Viver Bem: Sabe quando dá aquela vontade de sumir?

Às vezes, é preciso parar e se isolar, nem que seja por alguns minutos. Isso ajuda no autoconhecimento e dá mais força para voltar ao jogo.

Por: Tatiane Calixto  -  29/08/20  -  22:10
Na pandemia, quando muitos estão confinados com familiares, a dificuldade em ter um tempo aumentou
Na pandemia, quando muitos estão confinados com familiares, a dificuldade em ter um tempo aumentou   Foto: Mitchell Griest/Unsplash

Caso já tenha passado pela sua cabeça ter o superpoder de parar o mundo, descer e dar uma respirada, saiba que está tudo bem. A façanha não é possível, claro, mas apertar o pause no seu universo particular por um instante faz bem e é necessário. O ser humano é um ser social. Mas, às vezes, é preciso parar e se isolar, nem que seja por alguns minutos. Isso ajuda no autoconhecimento e dá mais força para voltar ao jogo. 


>> Confira dicas para saber como lidar com estes momentos


Ainda assim, muitas pessoas têm dificuldade em encontrar estes instantes. Agora, durante a pandemia, quando muitos estão confinados com os familiares, a dificuldade em ter um tempo a sós aumentou. Isso, somado ao bombardeio de notícias ruins e diversos problemas a serem resolvidos, pode ativar uma bomba relógio no organismo. 


“Momentos a sós são importantes para se estar mais consciente, permitir-se ter a percepção do que acontece dentro de si e no ambiente ao redor. Como seres sociais, é possível perder-se e viver no piloto automático”, avalia a psicóloga Patrícia Alves. 
E nesse ritmo, muitas vezes o indivíduo acaba carregando angústias e dores que nem ao menos são suas, mas pesam do mesmo jeito. Olhar para o interior colabora para a compreensão dessas demandas emocionais. Além de ajudar a mente a ficar no momento presente, uma ferramenta importante contra a ansiedade. 


Isabel Marçal, cofundadora e presidente do Instituto Bem do Estar recorre ao mitologista Joseph Campbel quando afirma que é na caverna que temos medo de entrar que está o tesouro que procuramos. “A maioria das pessoas tem muito receio de entrar em contato com elas mesmas, e na contemporaneidade onde vivemos em um looping de acontecimentos, totalmente no automático, esse contato é quase impossível”. 


Esse medo, analisa Isabel, muitas vezes nasce porque o sujeito não quer ter contato com a própria sombra. Uma tentativa inútil, segundo ela. “Todos possuem muita luz, mas também algumas sombras. Só quem consegue compreender seus próprios conflitos é capaz de olhar para o outro com genuína generosidade”. 


No espelho 


É neste tempo com a gente mesmo que Patrícia afirma ser possível reorganizar as emoções e evitar a vontade de parar o mundo e descer. 


“Ouvir, fazer uma pausa, nomear o que estamos sentindo, nos permite organizar as emoções. É possível autorregular o que sentimos, temos este recurso internamente, só que nem sempre acessamos”. 


Mais do que isso. Para Isabel, apenas por meio deste olhar para si que uma pessoa pode iniciar a própria jornada de autoconhecimento: um mapeamento interno completo, onde se pode compreender cada detalhe de si mesmo, sejam pensamentos, emoções e mesmo anseios. 


“Podendo descobrir, assim, nossas qualidades e os defeitos, as forças e as fraquezas e perceber quais devem ser nossas ações e onde elas vão nos levar”. 


Dividir a angústia é caminho de saúde


E só com essa percepção do que acontece dentro de si que é possível fazer algo fundamental para manter a saúde mental em dia: compartilhar. Segundo a Organização Mundial da Saúde, por exemplo, 70% das pessoas com depressão não falam sobre a doença. 


“Este dado comprova que não compartilhamos quando não estamos bem. Porém, um dos hábitos para conquistar o bem-estar mental é se conectar a uma rede de apoio, onde estejam as pessoas que confiamos, como amigos, e familiares. Estudos mostram até que altos níveis de apoio social são tão relevantes para a longevidade quanto a prática de exercícios regulares, enquanto um baixo apoio social é tão prejudicial quanto a pressão alta”, afirma Isabel. 


Ao compartilhar os sentimentos, principalmente com nossa rede de apoio, conseguimos nos escutar, nos sentir amados, reconhecer que as emoções não são exclusividade nossa e, muitas vezes, entender um pouco mais o que estamos sentindo e como lidar com isso. 


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