Lofty: Antigo point da juventude santista no coração do Gonzaga

Número 554 da Avenida Ana Costa: Endereço inesquecível para grande parcela dos moradores da Baixada Santista

Por: Eduardo Brandão  -  31/07/20  -  11:25
Danceteria marcou uma geração de santista no final da década de 1980
Danceteria marcou uma geração de santista no final da década de 1980   Foto: Silvio Luiz/Arquivo AT

Número 554 da Avenida Ana Costa, no Gonzaga, em Santos. Se você passou da barreira dos 40 anos  provavelmente vai se recordar do azul e o vermelho brilhante do painel de néon que davam o tom dos efervescentes anos do final da década de 1980. Jovens das mais variadas tribos, filosofias e manias reuniam-se próximos ao mítico endereço, inesquecível para grande parcela dos moradores da Baixada Santista. Era lá um dos templos de diversão. As nostálgicas noitadas no coração da vida boêmia santista foram alvo de reportagem do Jornal A Tribuna, quando o espaço seria ocupado por unidade de rede nacional de academias.


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Mas lá não era o único ponto do Gonzaga a reunir as mais variadas tribos, em um momento histórico sem redes sociais ou celulares. Em uma época anterior às grandes redes de fast food, as pioneiras lanchonetes santistas instaladas no bairro saciavam o apetite voraz dos que esperavam dançar (e paquerar) até esgotar as energias nas horas seguintes. Era no antigo Sumatra – embrião do que viria ser as hamburguerias atuais – o point mais descolado no Gonzaga.


Aliás, a fama de ser o corredor boêmio da região é datada dessa época no qual as primeiras casas noturnas se instalaram no bairro santista. Carros e ônibus de quase toda a cidade (e de municípios  vizinhos) rumavam ao quadrilátero do coração do Gonzaga, onde reinava o epicentro da juventude. Tradição, aliás, que se manteve até os dias atuais (apesar da pandemia, que deu início ao isolamento social e afastou momentos de união entre amigos), sendo ainda o encontro da atual geração de jovens santistas. 


Enquanto aguardavam o início da diversão, o até então único shopping santista (o Parque Balneário) era o abrigo provisório e ponto de encontro entre os amigos. 


Espaço da antiga casa noturna santista está fechado
Espaço da antiga casa noturna santista está fechado   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Nas noites de sexta-feira e sábado ou nas tardes de domingo, o trecho final do tradicional corredor comercial de Santos transformava-se em uma espécie de paraíso para os adolescentes e jovens. Mas, também, motivo de preocupações e dores de cabeças dos pais. 


Era só falar em Lofty (para os que têm menos de 40 anos, trata-se da discoteca que marcou época em  Santos) e pronto: ou se ouviam longos sermões ou eram horas intermináveis a fim de convencer os  pais. 


“Ficávamos a semana inteira planejando como seria: qual roupa vestir, a cor do sapato, o penteado. E até quais as pessoas que iriam com o grupo”, recordou a vendedora Monaliza de Araújo, na reportagem do Jornal A Tribuna, datada de agosto de 2011. “Foi uma época única”, completa, ao olhar para o local  onde costumava se divertir com a sua tribo.  


Um corredor escuro e espelhado dava acesso ao altar da diversão: uma grande e bem iluminada pista de dança. “Muitos falavam que era a melhor da região. E era mesmo”, afirmou o advogado João Paulo  Moreira. “Já perdi as contas de quantos namoros comecei e terminei na Lofty”,diz.  


As noites de sexta-feira e sábado eram especiais para o taxista Alexandre Lemos. “Eu vinha de São Vicente de ônibus. Não perdia um final de semana. Era sagrado”, comenta. Hoje, ele trabalha em um  ponto de táxi diante do antigo ponto de diversão. “Dá um pouco de tristeza (ver o imóvel  abandonado), mas também dá saudade daquela época”.  


Quarentões de hoje se esbaldavam sob as luzes da discoteca (Arquivo/AT)


Concorrentes 


Porém, a danceteria não era a única do bairro. Em frente, ficava o espaço que ameaçava tirar o trono do badalado centro de diversão santista: a Discoteca Zoom. “Tinha até uma propaganda nas rádios que dizia para tomar cuidado e não errar o  lado da rua”, afirma o comerciário Guilherme Souza, 45 anos.  


O roteiro boêmio da democrática (e para todas as idades) noite do Gonzaga era completado com os bailes do Clube Sírio-Libanês (hoje um hotel) e os tradicionais noites do Atlântico. No auge da vida noturna do bairro, os espaços eram ocupados por multidões de quinta a domingo. 


Inaugurada em 1987, a Lofty foi um enorme sucesso no final da década de 1980 e início de 1990. Uma série de ocorrências policiais no entorno e no interior da casa acabou por manchar a reputação da  danceteria, que nunca mais conseguiu retornar à fase áurea.  


Nos últimos anos, uma febre de revival tentou recordar aquelas noites do final da década de 1980.  Encontros que chegaram a reunir mais de mil pessoas por noites, em eventos temáticos em casas noturnas atuais. Eram nesses encontros que as antigas tribos matavam um pouco da saudade daquela época. "Não era igual, claro, mas a gente recordava da música e da adolescência. Tudo era diferente, e parece que foi há tanto tempo", conta a contadora Adriana Maria de Freitas, que não perdi um dos encontos tardios para celebrar a antiga danceteria.


Na virada do século, o espaço abrigou outra casa noturna: a Millennium. Porém, a proposta não decolou e não sobreviveu por muito tempo. Vestígios desta última fase ainda são visíveis no imóvel,  abandonado por anos. E, em 2012, o imóvel abrigou uma rede de academia. 


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