Muito mais do que serviços cancelados, sonhos como casamento, festas de aniversário e formaturas estão sendo adiados por tempo indeterminado. Em tempos de pandemia de coronavírus, qualquer aglomeração pode ser altamente perigosa por conta do risco de contágio.
O detalhe é que, nesses casos, existem contratos e podem surgir muitos prejuízos tanto para o cliente quanto para o empresário.
O advogado especialista em Direito do Consumidor Carlos Sampaio explica que essa é uma situação nova e que ninguém é culpado pela não realização do evento. Por outro lado, é preciso chegar em um acordo para que o prejuízo não fique para um lado só.
“O ideal é que todos conversem, ainda que seja por mensagem ou telefone. Avalie se o evento pode ser adiado, se existe uma outra saída que não seja o cancelamento. Assim, todos saem ganhando”.
A jornalista Lara Finochio, de 32 anos, teve de ver a festa de casamento planejada por meses ser transferida de 25 de abril para 11 de outubro. O evento, que seria num sábado, terá de acontecer num domingo.
“Consegui falar com alguns dos 13 fornecedores. Vou ter de remarcar tudo e ver se todos conseguem me atender na nova data”.
Salão, vestido, bufê, decoração, mobiliário, bar, bandas, DJ, som e iluminação, lembrancinhas e aluguel de terceirizados (como toalhas e guardanapos) fazem parte da lista de Lara.
Dos 200 convidados, ela já sabe que muitos não virão na nova data, que é véspera de um feriado. “Não havia mais sábados disponíveis no local que quero casar e quero o casamento este ano ainda”, diz Lara.
O primeiro sentimento diante de tudo isso, segundo ela, foi de desespero. “Ao mesmo tempo, minha empresa cuida de 43 outras empresas e penso o que pode ser feito para ninguém quebrar. Juntou com tudo isso do casamento e se, eu não pirar agora, não piro mais”, brinca.
Quem entende bem o drama de Lara é a estudante Priscila Fernandes, de 14 anos. Ela estava a pouco mais de duas semanas da festa de 15 anos quando viu tudo desmoronar.
“Não tinha sentido reunir as pessoas que amo no mesmo ambiente e correr o risco de todas ficarem doentes. Ao mesmo tempo, isso não alivia a minha frustração. Tem sido muito difícil lidar com a possibilidade de comemorar meu aniversário meses depois”.
A engenheira Beatriz Perciavalle, de 25 anos, está ansiosa para brindar na sua formatura. A festa das turmas de Engenharia da Universidade Santa Cecília (Unisanta), que seria no próximo sábado, foi cancelada. O evento, que ainda não tem data para acontecer, terá 1,2 mil convidados.
“Será a cereja em cima do bolo para tantos dias de luta e de glória”, diz ela, que é membro da comissão de formatura. “Claro que é um transtorno e estão todos ansiosos, mas o pessoal está consciente de que essa é a melhor decisão neste momento”.
Outro lado
A sócia-proprietária da Toledo Kids Decoração e Cenografia Personalizada, Lilian Toledo, tem orientado seus clientes e sugerido diversas ideias para que todos fiquem satisfeitos e, mais importante, felizes.
Com oito anos de experiência e uma equipe de 15 pessoas, ela se organizou para atender todos os clientes.
“Queremos ajudar todo mundo, porque trabalhamos com sonhos e expectativas. A nossa campanha hoje é Não Cancele, Remarque. Não desista dos seus sonhos. Quando tudo isso passar, teremos mais motivos para comemorar a vida”.
Até maio, 40 eventos pequenos, médios e grandes foram remarcados. Não houve um cancelamento. Entre as alternativas apresentadas pela Lilian estão que as grávidas façam o chá de boas-vindas no lugar do chá de bebê.
“Essa comemoração acontece 40 dias depois do nascimento e é o tempo das coisas se acalmarem”, diz a decoradora.
Para as festas de aniversário, a sugestão é fazer algo mais intimista em casa, com bolo fake, acessórios e displays para uma foto de recordação.
“A criança fica na expectativa. Estamos lidando com as emoções das pessoas, Elas querem realizar alguma coisa diferenciada e estamos focados nisso. Então, essa pode ser uma saída até que chegue o dia da festa maior”.