Ricardo Peruchi: 'Olhe com mais atenção para você e viva com mais leveza e sabedoria'

A entrevista com o jornalista, diretor de Comunicação da IED, aborda a experiência de envelhecer sem entrar na crise de autoestima

Por: Ivani Cardoso & Colaboradora &  -  07/07/19  -  00:09
O jornalista Ricardo Peruchi, 41 anos, é também palestrante, gestor e produtor cultural
O jornalista Ricardo Peruchi, 41 anos, é também palestrante, gestor e produtor cultural   Foto: Divulgação

Viver mais e melhor implica também exercer e valorizar os talentos pessoais. Se antes o sonho era se aposentar, transferir a experiência para os filhos e descansar, agora, com o aumento da longevidade há outras prioridades no ar. O jornalista Ricardo Peruchi, 41 anos, diretor de Comunicação Institucional do Istituto Europeo di Design (IED), palestrante, gestor e produtor cultural, diz que o mundo precisa da experiência dos 50+ e que está na hora de resolver a crise de autoestima. 


“A gente se intimida diante dos jovens, mas é preciso entender que são inteligências diferentes e complementares. Esse é o grande desafio. Nós temos mais valor do que imaginamos”. Em suas palestras sobre Economia Criativa na Maturidade, Ric mostra que o empreendedorismo independe de idade e garante que há uma nova percepção de valores esperando por quem está disposto a abrir o olhar.


Como você enxerga as mudanças?


Estamos vivendo o momento de romper as categorias pobre, rico, velho, jovem, feio e bonito. O mundo não é mais dual positivo. O mundo é simultâneo, é híbrido. Começar a mudar essa matriz de pensamento é um salto de compreensão. No mundo atual não se trabalha com o oposto, mas com a simultaneidade. O contemporâneo é o ecletismo, todas as épocas estão combinadas. Você não é a sua idade. Você é muito mais que sua idade. A idade é só um número.


O que conta mais na Economia Criativa no envelhecer?


Saber que temos valores e saberes, pensar o que queremos realizar para nós e dar atenção para os sonhos. Todo empreendimento envolve tempo, transformação, realização, relevância e legado. A geração dos 50+ convive com culpas, com medos, com muitas amarras. Essa lição é preciso aprender com os jovens, que não têm culpas, mas eles devem aprender com os mais velhos a fazer sacrifícios. 
Como encontrar novos talentos na maturidade?


O maturi precisa sentir que está vivo e pensar no legado que pode deixar. Viramos carrascos de nós mesmos, olhando para trás e sofrendo com o que não se realizou. Não se fatia mais a vida como antes, em pessoal e profissional. Nossa vida era crescer, estudar, se preparar, trabalhar cedo, ir para o mercado de trabalho, casar, ter filhos, se aposentar. Esqueça as coisas que deram certo antes e não tente reeditar o passado.


E a questão financeira?


Essa longevidade traz cada vez menos garantia de patrimônio. Veja toda a discussão que estamos acompanhando sobre a Previdência. É um ótimo gancho para isso, precariza toda essa ideia que tínhamos de trabalhar 30 anos e viver disso. Nem o funcionário público vai trabalhar 30 anos e viver disso. Antes, o sonho era fazer o concurso do Banco do Brasil, hoje ninguém mais quer. A estabilidade desse mundo cartorial está acabando. 


E o mercado de trabalho?


Continua cruel como sempre foi, mas para quem tem 55, 60 anos, procurar emprego custa muito caro. Há o desafio de não ser um nativo digital, de repensar o que é carreira, trabalho e profissão. Na Economia Criativa, nós falamos da percepção de valor. Pelo que estou disposto a pagar? O que tem valor? Uma pessoa teve como paixão a vida inteira ouvir vinil e tem uma coleção com mais de 5 mil. De repente, ela descobre que isso é um negócio, porque o vinil voltou, ele tem um bom acervo, ouve vinil, entende de vinil, tem equipamento. E está aí o mercado livre e outros canais on-line de vendas que permitem uma nova forma de ganhar dinheiro.


Quais as características desse novo formato?


Tem a ver com a flexibilidade da nova economia. Não tem horário, nem chefe, às vezes nem precisa uma empresa. Você pode viver de vender seus discos na feira. Ou uma bordadeira pode descobrir que os bordados têm uma qualidade e perfeição que ela pode levar para o mundo da moda. Há um mercado de muitos consultores, maturis podem ajudar startups com seu conhecimento. Às vezes, temos saberes que não valorizamos, mas o mercado precisa deles. 


Envelhecer incomoda, não é?


Ficamos inseguros em relação ao mundo e à velhice, ela é terrível porque ela nos aproxima da morte. É uma ampulheta que você está vendo a areia acabar na tua frente. O melhor é esquecer os medos e pensar que ainda há muita areia, não dá para ficar esperando se esvair. O que fazer com esse tempo? O senso de urgência que o tempo nos coloca é interessante. Já erramos, temos a vantagem de saber o que não queremos, nos conhecemos melhor, temos condições de fazer mais com esse tempo.


Qual o melhor caminho?


Não tem respostas fáceis, nem fórmulas e nem dicas. Não são os gurus de autoajuda que vão resolver esse problema. Eu acredito muito no que os artistas falam. Cada arte, cada pessoa, é um método, a sua resposta é só sua. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, como diz Caetano. As respostas estão à sua volta, estão dentro de você. Não estão em fazer cursinho para aprender o que você não aprendeu até agora. Tem coisas que é melhor ser realista. Se não aprendeu a tocar piano até 18 anos, não vai virar concertista. Você aprende tecnologia com 50, mas não vai virar um garoto digital, mas pode se atualizar.


E como acompanhar esse novo tempo?


O importante é saber o que estão falando. Não é preciso saber tudo de tecnologia, mas tem que saber o que acontece no mundo, o que é o mundo digital, comércio eletrônico, internet. Tudo isso afeta nossa vida. Há um impacto como tivemos com o rádio e a televisão. Não é bom resistir às mudanças. Não dá para ser do jeito que você quer, mas dá para ser muito legal


Como as pessoas podem encontrar seus talentos?


Uma dica é responder algumas perguntas: O que você sabe? O que você sabe fazer? Como você faz? O que você é? Na Economia Criativa, o mais importante é responder essa última pergunta. Tudo hoje tem público, tudo pode ser um negócio. O mais importante é transformar o que faz sentido para você em um negócio.


Precisamos pensar em um novo jeito de trabalhar, estamos na idade de ser feliz e não de ter razão. Todos somos criativos e, às vezes, até de suas dificuldades no dia a dia, pode nascer um negócio. Olhe com mais atenção para você e viva com mais leveza e sabedoria. E não se esqueça: Ninguém vai te dar respeito porque você é mais velho, isso não significa que você é melhor. 


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