Mais de 400 profissionais da saúde estão com suspeita de coronavírus na região

"É uma realidade do nosso ambiente (de trabalho)", diz médica infectada pela covid-19

Por: Matheus Müller  -  11/04/20  -  20:07
  Foto: Alexsander Ferraz

Mais de 400 profissionais da área da saúde estão com suspeita de coronavírus (covid-19) na Baixada Santista. Ao menos outros 35 já testaram positivo para a doença. O levantamento foi realizado junto às prefeituras - exceto Praia Grande e Mongaguá, que não responderam. Santos é a cidade com mais casos sob investigação e confirmados: 198 e 31, respectivamente.


É importante ressaltar que muitos desses profissionais, doentes ou aguardando os exames, trabalham em mais de um município. Essa situação pode interferir na soma apresentada que, até a última terça-feira (7), era de 446 suspeitos.


Os números reforçam a rápida disseminação da covid-19 e como estão expostos aqueles que trabalham na área da saúde, como é o caso da médica pediatra Maria Fernanda Vieira Rodrigues da Silva, de 26 anos, que foi contaminada apesar de todos os cuidados adotados, como o uso Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e constante higienização.


“É uma realidade comum no nosso ambiente”, diz ela, que sabe de outros médicos e amigos que apresentam sintomas da doença.


Mesmo sem estar na linha de frente no atendimento a pacientes com suspeita da doença ou já contaminados, Maria Fernanda conta que já tinha uma certeza: “Para mim era bem claro que, em algum momento, eu teria contato com o vírus. Só não esperava que fosse tão rápido. Foi muito assustador”. Ela realizou o exame dia 30 de março e recebeu a confirmação na última sexta-feira (3).


A médica trabalha em um hospital em Santos e outro em Cubatão e não sabe onde pode ter se contaminado. Certeza mesmo só das dores que sentiu. Segundo ela, “a pior dor no corpo” que já teve, além de muita febre, mal-estar, coriza e tosse. Outros sintomas foram a falta de olfato e paladar. “Pode parecer besteira, me assustaram bastante (a falta desses sentidos)”.


Ela conta que não sofreu com problemas respiratórios e, portanto, passados cinco dias sem febre, já começou a ficar mais tranquila, embora soubesse que ainda não estava recuperada.


Balanço
Cidades Casos suspeitos Casos confirmados
Bertioga 8 0
Cubatão 54 2
Guarujá 85 1
Itanhaém 13 0
Mongaguá sem resposta
Peruíbe 12 0
Praia Grande sem resposta
Santos 198 31
São Vicente 76 1

Medo e cuidados


Prestes a completar o período de quarentena, a médica se diz mais aliviada por estar fora risco e, principalmente, não ser um vetor para seus pais e pacientes. De acordo com ela, o pai faz parte do grupo de risco por ter 68 anos, ter hipertensão e diabetes.


“Desde o dia 29 estou no meu quarto. Minha mãe (de 57 anos) deixa a bandeja com a comida num suporte próximo à porta (do quarto) e me avisa”, conta. Os garfos e a louça usada por ela são sempre os mesmos. A mãe transporta tudo com luvas e lava imediatamente após o uso.


No corredor que dá acesso à cozinha, a mãe da médica também deixou um pano úmido com uma solução com cloro, onde passa os sapatos, sempre que deixa o ambiente. “Também pedi para ela dormir em quarto separado do meu pai”.


Outra frente


Mesmo sem atender diretamente casos de coronavírus, médicos como o cirurgião plástico Eugenio Gonzalez Cação contribuem para o funcionamento do sistema de saúde com um todo, dando respaldo, por exemplo, no atendimento e prescrição de medicamentos para pacientes com outras enfermidades. No caso dele, em Cubatão e na Zona Noroeste, em Santos.


Cação conta que a pandemia fez com que as cirurgias eletivas (não emergenciais) fossem suspensas para a liberação de leitos e pela segurança dos próprios pacientes. “Todo procedimento no pós-cirúrgico pode levar a uma imunossupressão”. Essa situação pode facilitar e agravar infecções.  


Ele conta que esse suporte é fundamental para a população e para os que trabalham na linha de frente. Lamenta as baixas de profissionais da saúde acometidos pela doença, pois entende que aquele posto poderá ser ocupado por alguém que não tem a mesma experiência ou não está tão acostumado àquela situação.


Apesar disso, entende que faz parte da profissão e se diz preparado caso tenha que atender aos casos suspeitos ou pacientes com covid-19.


Cação relata conhecer outros médicos que ficaram doentes, e que a questão deve ser encarada com seriedade pela população. Ele conta que em um casal de amigos a covid-19 se manifestou de forma diferente. Enquanto a mulher estava melhor em três dias, o marido teve problemas respiratórios e levou quase duas semanas para estabilizar.


“Existe a chance de todos contraírem o coronavírus. Nós médicos mais. O que estamos tentando fazer com o isolamento é evitar que todos (os casos) cheguem ao mesmo tempo nos hospitais, pois estes não terão capacidade para o atendimento”.


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