Mulher denuncia racismo sofrido pela mãe em shopping de Santos: 'Preto tem que morrer'; VÍDEO

Agressora, de 34 anos, foi presa em flagrante

Por: Ágata Luz  -  14/08/22  -  08:14
Atualizado em 14/08/22 - 08:19
O caso aconteceu por volta das 19h30 no Praiamar Shopping
O caso aconteceu por volta das 19h30 no Praiamar Shopping   Foto: Arquivo Pessoal

O que seria um passeio tranquilo em um shopping de Santos acabou se tornando um pesadelo para uma família na última sexta-feira (12). Isso porque a matriarca, de 55 anos, sofreu ofensas racistas de uma desconhecida.

“Cutucou e apontou o dedo na cara falando que preto tem que morrer”, diz a filha da vítima, a contadora Laila dos Santos, de 35 anos. A agressora, de 34, foi presa em flagrante.


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O caso aconteceu por volta das 19h30 no Praiamar Shopping, no bairro Aparecida, onde Laila estava com a mãe, pai, irmã, cunhada e filho de três anos. “Foi humilhante. Minha mãe está muito abalada”, desabafa. Ela relembra que o primeiro contato da família com a agressora começou nos corredores do shopping e se estendeu até uma loja de departamento.


“A moça passou pela gente com a mãe de andador e a ofendia muito. A gente ficou espantada com essa jovem maltratando a senhora, pois estava gritando”, explica, dizendo que ela não foi a única a olhar a cena. No entanto, Laila estava parada, pois aguardava a chegada do pai e do seu filho em frente à loja de departamento – onde, posteriormente, a confusão aconteceu.


Segundo a contadora, a jovem tirava o andador da idosa e puxava a bolsa pedindo um cartão, até que se incomodou com os olhares. “Me encarou e falou ‘o que você está olhando?’. No primeiro instante respondi que nada. Ela virou e perguntou novamente ‘o que você está olhando? Se está incomodada, chama a polícia. O cartão é meu’. Então olhei para ela e falei ‘acho que você não deveria tratar a sua mãe dessa forma’. Ela ficou nervosa e entrou na loja”.


Laila continuou parada em frente ao comércio, enquanto sua mãe também entrou no local para ver as primeiras araras de roupas, que ficam próximas da porta. Foi nesse momento que a jovem retornou e deu a declaração racista, apontando para mãe de Laila – que prefere não se identificar. “Ela falou em um bom e alto tom. Tinha uma funcionária da própria loja e outras pessoas que também ouviram, mas nessas horas ninguém diz nada”.


Desta forma, a contadora se aproximou da mulher e a questionou o que ela teria dito. “Ela falou ‘você não tem prova do que eu falei, não tem testemunha’. Mas tinha, graças a Deus, uma funcionária da loja. Ela é negra e ficou horrorizada com a situação”. Segundo Laila, sua mãe tem pressão alta e ficou muito nervosa, pois também é muito tímida e discreta.


No entanto, a irmã da contadora também saiu em defesa da mãe e a confusão teve início. “Daí a mulher falou que não tinha prova e começou a inverter toda a situação dentro do shopping pedindo para ir embora porque ela tinha uma mãe doente. A gente não deixou e falei que ia chamar a polícia”.


Além disso, Laila também pediu ajuda dos seguranças do shopping, mas não recebeu o apoio que esperava. “Não queriam que a gente filmasse para expor a situação”, afirma. Ela diz que foi convidada a ir para uma sala privada, mas recusou e afirmou que ficaria no mesmo lugar dos fatos até a chegada da polícia.


A agressora pediu que chamassem sua mãe, que informou que a jovem tinha problemas mentais e laudo psiquiátrico. “O pessoal do shopping não me dava respaldo. Falava para gente se acalmar, não tumultuar a situação e esperar a polícia chegar. Todo mundo falava que isso não iria dar em nada porque ela tinha um laudo e não estava com suas devidas condições”. Segundo Laila, a família foi orientada a não dar continuidade na denúncia.


“Falei que iria fazer um boletim de ocorrência e levar isso até o final. Estão maltratando e ofendendo pessoas utilizando pretexto de um laudo para fazer o que querem. Isso tem que ser parado e impedido”, enfatiza a contadora, que permaneceu esperando a chegada da polícia.


No entanto, a família afirma ter sido colocada em outro papel diferente de vítima. “Me senti até mal porque parecia que eu era errada da história. Graças a Deus uma funcionária se sentiu tão mal quanto a minha mãe, porque ela viu a cena e se propôs a ajudar”.


Com a chegada da equipe policial, todos envolvidos foram conduzidos à delegacia, onde o caso foi registrado. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a mulher foi presa em flagrante por praticar discriminação.


Além do racismo

Descrevendo a situação como “um susto”, Laila diz que a família está revoltada e em choque. Além disso, enfatiza que alguns pontos colaboraram para tudo se tornar ainda mais difícil. “Minha mãe falou ‘jamais imaginei passar por isso’. Da forma como foi, parecia que a gente estava em situação de erro com todo mundo falando que não ia dar em nada e não era para expor. É uma coisa muito triste e grave porque ninguém quer aparecer e se posicionar”.


A contadora diz que a atitude dos seguranças do shopping lhes causou espanto. “A questão de abafar para não aparecer em vez de dar condições pra que isso não acontecesse. Entendo que eles não queriam se expor, mas as coisas não são dessa forma, denunciar faz parte”, desabafa.


Laila diz que não se arrepende de levar a situação para esfera policial. “Levei adiante porque essas coisas precisam parar. Acho que cada brasileiro tem que fazer seu papel. As pessoas precisam aprender a responder pelos seus atos independente disso (laudo psiquiátrico) e colocar um freio na língua”, finaliza.


Shopping

Em nota, o Praiamar Shopping informou que “é contra todo e qualquer tipo de discriminação e repudia o fato relatado”. Além disso, afirmou que já se colocou à disposição das autoridades para apurar os fatos.


“A equipe de segurança é treinada para que, em situações semelhantes, assim que relatado, por se tratar de questões que correspondem ao poder de segurança pública e judiciário, solicitem ao cliente chamar a polícia”.


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