Reclamar demais prejudica o relacionamento consigo mesmo e com outros

Se a queixa não for acompanhada de uma prática, poderá até produzir alívio momentâneo, mas não resultará na solução do problema, diz psicóloga

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  17/08/19  -  16:27
Reviver e prolongar sentimentos de estresse pode resultar em reclamações constantes
Reviver e prolongar sentimentos de estresse pode resultar em reclamações constantes

Vamos ser sinceros: às vezes, uma vociferada após ser tratado de forma inconveniente ou uma queixa com o amigo sobre problemas no trabalho podem trazer mais leveza. Afinal, reclamar é reconhecer que algo não está legal e é um passo para a mudança. Ainda que seja carregar uma roupa extra por causa do tempo maluco. Mas cuidado. Reclamar demais e de tudo faz mal.


Segundo a psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, Maria Eugênia Copetti, reclamar é uma reação impulsiva como resposta a uma situação desagradável, produzindo alívio. 


“O problema é que, se essa reclamação não for acompanhada de uma prática, poderá até produzir alívio momentâneo, mas não resultará na solução do problema”. O tempo, por algum motivo, continuará insuportável, o trabalho maçante, e o namorado, irritante. 


Maria Eugênia explica que o cérebro é composto por redes neurais, que são diversos caminhos que ativam determinadas áreas. Quando reclamamos, fortalecemos redes ligadas a pensamentos negativos. E, quanto mais fortalecemos essas redes, mais começamos a acioná-las automaticamente. “Então, sempre que acontece algo, fica mais fácil ligar a rede de pensamento negativo, concentrando-se no problema e não na solução”.


A psicóloga e coordenadora do setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp, Denise Diniz, lembra que a reclamação é motivada por um fator estressor. E não é difícil entender que esse fator tem efeitos sobre nosso corpo. 


É só lembrar, por exemplo, de quando se está atrasado para um compromisso importante e o trânsito trava. O sangue sobe, as mãos suam e o coração acelera. Com o passar do tempo, uma reclamaçãozinha e outra, passa. Mas o reclamão de verdade, diz Denise, vai ficar revivendo as situações estressantes, se concentrando em novas situações de estresse e prolongando esses sentimentos. Com isso, encherá o organismo de cortisol, hormônio do estresse, que em desequilíbrio pode causar lapsos de memória, cansaço e enfraquecer o sistema imunológico.


Além disso, ninguém quer ficar debaixo da nuvem carregada de um reclamão. A ciência explica. “É a questão dos neurônios-espelho. Quando alguém fala com a gente, a tendência é sentirmos, em parte, o que a outra pessoa sente. Então, se eu sempre reclamo, também vou passando coisas negativas para os outros”, explica Maria Eugênia. A questão é encontrar o equilíbrio. Reclamar faz parte. Mas não de tudo.


Reclamar é normal, mas não muito. Como saber se você está exagerando? 


A psicóloga Maria Eugênia Copetti sugere: ponha uma pulseira e, toda vez que reclamar, troque-a de pulso. Se perceber que passa mais tempo trocando a pulseira de braço do que outra coisa, reavalie atitudes. Fortaleça suas redes neurais positivas. No final do dia, pense em pelo menos uma situação positiva que viveu. Vale um café gostoso ou ter embarcado no ônibus na hora.


O mestre em Ciências da Saúde e professor do curso de Psicologia da Unimes Pedro Quaresma Cardoso diz: 
“A reclamação é prejudicial quando se apresenta de forma infantilizada, como maneira de terceirizar a resolução de um problema pessoal”. Mas alerta para um contexto social que exige demais das pessoas. É um movimento de individualização, onde você resolve tudo, e “pode levar à frustração”.


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