado. Quando começam a fazer isso, percebem que alguns de seus serviços não agregam tanto valor, não são tão lucrativos quanto pensavam e, pelo contrário, geram uma carga de trabalho significativa. O mesmo acontece com funcionários. Eles exigem treinamento, uma gerência que os escute e se interesse em obter o melhor de cada membro e trabalho em equipe.
Como gerar lucros, diminuindo custos e garantindo eficiência no setor portuário? Do ponto de vista de investimentos inteligentes, o que é preciso para viabilizar esse ganho de competitividade?
A chave para isso é não ficar na zona de conforto, mas monitorar e avaliar continuamente o que fazemos com nossos serviços. Operações eficientes e seguras devem ser uma obsessão para todos no setor.
Formação e capital humano: em que este tipo de característica pode ser revertido em potenciais investimentos?
Uma equipe profissional, orientada e bem treinada aumenta consideravelmente o valor de nossas empresas. Eles facilitam a estruturação, a execução, a medição e a tomada de decisões em nossos projetos. A ordem contribui para o crescimento estratégico.
Por fim, qual a expectativa para o AAPA Latino, especialmente em Santos, que tem um porto importante e que busca a melhoria na relação com a Cidade?
O AAPA Latino é, sem dúvida, o principal evento portuário do continente ano após ano. O fato de ser realizado em um porto tão icônico e importante para a indústria portuária nacional e internacional como Santos, em um País espetacular como o Brasil, significa que esta edição especial do 30º aniversário do evento escolheu a melhor sede para a comemoração. Tenho certeza de que nos sentiremos em casa.
