Milton Lourenço: uma vida dedicada ao comércio exterior

Milton faleceu no último dia 21 de agosto. O texto publicado nesta edição é uma homenagem a ele, escrita por seu amigo de mais de 50 anos Adelto Gonçalves.

Por: Adelto Gonçalves  -  05/09/20  -  17:49
Milton Lourenço: uma vida dedicada ao comércio exterior
Milton Lourenço: uma vida dedicada ao comércio exterior   Foto: Ilustração: Padron

A morte surpreendeu o empresário Milton Lourenço, articulista deste espaço, num momento em que ele estava preparando o seu segundo livro com artigos que havia publicado nos últimos anos em jornais, revistas e sites do Brasil e de Portugal. O primeiro livro, Logística: os desafios do século XXI, havia saído em 2005. A nova obra estava quase pronta para ir à gráfica, quando quis o destino que não a visse impressa. Deixou este mundo em 21 de agosto de 2020, aos 67 anos, depois de cumprir uma trajetória de sucesso como empresário, criador de três grandes empresas na área de comércio exterior e logística, que hoje dão emprego para mais de 350 colaboradores.

Por uma dessas coincidências do destino, as nossas vidas se cruzaram há mais de meio século, quando, em 1967, começamos a trabalhar, com diferença de meses, como auxiliares de escritório na Sociedade Brasileira de Despachos, em Santos. Tínhamos, então, 15 e 14 anos de idade e, além de pagar contas em agências bancárias e carregar documentos para a Alfândega, desempenhávamos a tarefa de datilografar as guias de despachos. Era uma atividade que exigia não só agilidade como força nos dedos porque as muitas vias do despacho, com a ajuda do papel carbono, tinham de sair legíveis para que o funcionário da aduana as pudesse carimbar.

De minha parte, só encarei aquela vida até o final de 1970, quando, já aluno do primeiro ano do curso de Jornalismo, decidi largar o emprego para me dedicar às letras. Já Milton Lourenço ensaiava os primeiros passos de sua trajetória na área de despachos aduaneiros. Logo passaria a ajudante de despachante, até que, à época em que aquela empresa já se transformara na Companhia Brasileira de Comércio Exterior, transferiu-se para a matriz em São Paulo, chegando ao cargo de gerente-geral.

O seu aprendizado profissional foi mesmo no dia a dia e nas muitas viagens que teve de fazer para diversas empresas, acompanhando a entrega de equipamentos, às vezes em meio a situações difíceis e perigosas. Teve ainda uma passagem igualmente brilhante pela empresa Engesa. Até que, em 1985, já despachante aduaneiro e agente de cargas, concluiu que melhor seria começar uma atividade comercial por sua própria conta e risco. A essa altura, já estava casado com Roseli Serra, com quem teve dois filhos, Plínio e Luiza, que hoje, ao lado de seu irmão mais jovem, o engenheiro eletrônico Mauro Lourenço Dias, e do filho deste, João, estão à frente do Grupo Fiorde.

Fundou a Fiorde Assessoria e Despachos Ltda., hoje conhecida como Fiorde Logística Internacional, num pequeno escritório situado à Praça da República, em São Paulo. Desde 2005, a empresa ocupa um prédio de cinco andares à Rua Frei Caneca, bem perto da Avenida Paulista, o centro propulsor da economia paulista. A partir daí, criou ainda mais duas empresas: a FTA Transportes e Armazéns Gerais, estabelecida em Guarulhos, e a Barter Comércio Exterior (trading company).

A par da atividade comercial, Milton Lourenço sempre manteve viva a disposição de participar da vida pública. Em 1990, convidou-me a participar da criação do quinzenário impresso Gazeta Metropolitana, que circulou até 1995 em São Vicente, Santos e Cubatão. E, a partir de 2001, passou a escrever artigos de opinião sobre a sua área de atuação.

Com grande capacidade de análise, destacou-se também como líder da classe empresarial em que atuava. Para os seus funcionários, sempre foi tido como um exemplo de liderança, pois, de espírito agregador, tratava todos com muito respeito e consideração, passando seus ensinamentos enquanto lembrava, de maneira coloquial, os acontecimentos que vivenciara em suas viagens. Sempre foi uma inesgotável fonte de entusiasmo.

O empresário Milton Lourenço, que escrevia neste espaço aos sábados, faleceu no último dia 21 de agosto. O texto publicado nesta edição é uma homenagem a ele, escrita por seu amigo de mais de 50 anos Adelto Gonçalves, jornalista, escritor e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP).

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