Produtos químicos usados na pele contra coronavírus apresentam riscos

Químico aponta que alguns podem, inclusive, abrir lesões e facilitar entrada de vírus e bactérias

Por: Matheus Müller  -  15/04/20  -  00:13
Lavar as mãos com água e sabão é fundamental antes de se alimentar
Lavar as mãos com água e sabão é fundamental antes de se alimentar   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Esqueça quaisquer produtos que não sejam água, sabão e álcool 70% para reduzir ou eliminar os micro-organismos, bactérias e vírus presentes nas mãos. São os elementos eficazes e seguros para se evitar a disseminação do coronavírus e demais doenças transmissíveis pelo contato.


Sobre o álcool, de acordo com especialistas, o produto em gel garante uma permanência maior na superfície. De toda forma, o líquido nessa concentração também é aceito. O que não tem eficácia são aqueles com uma graduação menor ou maior – esta última opção pode causar queimaduras, é mais inflamável e não garante proteção, pois evapora muito rápido.


O professor de química da Unimes, Gustavo Viegas, alerta que usar produtos de limpeza da casa podem ocasionar graves danos à pele, como manchas, ressecamentos, queimaduras, vermelhidão, irritação, coceira, lesões e fissuras. “Eles costumam ter o PH elevado e uma concentração relativamente alta. Você pode abrir uma porta para um vírus ou uma bactéria entrar no seu corpo”.


Além de todos os problemas mencionados, ele ainda cita os causados por vapores que são liberados por alguns desses produtos. “Podem irritar os olhos, as mucosas nasais, tudo isso provocando desconforto e não promovendo uma higienização eficaz”.


Receita caseira agrava problema

Viegas conta ter tido uma surpresa negativa ao assistir algumas receitas caseiras na internet. "São extremamente ineficientes". De acordo com ele, a produção do álcool em gel tem todo um critério, um cuidado, e é feita para garantir que o álcool permaneça mais tempo na mão, mas sem promover tanta desidratação e, ao mesmo tempo, que todo o produto evapore ao mesmo tempo.

"Nessas receitas caseiras, algumas falam [em adicionar ao álcool] gel de cabelo, outras amido de milho. Você vai fazer uma camada de uma substância gosmenta, gelatinosa, onde o álcool vai agir e evaporar, mas você vai continuar com uma camada gosmenta na mão, e promover o contrário do que se esperava. Porque fará uma película perfeita para grudar tudo o que é possível, como bactérias fungos, vírus..."


Ressecamento


Viegas ressalta que o álcool tende a causar ressecamento da pele por ser uma substância volátil e hidrofílica (tem atração pela molécula de água). Ela se junta com a água logo evapora. “Quanto mais você passa o álcool nas mãos, mais você desidrata a superfície [principalmente o álcool líquido]”.


A médica dermatologista Rita Paioli explica que, além do ressecamento, o uso excessivo de álcool pode causar uma dermatite de contato, o que pode fazer surgir erupções cutâneas, coceira, vermelhidão e descamação. A situação é comum e não significa que a pessoa jamais poderá usar o produto.


“Vai ter que dar um tempo [no uso] e manter a higiene com água e sabão, além de usar muito hidratante”. Rita ressalta que um médico também poderá receitar um hidratante específico para as mãos e um medicamento para acabar com a crise.


A dermatologista diz que é fundamental fazer o uso regular de hidratante durante esse período, em que se usa mais o álcool para limpar as mãos.


Água e sabão


A médica infectologista Elisabeth Dotti reforça que o melhor método para lavar as mãos ainda é a água e o sabão – qualquer um, desde que esteja na validade.


“É natural que as pessoas questionem: Por que a gente consegue segurar a onda de uma doença tão grave, perigosa e violenta lavando as mãos? Até parece um contrassenso, mas é tão simples. São coisas que a gente já deveria ter como regra para a vida: lavar a mão, não espirrar na mão, não espirrar e dar a mão para alguém. O que a doença está cobrando da gente é regra de higiene básica”.


Elisabeth orienta que a higienização seja feita da seguinte forma: "Entre os dedos, embaixo das unhas, nas unhas, na palma e no dorso da mão. Também deve-se lavar até perto do cotovelo e, se puder, várias vezes ao dia".


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