Rodrigo Zanethi: A vitória de Biden e seus reflexos no comex brasileiro

Será que seria melhor mesmo para o comércio Brasil-Estados Unidos a reeleição de Trump? Pois, sinceramente, entendo que não tivemos um grande parceiro comercial nestes quatro anos. E agora com Biden, como fica?

Por: Rodrigo Zanethi  -  11/11/20  -  02:35

Apesar da confirmação da eleição ser apenas em 8 de dezembro próximo, o candidato derrotado lutar na justiça para anular parte dos votos e, até o fechamento desta coluna, não ter sido terminada a apuração dos votos, pode-se dizer, ante as projeções dos principais meios de comunicação e dos votos apurados, que Joe Biden é o novo presidente dos Estados Unidos. E no comércio exterior, o que muda para o Brasil?  


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal, GloboPlay grátis e descontos em dezenas de lojas, restaurantes e serviços!


Apesar da campanha feita pelo presidente Bolsonaro em favor da reeleição de Trump, por entender que seria o melhor para o Brasil, principalmente no campo ideológico, na prática, não foi o que efetivamente ocorreu, pelo menos, no campo das trocas comerciais.


Certo é que três acordos comerciais foram assinados. Mas nenhum que possa ser considerado de efeito imediato, pois, em resumo, apenas tratam de assuntos já regulados pelo Acordo de Facilitação do Comércio, como a simplificação ou extinção de procedimentos burocráticos e a adoção da cláusula estabelecida no referido acordo que impõe que modificações em legislação envolvendo comércio exterior devem ser apresentadas aos países, no caso, os EUA, para manifestação, o que visa uma possível padronização e publicidade das normas de comex dos países signatários. 


Sobre a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Governo Bolsonaro fez uma série de concessões buscando o apoio dos EUA, dentre elas, a qual considero um risco enorme para o Brasil, a renúncia ao tratamento diferenciado, como país em desenvolvimento, nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). O tratamento diferenciado possibilita ao país, dentre outros temas, uma maior proteção aos nossos produtos e uma dilação de prazos para cumprimento de regras, o que, em nosso atual estágio econômico é importante. 


Contudo, tal apoio não trouxe os resultados imediatos esperados, pois a entrada não é fácil e a Argentina, nosso parceiro no Mercosul, já tem pedido anterior feito e aguarda resposta, o que enfraquece o Brasil. 


Agora, no final de seu mandato, Trump impôs tarifas na importação de lâmina de alumínio do Brasil, em razão de entender que o Brasil praticava dumping, e reduziu a cota de exportação do aço semiacabado brasileiro, ante uma brusca mudança no mercado de aço americano em 2020. 


E o que deve ser ressaltado é que as exportações, de janeiro a setembro de 2020, tiveram uma queda de 25% em relação ao mesmo período de 2019 – e não se pode por tudo na conta da pandemia, pois, nos últimos anos, tal queda vem ocorrendo. 


Desta forma, será que seria melhor mesmo para o comércio Brasil-Estados Unidos a reeleição de Trump? Pois, sinceramente, entendo que não tivemos um grande parceiro comercial nestes quatro anos. E agora com Biden, como fica? 


Muitos entendem que a relação Brasil-Estados Unidos esfriará, principalmente com o choque de opiniões envolvendo a questão ambiental. Obviamente, a agenda ambiental terá um peso para o governo americano, já tendo sido ressaltado por Biden em seus discursos. 


Mas, antes de virar os olhos ao Brasil, Biden continuará, em estilo diferente, até mesmo por sua defesa ao multilateralismo, a se contrapor ao avanço global da China. E para tanto, além da reorganização interna, está a vital necessidade de melhorar as relações com a União Europeia e com a Rússia, o que é importante aos EUA na questão geopolítica. 


E em relação ao Brasil, não acredito em uma política mais aberta. O protecionismo americano irá continuar, pois é uma tendência americana, ante o avanço chinês no setor de manufatura. Além disso, infelizmente, a nossa indústria perde força e o que nos pode dar um alento é o agronegócio, que é o nosso carro-forte na pauta de exportações, mas encontra nos EUA um concorrente agressivo, sempre posto a impedir o nosso avanço. Sinceramente, entendo que pouco mudará em nossas relações comerciais, apenas dependendo do Brasil, dentro do necessário jogo político, conversar com o novo governo americano e deixar eventuais ideologias de lado e incrementar o nosso comércio exterior e nossa economia.


Logo A Tribuna
Newsletter