Tripulantes brasileiros do transatlântico MSC Seaview reclamam das restrições impostas em razão do surto de sarampo a bordo. Funcionários dizem que houve excessos no isolamento, privilégio no tratamento a estrangeiros e proibição de desembarque para toda a tripulação, incluindo quem é vacinado e não apresentou sintomas.
O surto no navio, o maior desta temporada de cruzeiros, com capacidade para 5,3 mil passageiros, começou durante a viagem de sete noites iniciada no dia 9. Primeiro, a suspeita era de rubéola, mas, depois, exames confirmaram tratar-se de sarampo.
Na última quarta-feira (20), na passagem do MSC Seaview pelo Porto de Santos, 8,2 mil passageiros que embarcaram e desembarcaram do transatlântico tiveram de ser vacinados contra a doença. Houve novas rodadas de imunização em massa no sábado e na terça-feira (26).
Tripulantes com sarampo ficaram isolados nas cabines. Um deles contou a A Tribuna, sob condição de anonimato, que teve febre, manchas vermelhas pelo corpo e dor muscular.
O homem afirmou que, em dez dias de isolamento, a equipe do navio só trocou a roupa de cama e as toalhas da cabine uma vez e que nem ele nem parentes tiveram informações sobre sua doença. Só depois de questionar uma enfermeira confirmou que a doença disseminada pelo navio era sarampo.
O tripulante reclamou que não teve acesso aos laudos atestando o sarampo, não sabe quais medicamentos tomou quando esteve no centro médico e não recebeu mais remédios nos dias seguintes.
O rapaz relatou que dois trabalhadores europeus saíram do navio para ser atendidos em hospitais, enquanto os brasileiros ficaram confinados. “Estou sem ver a luz do dia. Me sinto como se estivesse preso, porque só vem comida e a gente não pode sair da cabine, que é minúscula e dividimos com alguém”.
Proibição
Outra tripulante, que também pediu para não ter o nome divulgado, contou que nenhum funcionário pôde descer nas cidades em que o MSC Seaview atracou nas últimas viagens. Mesmo os com vacina em dia e sem sintomas da doença não deixaram o navio.
Apenas na terça-feira (26), os trabalhadores sem sarampo passaram a ser liberados, depois de um período em que, como dizem, se sentiram em cárcere privado.
Resposta
Por meio de nota, a MSC declarou que, com base em diretrizes de saúde, “os membros da tripulação afetados foram imediatamente mantidos em observação e isolamento, recebendo visitas diárias de nossa equipe médica”.
A MSC sustentou que houve higienização das cabines duas vezes ao dia, o que o tripulante entrevistado por A Tribuna nega: de acordo com ele, em dez dias, só ocorreram quatro limpezas no quarto dele.
Conforme a empresa, autoridades de saúde exigiram que todos os membros da tripulação continuassem no navio “como medida de precaução após a vacinação” nos últimos sete dias. A MSC não explicou, contudo, por que os passageiros puderam sair.
“Entendemos que alguns membros da tripulação podem estar insatisfeitos em permanecer a bordo. No entanto, a nossa primeira preocupação agora é cooperar plenamente com as autoridades de saúde”, cita.
Entretanto, o coordenador de Saúde do Viajante da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Marcelo Felga, disse à Reportagem que o órgão não proibiu o desembarque dos tripulantes.