Frederico Bussinger: Dos alertas que recebemos aos diagnósticos de que precisamos

Sem avanços no campo analítico e explicativo, meras informações poderão resultar apenas em frustrações ou espírito macunaímico

Por: Frederico Bussinger  -  13/03/20  -  18:35
Dos alertas que recebemos aos diagnósticos de que precisamos
Dos alertas que recebemos aos diagnósticos de que precisamos   Foto: Ilustração: Padron

“Decifra-me ou te devoro!” (Esfinge)


Vez por outra são divulgados raios x das infraestruturas brasileiras. Estatísticas, pesquisas de opinião e análises mostram a situação do saneamento, da energia, do transporte público e da logística. Também o quanto falta ser implantado e/ou a distância que nos separa de países escolhidos. Por vezes como mera notícia mas, no mais das vezes, são preâmbulos para dar credibilidade e/ou fundamentar reivindicações ou propostas. Mais frequentemente em véspera de eleições.


Recente editorial do Estadão (“A deterioração da infraestrutura” – 9/MAR/2020), para relembrar carências existentes, limitações de governos e a importância do setor privado, sistematiza um útil conjunto de dados de estatísticas de entidades, estudos de institutos de pesquisa e trabalhos de consultorias. 


Em síntese: cerca de 100 milhões de brasileiros não têm esgoto. O custo logístico é 12,3% do PIB no Brasil e 7,8% nos EUA. Custos de transporte na exportação brasileira superam os do protecionismo. Exportações poderiam aumentar 30% só com melhorias logísticas. Em infraestrutura de transportes, somos o 65º país entre 137. O estoque de investimentos em infraestrutura atualmente é apenas 35% do PIB – eram 60% nos anos 80 e entre 65-85% em países desenvolvidos. Nele investimos, anualmente, 1,8% do PIB – 2% seria o ideal; e estimados 4,15%, por duas décadas, para se elevar o estoque ao nível dos anos 80. Em 2012, a União investiu R$ 35,6 bi em transporte. Em 2020, serão apenas R$ 7,9 bi.


Informações como as de estudos do tipo que embasaram o editorial são importantes como alertas. Também instrumentos de sensibilização e balizamento. Mas têm limitações. A começar pela métrica: PIB e volume investido. A inclusão de reflexões sobre a qualidade dos investimentos pode abrir novas janelas, da mesma forma que sobre padrões tecnológicos e modelos gerenciais, ambos em constante evolução. 


P.ex., na década de 90, os terminais santistas passaram a poder operar 24X7, com turnos contínuos de 6 horas. Suas utilizações potenciais passaram de cerca de 54 para 144-168 h/s (32 para 86-100%). Foi como se, para cada 3 berços, tivessem sido “implantados” 5 novos ... e, melhor, de imediato e a “custo-zero”! Se, p.ex., Alfândega, demais intervenientes e clientes também operassem 24X7, quanto ganharia a fluidez do trânsito na Baixada? Por quanto tempo poderia ser postergada nova rodovia ou ferrovia para o Planalto? Aplicativos e infoestrutura: em quanto reduzem a necessidade de estoque de material rodante (rodo e ferroviário)? 


A métrica do volume de investimentos não capta ganhos de capacidade desse tipo. Tampouco ajuda a explicar deteriorações de desempenho e apontar saídas: explicações precisam ir além de corrupção e maus projetos. Mesmo porque, metodologicamente, haverá dificuldades para se explicar, de forma aceitável e legitimável, as diferenças de performance entre 2012, 2016 e 2020; entre a “década perdida” e os anos 90; e assim por diante. Improvisações, processos decisórios labirínticos, imprevisibilidade de licenciamentos e controles, p.ex., não são variáveis explicativas importantes? 


Sem avanços no campo analítico e explicativo, meras informações poderão resultar apenas em frustrações e/ou espírito macunaímico. E a discussão, ao invés de produzir luzes, planos e ações transformadoras, se limitar ao Fla-Flu ideológico.


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