Use a solidão ao seu favor

O isolamento social está mexendo muito com a cabeça das pessoas. É uma situação atípica, que exige muito do indivíduo porque traz à tona uma realidade com que muitas pessoas estavam acostumadas. E, com a chegada de um feriado como a Páscoa, que normalmente faria com que estivéssemos mais próximos de quem gostamos, a sensação de solidão pode aumentar. No entanto, pode ser uma boa hora usar esse recolhimento obrigatório a nosso favor. 

“A Páscoa é sempre um tempo de renovação, porque o dinamismo desta força libertadora de Deus continua presente em todos os tempos”, reforça o bispo dom Tarcísio Scaramussa, da Diocese de Santos.

Dentro da religião, ele reforça o verdadeiro espírito da Páscoa. “O caminho da regeneração social passa pela transformação de nosso ser, a partir de dentro. O verdadeiro jejum significa rasgar os corações, não as vestes, dizia o profeta Joel”. 

Fora dela, a psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Gisela Monteiro, diz que é um momento único. “Mais do que nunca, independentemente da renovação católica, esse é o momento de reflexão. A parada imposta pela quarentena é uma grande oportunidade de pensarmos sobre como queremos passar esse período. É a tarefa do momento, refletir sobre escolhas porque elas determinarão a forma como viveremos nos próximos meses”.

Prazer

Na visão do psiquiatra Rondinelli Salvador, um caminho possível é manter atividades que tragam prazer, atividades que podem ter sido esquecidas pela correria do dia a dia. Ele até dá dicas. “Usar este momento e abusar da criatividade. Retomar atividades criativas, coisas que já não eram feitas. É uma oportunidade para renovar laços familiares que já não estavam tão à tona”, diz ele. 

Entre estas atividades, estão também aquelas que podem fazer bem, como ouvir músicas que mudam a autoestima e fazer meditação.

Solidão x Solitude

Rondinelli diz que é hora de reconhecer o papel da solidão em nossas vidas. E há diferenças, pois há os que gostem da solidão (não necessariamente estar sozinho) e a solitude (gostar de estar sozinho). “E é preciso prestar atenção aos dois aspectos”, reforça o psiquiatra.

De qualquer forma, é preciso entender e lidar com a realidade. “É uma guerra em curso, com batalhas cotidianas a serem vencidas, uma demanda enorme para cada um de nós. Penso que a melhor estratégia é sempre o contato com a realidade complexa e difícil que vivemos. A realidade deve segurar nossos pés no chão para acharmos respostas na ciência e não em teorias conspiratórias delirantes. Precisamos suportar a passagem do tempo”, conclui Gisela Monteiro