Falta de berços públicos para importação de fertilizantes preocupa no Porto de Santos

Segundo operadores, decisão da Autoridade Portuária põe em risco as operações e pode causar fuga de cargas para outros portos

Por: Fernanda Balbino  -  28/04/20  -  10:26
Esta é a edição nº148 da coluna Porto & Oportunidades
Esta é a edição nº148 da coluna Porto & Oportunidades   Foto: Carlos Nogueira/AT

Operadores de cais público do Porto de Santos estão preocupados com o risco de queda nas importações de fertilizantes e granéis sólidos. O motivo é a falta de berços destinados a essas operações, que normalmente são realizadas no Saboó ou no Macuco. O problema é a destinação de áreas para reparos de embarcações, o que deve inviabilizar atracações de outros navios.


A Autoridade Portuária de Santos, novo nome da Companhia Docas do Estado de São Paulo, a Codesp, permitiu que uma empresa utilize pontos de atracação para reparos em dois navios. 


Segundo o diretor administrativo da Eurobras Logística Aduaneira, Antonio Carlos Carvalhal, a safra de fertilizantes e outros produtos de importação, com início no mês que vem, sofrerá um impacto negativo caso a medida seja concretizada. Segundo o executivo, os três berços disponíveis no Saboó somam 512 metros de comprimento. Mas a Autoridade Portuária aponta que são 586 metros


Pelo menos dois navios  tinham previsão de atracar no local. São eles, o Essayra, com 180 metros, e o Amalthia, com menos de 100 metros. Mas na segunda-feira, foi definido que a primeira embarcação ficará atracada no cais do armazém 33, no Macuco. Segundo Carvalhal, esse berço funciona como uma opção para as operações em momentos de grande movimento e fila para atracação.  


“Se esses navios ficarem no Saboó, a gente perderia totalmente atracações nesses berços e teria que se deslocar para outros pontos. Reduz quantidade de berços e navios ficam na barra esperando, o que gera demurrage e atrasos. O importador prefere se deslocar para Paranaguá [PR], São Sebastião, Vitória [ES]. O Porto de Santos perde carga e nós perdemos movimentação”, destacou o executivo.  


Carvalhal afirma, ainda, que dos 14 operadores de cais público, sete serão prejudicados. Eles movimentam cargas como matérias primas para industrias de fertilizantes e ração animal. Entre elas, potássio, ureia, rocha fosfáltica e barrilha.


“Na região do Saboó, essa matéria prima é descarregada e fica mais fácil a saída de Santos para Cubatão ou para subir a Serra para São Paulo. Fomos surpreendidos com essa informação de utilização dos berços”, afirmou Carvalhal.


Um empresário que preferiu não se identificar, com medo de represálias da Autoridade Portuária, aponta prejuízos enormes. “Com esse plano, o navio estaria ocupando um berço, frente de trabalho que descarrega 5 mil toneladas por dia. Considerando 30 dias, são 150 mil toneladas de cargas que deixariam de passar. Um navio de 30 mil toneladas deixa entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões diretos na cidade. Isso acarretaria tempo maior de espera, represando demanda da indústria, além de fugir a carga do Porto de Santos. Isso afugenta e deixa gargalo na possibilidade de retorno, depois é difícil voltar”.


Pedido 


Os operadores pediram, por meio de ofício, que os reparos das embarcações aconteçam em outros berços ociosos do Porto de Santos. As áreas ocupadas anteriormente pelo Grupo Libra, na Ponta da Praia, e as proximidades do Cais da Marinha, no Macuco, são sugeridas pelos empresários.  


O empresário, que prefere não revelar a identidade, agradece e ressalta a boa intenção da Autoridade Portuária de permitir a atracação de navios no cais do Armazém 33 para reparos. “Isso reduz o problema mas continua atrapalhando. O 33 é uma opção um pouco mais cara, mas alivia o gargalo em dias de maior movimento, mitigando sempre o gargalo da demanda de descarga de produtos aqui. Isso tudo faz represar a demanda”.


A questão também é uma preocupação para os trabalhadores portuários. Eles temem a fuga de cargas e, consequentemente, uma redução nos postos de trabalho.  


“Caso a Codesp não reveja essa situação, estará sendo criado mais um problema econômico no Porto, tendo em vista que esses trabalhos são realizados através de rodízio, não somente pela Estiva, como também pela capatazia, Sindogeesp, Vigia e Bloco, atingindo dessa forma aproximadamente 10 mil  trabalhadores avulsos do Porto de Santos”, destacou o presidente do Sindicato dos Estivadores de Santos e Região (Sindestiva), Rodnei Oliveira da Silva.


Resposta 


Procurada, a Autoridade Portuária informou que “estuda as melhores opções para atender à demanda de cargas de toda a comunidade portuária, incluindo as que visam ampliação da geração de emprego no Porto de Santos neste momento desafiador da economia”. 


Após a publicação da reportagem, a estatal informou que a autorização de reparo naval em cais público não inviabilizará atracações de outros navios, visto que o Porto de Santos conta com ampla disponibilidade de berços públicos. E observou que a operação "gerará receitas adicionais à Autoridade Portuária pela exploração da infraestrutura pública".


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