É a hora de engravidar? Especialistas respondem se é melhor esperar a pandemia passar

Para as que já estão só no aguardo do parto, cuidados devem ser tomado dentro de casa para que problemas não aconteçam durante o isolamento social

Por: Nathália de Alcantara  -  26/04/20  -  22:37
A decisão deve ser tomada pela gestante junto com o parceiro, mas após orientação de especialista
A decisão deve ser tomada pela gestante junto com o parceiro, mas após orientação de especialista   Foto: Freestocks.org/Unsplash

Em tempos de coronavírus, muitas mulheres têm se perguntado: o sonho de engravidar deve ser adiado? A resposta é dividida inclusive entre os especialistas e deve ser avaliada pela família com cuidado.


Na maioria dos casos, o ideal é esperar até que a situação melhore. No entanto, nem todas as mulheres podem esperar, pois o tempo joga contra. É o caso, por exemplo, de pacientes que tratam câncer e buscam reprodução assistida. 


Segundo o ginecologista especialista em reprodução humana da Clínica Engravida, Edward Carrilho, é preciso pensar que o sistema de saúde está voltado para a covid-19, que não vai desaparecer tão cedo.


“Estamos em uma fase crítica e considero importante não passar pelo risco de precisar de hospital caso aconteça alguma complicação. Ao mesmo tempo, pacientes mais velhas e com reservas baixas de óvulos pedem uma atenção maior, pois podem não ter tanto tempo”.


Ele explica que o ideal seria esperar ao menos mais dois meses. “Estamos avaliando caso a caso. como pacientes em tratamento oncológico, para o congelamento de óvulos”.


Para o ginecologista e diretor da Regional de Santos e Baixada Santista da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado (Sogesp), Sergio Floriano de Toledo, também é sensato que se adie a gravidez.


“As pesquisas apontam que não há gravidade maior para as gestantes, mas tivemos poucos casos para uma opinião fundamentada”, diz o especialista em gestação de alto-risco e mestre de obstetrícia.


Diante de tantas dúvidas e de uma doença nova, Sergio recomenda que as mulheres se alimentem bem, respirem bem, se cuidem e tenham lazer.


“É preciso lidar bem com a espera e a ansiedade. A prevenção é a chave do sucesso. Começar a tomar ácido fólico neste momento diminui em 75% a chance de má formação do sistema nervoso central do bebê. E é algo que não engorda”.


O diretor de Provimento de Saúde da Unimed Santos, José Roberto Del Sant, diz que cada mulher deve pensar bem no assunto e não transferir a decisão toda para o seu médico.


“No meu modo de ver, é interessante postergar a gravidez, mas é complicado dizer isso para a paciente que está louca para engravidar, está pronta para isso e já faz fertilização. É um peso muito grande nas costas do médico”.


Del Sant, que é ginecologista e obstetra, explica que não se pode esquecer que algumas pacientes têm programação reprodutiva.


“É difícil falarmos em quanto tempo se deve esperar, mas em setembro já deve ser um tempo melhor. O obstetra experiente consegue trabalhar a ansiedade da mulher. São quatro meses e passam rápido”.


O diretor de Provimento de Saúde da Unimed Santos, José Roberto Del Sant, diz que cada mulher deve pensar bem no assunto
O diretor de Provimento de Saúde da Unimed Santos, José Roberto Del Sant, diz que cada mulher deve pensar bem no assunto   Foto: Divulgação

Outro lado


Já o especialista em reprodução Condesmar Marcondes, do Núcleo Santista de Reprodução Humana, incentiva quem quiser engravidar, desde que com os cuidados de higiene. O obstetra e ginecologista diz que as grávidas podem ter as mesmas complicações de qualquer outra pessoa.


“Sobre reprodução assistida, não recomendamos contracepção para ninguém. Estamos estimulando quem tiver esse sonho”.


Em maio, a unidade já estará fazendo a coleta de óvulos. Mas a transferência dos embriões para a mulher ficará para junho.


“A partir da menstruação, em 15 dias o embrião está pronto. Deixaremos guardado e em junho devolvemos, mas isso não só por conta do coronavírus. Sempre fazemos o procedimento dessa maneira, com esse intervalo”. 


O especialista em reprodução Condesmar Marcondes, do Núcleo Santista de Reprodução Humana, incentiva quem quiser engravidar
O especialista em reprodução Condesmar Marcondes, do Núcleo Santista de Reprodução Humana, incentiva quem quiser engravidar   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Para as já grávidas


Para as mulheres que já estão grávida, é preciso ter atenção durante o isolamento social. Médicos alertam sobre riscos aumentados de trombose e diabetes gestacional, que têm a ver com sedentarismo e má alimentação.


“Em um período de quarentena e isolamento social, a tendência é que as gestantes fiquem em casa, assistam mais TV, comam besteiras e tornem-se mais sedentárias”, explica a cirurgiã vascular e angiologista Aline Lamaita, membro do Colégio Americano de Medicina do Estilo de Vida.


Segundo ela, é exatamente aí que mora o perigo. “Isso favorece o surgimento de trombose, quando um coágulo sanguíneo se desenvolve no interior das veias das pernas devido à circulação inadequada, impedindo a passagem do sangue”.


Permanecer muito tempo parado e sem movimentar as panturrilhas faz com que a velocidade do sangue dentro dos vasos diminua, segundo Aline.


Para evitar tudo isso, é ideal caminhar dentro de casa e fazer exercícios. 


“Sempre é indicado que as pacientes usem meia elástica de leve ou média compressão e por quanto mais tempo melhor” diz a ginecologista Ana Carolina Lúcio Pereira, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.


Com relação à dieta, segundo as médicas, é necessário afastar-se do excesso de açúcar, doces e carboidratos e ingerir mais frutas, verduras e legumes, que são ricos em fibras, melhorando a circulação e diminuindo o inchaço.


Além disso, a ansiedade e a apatia nas gestantes são sentimentos que surgem em reposta à situação que vivemos, segundo o cirurgião plástico Paolo Rubez, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.


 “É importante que as pessoas criem rotinas e tarefas ao longo do dia, como horário para acordar, para dormir e trabalhar. Além disto, é fundamental a prática de alguma atividade física, mesmo em casa, pois isto gera a liberação de neurotransmissores responsáveis pelo bem-estar. Existem vários aplicativos, mesmo grátis, que ensinam técnicas cuidadosas”.


Logo A Tribuna
Newsletter