A professora Tânia Cristina dos Santos, de 51 anos, registrou quarta-feira (4) boletim ocorrência, na Delegacia Sede de Praia Grande, para denunciar um aluno que a chamou de “macaca” no Facebook.
Embora não tenha sido citada nominalmente na postagem feita por Gabriel Oscar da Silva Pereira, de 18 anos, Tânia não tem dúvida de que ela é o alvo da ofensa com teor racista.
Em seu perfil, Gabriel compartilhou com amigos a seguinte mensagem: “A macaca de sociologia indo repetir todo mundo”. O rapaz é aluno do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Sylvia de Mello, no bairro Antártica, em Praia Grande.
Tânia leciona Sociologia para a classe de Gabriel. A turma é composta por 35 alunos e estuda no período da manhã. Em entrevista para A Tribuna, a professora associou a postagem infamante ao fato de a maioria dos estudantes estar “sem nota suficiente” e precisar realizar recuperação.
Gabriel é um dos alunos em recuperação, e Tânia ironizou o episódio. De acordo com a professora, seguindo o programa curricular de Sociologia deste ano letivo, ela abordou em sala de aula os temas “cidadania” e “respeito ao próximo”.
Tânia soube da ofensa do aluno por meio de uma pessoa que está na relação de amigos dela na rede social. Por meio de uma mensagem privada, a professora recebeu o link da postagem de Gabriel.
A publicação do estudante foi feita no dia 25 de outubro, mas a professora só registrou boletim de ocorrência na quarta-feira. Ela imprimiu a postagem para servir como prova. O crime de injúria racial é punível com reclusão de um a três anos.
Antes de comunicar o caso à Polícia Civil para a adoção das medidas no âmbito penal, Tânia perguntou à direção da escola: “Que providências tomaremos enquanto equipe?”.
Segundo ela, a direção da E.E. Sylvia de Mello a orientou a registrar boletim de ocorrência. A Tribuna apurou que a diretora da escola esteve quarta à tarde na Diretoria de Ensino da Região de São Vicente, que também abrange Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe.
Entre outros assuntos, a diretora da Sylvia de Mello informou os superiores sobre a ofensa racial feita pelo aluno. Questionada por A Tribuna sobre as medidas a serem adotadas, a Diretoria de Ensino ainda não se manifestou. A Reportagem também tentou ouvir o aluno, mas ele não retornou o contato feito.
Reflexão
Gabriel tem “cútis preta”. Esta informação consta de campo específico do boletim de ocorrência, e a professora refletiu a realidade de “fazermos parte de uma sociedade racista, na qual muitos negros não se reconhecem como negros, reproduzindo uma ideologia de branquitude”.
Ainda conforme a professora de Sociologia, “o ser branco é ter oportunidades e privilégios, enquanto o ser pardo, de certa maneira, te coloca como um ser ‘não negro’, que fará com que você seja mais aceito na sociedade”.