A Frente Parlamentar da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial promoverá uma audiência pública na Assembleia Legislativa (Alesp), em São Paulo, às 10 horas desta quarta-feira (27). Sob liderança dos deputados estaduais Caio França (PSB) e Eduardo Suplicy (PT), o objetivo é debater os benefícios medicinais e econômicos que podem vir do cânhamo, uma variedade da Cannabis sativa (maconha)que não contém substância psicoativa e tem aplicações industriais.
O debate, no Espaço Heróis de 32 da Alesp, contará com três pesquisadores e especialistas que discutirão as particularidades do cânhamo e seu potencial, a ser explorado na indústria têxtil, na construção civil, em medicamentos e alimentos, por exemplo.
Um deles é o químico industrial e pesquisador Ubiracir Fernandes. Ele adianta que cerca de 40 países têm investido em estudos acerca da aplicação do cânhamo na indústria.
“Na América Latina, observa-se que 16 países permitem o cultivo do quimiotipo da Cannabis. Nestes estudos, o profissional da química tem contribuído com o desenvolvimento e aplicações de técnicas avançadas para extração, isolamento e caracterização de componentes da planta.”
O deputado Caio França destaca que o Estado é protagonista nas aplicações medicamentosas da Cannabis sativa. “Desde que conseguimos aprovar a Lei da Cannabis medicinal no Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo, temos conversado com a Secretaria Estadual de Agricultura e nos reunido com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Além disso, temos sido procurados por pesquisadores, empresários e pelo setor agrícola para que possamos levantar essa bandeira do cânhamo.”
França considera que o Estado pode liderar o debate e levar a discussão a Brasília, ajudando no “crescimento da economia, com geração de empregos e sustentabilidade ambiental”.
Sustentabilidade
O cânhamo pode ser aproveitado por meio da fibra, da semente, da flor, do caule ou da folha. Cada uma dessas variações pode servir à produção de alimentos e adubo. Outras podem ser aproveitadas na confecção de concreto, bioplástico, isolamento térmico, cordas, tecelagem e combustíveis e biocombustíveis. Ainda, como composto medicinal.
As fibras do cânhamo para a indústria têxtil chegam a utilizar três vezes menos água do que o algodão. Outro destaque é que o item é 100% biodegradável.
Conforme Caio França, todas essas aplicações tendem a ser exemplo de sustentabilidade. Cumpririam a agenda ESG, pois se captura mais CO2 do que se devolve para o meio ambiente, além de regenerar áreas degradadas com absorção de metais pesados e ser uma cultura resistente a pragas.
Um relatório citado pela frente parlamentar estima que o potencial do cânhamo no Brasil, após quatro anos de regulamentação, seria de R$ 4,9 bilhões em venda de insumos e R$ 330 milhões de impostos arrecadados para 15 mil de hectares de cultura da planta.
Exposição
Em novembro, as potencialidades do cânhamo foram apresentadas no Congresso Nacional, em Brasília, durante uma exposição na Câmara, intitulada Cânhamo: uma Revolução Agrícola não Psicoativa. Foi organizada pelo Instituto InformaCann.
A exposição ocorrerá no Espaço Heróis de 32, na Alesp, entre os dias 27 de março e 5 de abril, com apresentação de mais produtos.
Para a fundadora do Instituto InformaCann, Manuela Borges, mais do que democratizar o acesso ao tratamento com canabinoides, há objetivos como “quebrar preconceito, trabalhar informação, educação, educando políticos sobre as propriedades dessa planta medicinal”.