'Dia Roxo' faz alerta para o diagnóstico da epilepsia

Neurologista fala sobre o preconceito que pacientes sofrem com a doença e a importância do diagnóstico precoce

Por: Marcela Ferreira & De A Tribuna On-line &  -  26/03/19  -  18:58
  Foto: Arquivo Pessoal

A data de 26 de março é conhecida como o ‘Dia Roxo’ ou ‘Purple Day’, dedicado à conscientização sobre a epilepsia em todo o mundo. Anualmente, diversos países incentivam que as pessoas se vistam da cor roxa em eventos para levantar a discussão sobre a doença.


Criada em 2008 no Canadá por Cassidy Megan - uma criança com 9 anos na época -, junto à Associação de Epilepsia da Nova Escócia (EANS), a data teve a cor roxa escolhida por conta da flor da lavanda. Associada à solidão, a flor representa o sentimento de isolamento enfrentado por pacientes com epilepsia, lembrando que o problema é compartilhado por muitas pessoas, apaziguando essa sensação.


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o paciente que apresenta uma crise convulsiva não é necessariamente epiléptico. Para isso, é preciso apresentar duas ou mais crises nos últimos 12 meses, com intervalos assintomáticos e sem evidências de insultos como febre, ingestão de álcool, intoxicação por drogas, abstinência, meningite, entre outros.


Diagnóstico


A neurologista e professora de Medicina da Unimes, Andrea Anacleto, explica que a epilepsia se manifesta como uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por fatores externos. “Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos [como se fosse um curto-circuito elétrico], que podem ficar restritos a esse local ou espalharem-se. Se ficarem restritos, a crise será chamada parcial; se envolverem os dois hemisférios cerebrais, generalizada”.


Ela conta que o diagnóstico precoce é possível, para que a pessoa inicie o tratamento antes que possa haver algum tipo de lesão cerebral. A cada crise convulsiva, perde-se muitos neurônios, células cerebrais morrem, e a longo prazo, isso pode levar a consequências como alterações cognitivas, cicatrizes que podem gerar mais crises convulsivas, entre outros.


A médica explica que existem ‘tipos’ diferentes de epilepsia, que dependem da localização da descarga elétrica no cérebro. Para tratar o problema, há prescrição de medicamentos que controlam e evitam as descargas cerebrais anormais, origem das crises epilépticas.


“Para os pacientes refratários, ou seja, que não respondem ao tratamento medicamentoso - mesmo com o uso de diversos anticonvulsivantes, ainda apresentam crises convulsivas -, existem os tratamentos cirúrgicos preconizados pelo Ministério da Saúde e liberados pelo SUS”, conta.


Uma vez que o paciente esteja medicado, o risco de novas crises é controlado. Em caso de novas crises, mesmo sob tratamento, são necessários ajustes ou associação de outros medicamentos. Se, mesmo assim, não houver o controle, será necessário tratamento cirúrgico, de acordo com Andrea.


Preconceito


Andrea Anacleto diz que o preconceito é muito presente quando o assunto é epilepsia. “É justamente pelo fato de a maioria das pessoas desconhecer a doença, e ainda ‘carregar’ o preconceito milenar de que é transmissível, ou de que seja um problema espiritual, que o dia 26 de março tornou-se o ‘Dia Roxo’. A data é um convite ao fim do estigma que faz com que 70 milhões de pessoas no mundo tenham medo de se assumirem publicamente como epiléticas”, diz a médica.


Ela ainda conta que muitas pessoas tendem a negar que possuem a doença, com medo do julgamento que podem sofrer. “Hoje em dia, muitas pessoas escondem o fato de serem epilépticas, com medo de serem reprovadas em concursos públicos, entrevistas de emprego ou cursos. Além disso, muitos pais se preocupam se suas crianças com epilepsia serão aceitas em escolas e creches”.


Ela ainda completa dizendo que é possível ter uma vida normal com a doença. “A maioria dos pacientes em uso regular das medicações não apresenta crises convulsivas, podendo ter uma vida normal, apenas com algumas orientações, como a de não ter restrições de sono, boa alimentação e evitar ambientes com luzes ‘estroboscópicas’ [principalmente adolescentes que costumam frequentar as famosas ‘baladas’]”.


Em caso de crise


A médica faz um alerta para o caso de alguém presenciar uma pessoa tendo uma crise epiléptica, para que ofereça os primeiros socorros:


- Proteja a pessoa de uma lesão (traumatismo craniano, trauma de face, etc);


- Tente repousar a pessoa suavemente no chão, caso ela dê sinais de que irá cair;


- Tente afastar móveis ou outros objetos que possam ferir a pessoa durante a convulsão;


- Se a pessoa que está tendo a convulsão já estiver no chão, coloque algo macio sob sua cabeça;


- Não force nada, não tente abrir a boca do paciente, nem ‘desenrolar’ a língua. Isso pode ferir a mão de quem está tentando ajudar, além da possibilidade de danos ao paciente;


- Vire a pessoa para o seu lado, desabotoe alguns botões da camisa, retire gravatas. Assim, evitará que a pessoa aspire, caso apresente vômitos;


- Não tente soltar ou chacoalhar a pessoa;


- Solicite ajuda, ligando para o resgate.


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