Rodrigo Zanethi: O novo diretor-geral da OMC e seus desafios

Dentre os assuntos pouco debatidos, mas importantes para a economia e o comércio mundial, está a eleição do novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio

Por: Rodrigo Zanethi  -  27/08/20  -  01:01

Hoje, não há dúvidas de que a covid-19 é a principal notícia em todos os meios de comunicação de massa. Suas consequências sociais, econômicas, ambientais e políticas demonstram a necessidade de o homem refletir e, dentro de sua capacidade de adaptação, buscar as melhores práticas e soluções, apesar das mudanças que, certamente, essa pandemia trará. 


E diferente da impressão inicial, o mundo não parou, apesar de estar andando a passos mais vagarosos. No Brasil, veem-se a discussão da minirreforma tributária, as brigas entre o Executivo e o Legislativo e o Executivo e o Judiciário, o início das campanhas para as eleições municipais, dentre outros. E, no mundo, não é diferente. Acordo entre Israel e os Emirados Árabes, o Brexit, a França em busca de sua tranquilidade social, vários países da União Europeia enfrentando graves recessões econômicas, as convenções eleitorais americanas, entre outros temas que são notícias importantes, mas ficaram em segundo plano ante a atual pandemia. 


Dentre os assuntos pouco debatidos, mas importantes para a economia e o comércio mundial, está a eleição do novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), ante a renúncia para 31 de agosto de 2020 do atual diretor-geral, o brasileiro Roberto Azevêdo, um ano antes do término de seu mandato. São oito candidatos: um da América do Norte, dois asiáticos (um do Oriente Médio), dois europeus e três africanos, sendo três fases de escolha, finalizando em outubro. 


E qual será o seu desafio? Inicialmente, ante o pandemônio instalado em praticamente todas as economias mundiais decorrentes da covid-19, o comércio mundial ainda possui desafios interessantes. E no chamado pós-covid, terá desafios maiores. 


Uma das situações trazidas pela covid-19 foi a consolidação da força da China como o maior símbolo da globalização das cadeias de valor de produção, respondendo, aproximadamente, por 52% do comércio internacional. Esta força chinesa incomoda os Estados Unidos, que acusam a China de diversas práticas desleais de comércio mundial, inclusive culpando a OMC de não agir de forma rígida, inclusive com a retirada do título de “país em desenvolvimento”, o que a favorece em acordos comerciais. Inclusive, os EUA clamam por uma redefinição das determinações tarifárias provenientes da OMC e, certamente, pleitearão ao novo diretor-geral a correção desta falha e, outrossim, uma mudança no órgão de solução de controvérsias da organização, órgão este que, na visão dos EUA, é o maior vilão do comércio mundial. 


Tais pleitos podem ser revistos se Trump perder a eleição, mas, certamente, uma mudança de paradigma da OMC será cobrada, por democratas ou republicanos. 


O novo diretor-geral terá ainda o desafio do Brexit, o qual trará novas configurações comerciais entre o Reino Unido e a Europa. Ademais, se tem a questão das economias mundiais, muitas em recessão, devido muito à queda nas transações comerciais internacionais, gerando graves crises econômicas e sociais internas. Mas, acredito que, no pós-covid, o maior desafio será combater o surto de protecionismo nos países avançados, o que já é visto no Japão, que resolveu subsidiar empresas que repatriarem suas fábricas, na França, que pediu às empresas para readequarem suas cadeias de suprimento para uma menor dependência da China, e na Índia, que busca a autossuficiência em sua cadeia produtiva. E o comércio internacional? Essa resposta quem irá buscar será o novo diretor-geral que, além dessa questão, deverá manter a organização forte e coesa, pois ela representa muito ao comércio internacional. 


Finalizando, tomo a liberdade de dar meu palpite nesta escolha. Analisando os currículos apresentados, aposto na candidata do Quênia, Amina C. Mohamed, visto a sua experiência e por ser conhecedora da organização, principalmente da necessidade de conversar com todos os membros para um comércio internacional próspero.


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