Acusado de cravar faca na nuca de homem se livra de júri popular em Santos

Réu atestou ser portador de 'esquizofrenia paranoide'. Episódio ocorreu na frente da Basílica Santo Antônio, em junho de 2019

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  07/05/20  -  15:08
Episódio ocorreu em junho de 2019 em frente a Basílica de Santo Antônio do Embaré
Episódio ocorreu em junho de 2019 em frente a Basílica de Santo Antônio do Embaré   Foto: Reprodução/AT

Autor de golpe de faca na nuca de um ex-vizinho, Juan Matheus Pousa Gonzalez, de 38 anos, não será submetido a júri popular. Ao invés de julgamento e eventual pena na hipótese de condenação, a juíza Lívia Maria de Oliveira Costa aplicou ao réu medida de segurança consistente em internação em hospital de custódia e tratamento. A decisão tem por base laudo do setor de psiquiatria do Fórum de Santos, que atesta ser o acusado portador de “esquizofrenia paranoide”.


Dois peritos, ambos médicos psiquiátricos, assinam o laudo. O documento afirma que, em virtude de sua doença mental, o acusado é “totalmente incapaz de entendimento e determinação”. Nesta condição, o Código Penal considera a pessoa inimputável, ou seja, sem condição de responder criminalmente pelos seus atos. O autor do crime fica isento de pena, mas sujeito a medida de segurança. A hipótese legal é chamada de absolvição imprópria e sumária, nos processos de competência do tribunal do júri.


A decisão da magistrada é do último dia 28 de abril e acolheu pedidos formulados nas alegações finais do Ministério Público (MP), da assistência da acusação e da defesa de Juan para que o acusado fosse absolvido imprópria e sumariamente. De acordo com a juíza, a medida de segurança de internação é por tempo indeterminado, com prazo mínimo de um ano. A sua duração perdurará enquanto não for averiguada, por perícia médica, a “cessação da periculosidade” do réu.


“A absolvição imprópria protegerá a sociedade de um sujeito muito perigoso. A Ciência (Medicina) que decidirá quando ele deve voltar ao convívio social”, afirmou o advogado Alex Sandro Ochsendorf, que atua no processo como assistente da acusação. Defensor do réu, o advogado José Luiz Moreira de Macedo informou que Fábio Spósito Couto, seu colega de escritório, impetrou habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) para que o réu fosse transferido para uma unidade de tratamento.


No dia 12 de março de 2020, por unanimidade, a 14ª Câmara de Direito Criminal do TJ-SP concedeu habeas corpus. Ela determinou a remoção do réu, “imediatamente”, para “local adequado (hospital de custódia),” a fim de receber tratamento médico apropriado, “com as cautelas de praxe”. “A defesa ofereceu instituição particular para o acusado ser internado com a devida segurança, mas ele continuou no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Vicente mesmo após a absolvição imprópria”, disse Macedo.


Cena de filme de terror


Um homem de 58 anos sofreu o atentado. Ex-vizinho de Juan, ele saiu de sua casa na manhã de 6 de junho de 2019 para jogar futebol com amigos na praia. Ao passar pela Basílica de Santo Antônio do Embaré, viu o réu e o cumprimentou, sem imaginar o que estava na iminência de acontecer. Na sequência de sua caminhada rumo à orla, a vítima foi atacada pelas costas, sem chance de se defender. Juan portava uma faca, com 15 centímetros de lâmina, e a deixou cravada no pescoço do seu alvo.


O pior só não aconteceu porque guardas civis municipais detiveram o réu. A prisão ocorreu quando ele perseguia a vítima dizendo que ia “terminar o serviço”. De modo confuso, Juan alegou antigo desentendimento com o ex-vizinho, mas o homem atacado negou existir problemas entre ambos. Ouvidas em juízo, a mãe e a irmã do réu confirmaram a versão da vítima. Elas acrescentaram que o acusado já ficou internado em clínica psiquiátrica e teve envolvimento com o consumo de drogas.


A mãe contou que tem medida protetiva contra o filho, prevista na Lei Maria da Penha, porque Juan passou a ir “para cima dela”. A magistrada citou essa informação na sentença. O homem atacado pelo réu informou que ficou dez dias internado e os médicos atribuíram a um “milagre” o fato de ter sobrevivido, porque a faca ficou cravada entre a medula e a carótida (artéria localizada na lateral do pescoço). Segundo a vítima, depois do atentado, ela sente dores com frequência e precisa realizar fisioterapia.


Advogado Alex Sandro Ochsendorf responde pelo réu
Advogado Alex Sandro Ochsendorf responde pelo réu   Foto: Irandy Ribas/AT

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