Onde investir: Você com ações americanas

Qualquer investidor – no Brasil – poderá a partir do próximo dia 1º entrar no segmento de Brazilian Depositary Receipts

Por: Marcelo Santos  -  15/08/20  -  19:40
BDRs são papéis lastreados em ações estrangeiras
BDRs são papéis lastreados em ações estrangeiras   Foto: Ishant Mishra/Unsplash

Qualquer investidor – no Brasil – poderá a partir do próximo dia 1º entrar no segmento de Brazilian Depositary Receipts (BDRs). De uma forma bem simplificada, são papéis lastreados em ações estrangeiras. Por isso, se você já estava acostumado a acompanhar o desempenho do mercado de Nova Iorque, poderá também investir lá a um custo bem menor do que se tem hoje. 


Na definição formal de BDR pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), são valores mobiliários emitidos e negociados no Brasil que representam outro valor mobiliário no exterior. A CVM, xerife do mercado financeiro no Brasil, é justamente a responsável pela abertura desse filão - há até um cartilha no site do órgão bem didática. Aparentemente, esta foi uma forma de evitar a fuga de investidores brasileiros para os Estados Unidos e também para aproveitar a abertura de capital de empresas brasileiras, como a XP e Stone, no país nas bolsas ianques. Um jeito também da B3 não perder receita. 


Para investir em BDRs, bastará entrar no home broker (plataforma digital para investir no mercado) de sua corretora e escolher suas empresas ou fundos preferidos dos EUA, pagando a taxa de corretagem por isso. As BDRs serão representadas pela sigla de quatro letras maiúsculas e dois números, entre 31, 32, 32 ou 34. Por exemplo, ABCD32. Você digitará esse código na boleta digital para comprá-la. 


As BDRs não são totalmente novidade. Hoje esses títulos já estão disponíveis na B3, permitindo comprar aqui as ações da 3M, Ab Inbev, Alibaba, Alphabet (Google), Amazon, Apple, GE e Microsoft, entre outras. Mas hoje são só para investidores qualificados, quando se tem pelo menos R$ 1 milhão investidos. Se não é o seu caso e queria investir em XP ou Stone ou em ação americana, teria que abrir uma conta lá fora, com custos externos e sofrendo a variação do câmbio. É essa triagem de R$ 1 milhão que a CVM dispensou. 


Essas BDRs são divididas entre patrocinadas e não patrocinadas. O primeiro caso é de quando a BDR é emitida diretamente pela empresa da ação, como a Tesla ou a GM. A não patrocinada, a da grande maioria, é emitida por uma instituição sobre o crivo da CVM. 


O mercado americano é mais estável e amplo que o brasileiro, mas ainda é desconhecido. Portanto, estude antes de agir.


As BDRs hoje


Se quer conhecer as BDRS já existentes, faça a busca em plataformas do mercado, como a do Investing. São centenas, da Ford e Mastercard à Halliburton e Walt Disney. Se você tivesse mais de R$ 1 milhão em investimentos já poderia estar nesse mercado de BDRs. Por exemplo, se tivesse BERK34, a BDR da Bershire Hathaway, a companhia do mago das ações Warren Buffett, teria faturado com uma valorização de 24% neste ano. No caso de DISB34, da Walt Disney, a alta é de 22%.


Vale a pena?


Mas por que investir em companhias americanas se já há tantas opções de empresas brasileiras muito mais conhecidas por quem está no Brasil? Por uma questão de diversificação. Por exemplo, se você quer investir em empresas de tecnologia, no Brasil serão poucas alternativas, como Locaweb, uma novata no mercado, e Magazine Luiza, que é varejista, mas é muito forte na web. Via BDR, suas chances serão amplas com Alphabet, Apple e inúmeras outras. 


Traidor da pátria


Não tem nada a ver achar que é traidor da pátria quem investe em empresas de outros países. Tanto que bilhões de dólares ingressam no Brasil para aportar na B3 (antiga Bovespa). No final das contas, na hora de contabilizar seus lucros, você acabará repatriando seu capital. No setor financeiro, discursos xenófobos e patrióticos não têm sentido. Por outro lado, não ache que todas as companhias gringas são boas. Conhecer bem cada empresa é fundamental. 


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