Em 'carteirada' na fila da balsa, guarda ofende policiais militares

De folga e armado, integrante da GCM de Guarujá estava aparentemente embriagado, segundo os PMs, e esbarrou o seu carro em outro veículo

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  25/07/20  -  17:07
O conflito aconteceu no dia 12 de maio, no lado de Santos
O conflito aconteceu no dia 12 de maio, no lado de Santos   Foto: Matheus Tagé/AT

No País da carteirada – prática que ganhou evidência nacional após o episódio envolvendo um desembargador e um guarda municipal de Santos, no último final de semana – um caso que não teve repercussão na mídia torna-se agora público. Ele envolve outro guarda, de Guarujá, que desacatou policiais militares ao chamá-los de “bostas”.


Ricardo Bertero, de 41 anos, da Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarujá, protagonizou a situação, ocorrida na tarde do último dia 12 de maio. Acompanhado de uma mulher, o servidor público dirigia um Chrysler Neon pela pista sentido balsa da Avenida Almirante Saldanha da Gama, na Ponta da Praia.


Segundo um metalúrgico, que conduzia um automóvel Renault Duster, o seu carro sofreu um “esbarrão” do Chrysler, que transitava em “zigue-zague” e realizou uma ultrapassagem. Como o causador do acidente não parou, o metalúrgico foi até o início da fila da balsa e comunicou o ocorrido a um cabo e a dois soldados da Polícia Militar.


Momentos depois, o motorista do Chrysler passou pelo local e os policiais militares se aproximaram do veículo. Ao ser informado de que havia colidido em outro veículo, de acordo com os PMs, Bertero disse que não havia motivo para a abordagem, porque ele integra a GCM de Guarujá.


Os policiais constataram indícios de embriaguez, como odor de bebida alcoólica e pupilas dilatadas, e perguntaram ao guarda se ele estava armado. Bertero levantou a camisa e mostrou a pistola que trazia na cintura. Orientado a acertar a arma, pois estava fora das normas de segurança, o servidor público disse que não iria arrumar “porra nenhuma”.


Na sequência, os policiais solicitaram que o acusado exibisse a carteira funcional, bem como o registro e o porte da arma. Após a confirmação de que ele é guarda municipal e a pistola está documentada, Bertero se exaltou. Xingou os PMs de “bostas” e disse que eles não são médicos para suspeitar de embriaguez.


O outro motorista presenciou a ofensa. Ele foi relacionado como “testemunha” na ocorrência registrada como “desacato” na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos. Como o episódio lhe foi comunicado depois de mais de três horas, o delegado de plantão considerou “prejudicada” a realização de exame para a constatação de embriaguez.


Corregedor da GCM de Guarujá, Denys Campos Vieira de Castro compareceu à delegacia. Ele solicitou ao guarda a entrega de sua arma particular “para evitar possível complicação funcional”, conforme destacou o delegado João Octávio A. R. de Mello no boletim de ocorrência de desacato – crime punível com seis meses a dois anos de detenção ou multa.


Receio de represálias


A Tribuna entrou em contato com o motorista do Renault Duster para saber se o guarda o ressarciu e ele minimizou o fato, mas sem esconder o receio de sofrer represálias. “Após descer do carro para verificar, percebi que houve apenas um pequeno arranhão na lateral esquerda da lataria, que desapareceu com um polimento”.


O metalúrgico afirmou que, à distância, viu o condutor do Chrysler armado. Ele também contou que no veículo do guarda havia uma mulher e ela lhe disse “você não sabe com quem está se metendo”. Por fim, o motorista do Duster justificou a sua ida à delegacia ao fato de os policiais lhe pedirem para acompanhá-los devido ao desacato que sofreram.


Apuração interna


A Prefeitura de Guarujá informa que instaurou à época do fato Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) no âmbito da Diretoria da GCM para apurar o caso. Porém, devido à pandemia da covid-19 e à redução das atividades administrativas, conforme decreto municipal, os procedimentos dessa natureza foram paralisados.


A retomada do procedimento está prevista para agosto. “De maneira geral, fatos apurados pelo PAD podem levar a uma advertência, repreensão ou, numa medida extrema, à demissão a bem do serviço público, após análise do caso pela Advocacia Geral do Município”, finaliza comunicado da Prefeitura.


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