A duas semanas de o Caso Baccará completar um ano, o processo do crime que apura o assassinato por espancamento de um universitário segue com dois réus presos e outros dois foragidos.
Por causa de divergência no valor de sua conta, o quartanista de Engenharia Elétrica Lucas Martins de Paula, de 21 anos, foi brutalmente agredido na antiga casa noturna Baccará, no Embaré, em Santos, por seguranças do estabelecimento.
O estudante contestou o lançamento em sua comanda de uma cerveja no valor de R$ 15. Foi o suficiente para ser espancado, às 3h30 de 7 de julho de 2018. Vinte e dois dias depois, ele faleceu na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Santos.
Com base no depoimento de amigos de Lucas e outras testemunhas, além da análise de imagens de câmeras de segurança, a equipe da delegada Edna Pacheco Fernandes Garcia e do investigador Adriano Jorge de Mattos, do 3º DP de Santos, esclareceu o delito.
Segundo o inquérito policial, quatro pessoas participaram do crime. Uma delas é o segurança Thiago Ozarias Souza, de 30 anos. Praticante de jiu-jitsu, ele é visto nas imagens de câmeras aplicando na vítima 12 golpes, entre socos e joelhadas.
Outro segurança, Sammy Barreto Callender, de 35 anos, aparece no vídeo desferindo um soco no universitário após a sequência de golpes de Thiago. Como se fosse um tiro de misericórdia, este soco fez o jovem cair desacordado em frente ao Baccará.
Segundo amigos de Lucas, a confusão por causa da cobrança indevida começou dentro da casa noturna e teve o seu desfecho na calçada da Rua Oswaldo Cochrane, diante dos olhares de Vitor Alves Karam, de 33 anos, e de Anderson Luiz Pereira Brito, de 47.
Com base nas investigações da Polícia Civil, o Ministério Público (MP) denunciou os dois seguranças que agrediram diretamente o estudante, bem como Vitor e Anderson, respectivamente, dono do Baccará e chefe da segurança.
Processados por homicídio triplamente qualificado, crime hediondo punível com reclusão de 12 a 30 anos, os quatro réus tiveram inicialmente as prisões temporárias decretadas, ocasião em que Thiago e Sammy decidiram se entregar.
Posteriormente, a Justiça decretou as preventivas dos quatro réus. Quem já estava preso, ainda permanece na cadeia. Porém, o empresário Vitor Karam e o chefe da segurança Anderson Brito continuam a ostentar a condição de procurados.
'Excesso de prazo'
Em abril, sob a alegação de que Sammy, naquela época, já estava preso preventivamente havia mais de oito meses devido a “excesso de prazo” no processo, o advogado Mario Badures requereu a sua soltura. A Justiça indeferiu o pedido.
Constituído pela família de Lucas para atuar como assistente da acusação, o advogado Armando de Mattos Júnior afirmou que o ritmo da ação penal está “célere”. Segundo ele, as provas já produzidas demonstram que os quatro acusados devem ser levados a júri.
“Em breve, o Poder Judiciário deve decidir pela realização do julgamento popular. Aí, será iniciada a justiça, que é o maior anseio da família da vítima. Enquanto isso, esperamos que a polícia localize e prenda os réus foragidos”, declarou Mattos.
Defensor de Vitor, o advogado Eugênio Malavasi afirmou que a “análise objetiva” das imagens das câmeras demonstrará que o empresário não teve participação “naquela trágica morte”.
O advogado Eduardo Durante defende o chefe da segurança e sustenta que ele é inocente. Ele apontou a “necessidade de, nesta fase processual, ser demonstrada a real participação de cada réu no evento criminoso”.
Para o advogado de Thiago, Pedro Umberto Furlan Júnior, é preciso demonstrar o “nexo” entre os golpes dados pelo cliente e a causa da morte da vítima. Ele também reclamou de suposto excesso de prazo do processo. “É uma pena antecipada, sem haver condenação”.