Seca prejudica mercado e preço do litro do etanol sobe 62% em um ano

Alta supera até mesmo a do preço da gasolina no período, de 39%

Por: Fernanda Balbino  -  22/09/21  -  14:15
 Combustível também enfrenta alta da demanda mundial de açúcar, que desestimula a produção de etanol
Combustível também enfrenta alta da demanda mundial de açúcar, que desestimula a produção de etanol   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Em tempos de alta nos preços de gasolina, os motoristas pensam em optar por abastecer com etanol. Mas, segundo especialistas, esta não é uma boa ideia, uma vez que o álcool acumula, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), um reajuste de 62,3% nos últimos 12 meses, enquanto a vilã mais conhecida das bombas subiu 39% no mesmo período. Para os economistas, a tendência é de preços ainda mais salgados para o consumidor.


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São muitos os fatores que impulsionam o preço do etanol nas bombas dos postos de combustíveis. De acordo com o economista André Furtado Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, a crise hídrica é um deles.


Isto porque a falta de chuvas afetou os canaviais e consequentemente a produção. Outro fator importante é que o setor sucroalcooleiro passou a produzir mais açúcar, forçado pela demanda internacional pela commodity.


“O risco da moeda aumenta ainda mais essa situação. O resto do mundo quer comprar produto brasileiro porque a moeda está desvalorizada. É como se o Brasil fosse uma vitrine em promoção, o que desabastece o mercado brasileiro”, afirmou ele.


De acordo com o economista da FGV, para reverter essa fase ruim para o consumidor, são necessários, pelo menos, três fatores: uma boa safra e estabilidade do câmbio e dos preços internacionais. Só que as previsões não são boas para estas questões.


Braz explica que a desvalorização do real segue forte e há previsão de aumento do preço do petróleo no mercado internacional, o que deve impulsionar ainda mais o preço da gasolina. “Outro fator importante a ser avaliado é a chegada do outono/inverno no Hemisfério Norte, que aumenta o consumo de óleos para gerar calor”.


Quebra da safra


A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) aponta que a expectativa da quebra na safra 21/22 é de 12%, provocada pelas condições climáticas desfavoráveis neste ciclo. Isto inclui seca e geadas, com grande impacto em São Paulo, maior estado produtor.


“Nesse cenário de retração, a produção de etanol hidratado poderá ter redução superior a esse índice. Diferente do que acontecerá com etanol anidro, que é misturado na gasolina, que segue com produção em alta, garantindo ao consumidor uma gasolina com a mistura de 27%”.


Por isso, segundo a Unica, a restrição de oferta e a procura forte pelas distribuidoras levam a esses patamares de preço.


De acordo com Braz, a alta do preço do álcool anidro também é um fator que encarece a gasolina para o consumidor final. “A Petrobras anuncia o preço na refinaria sem a mistura do álcool ainda. Isso mostra a diferença de anúncios para a refinaria e preço na bomba”.


Mesmo assim, em alguns casos a melhor saída é a gasolina. “O etanol tem um nível de preço mais baixo, é um substituto que o motorista fica de olho, mas não está muito competitivo porque rende menos também”, afirmou o economista da FGV.


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