São muitas e diferentes mudanças ao mesmo tempo: hormônios a todo vapor, transição para a vida adulta, alterações físicas e psicológicas e, este ano, ainda há o isolamento social. O fato é que a depressão na adolescência tira o sono de jovens e seus pais e o maior perigo é vê-la ser facilmente confundida com "apenas uma fase de tristeza", exigindo ainda mais atenção de todos os familiares.
Segundo a psicóloga clínica Nathalya Ferraz de França, falar com os pais é sempre um tabu. Por isso, é preciso ter os olhos bem abertos para identificar sinais de que algo está errado.
“A depressão é uma tristeza sem fim. Muitas vezes, não tem uma causa específica. A diferença para um momento de tristeza é que esse último tem tempo para passar”.
Para a especialista, o adolescente tem o estigma de querer ficar sozinho e as redes sociais são um gatilho para a depressão, pois o jovem se isola ainda mais no mundo virtual.
"Tudo começa com vazio, a sensação de uma vida sem significado e sem graça, um mundo cinza”.
Com o tempo, aparecem ainda sentimentos de culpa e inutilidade, dificuldades de se concentrar e organizar os pensamentos. Logo, angústia e sofrimento tomam conta.
“É muito importante que pai e mãe estejam abertos ao diálogo. Os adolescentes costumam achar que não são aceitos ou compreendidos. Então, é preciso ajudar nesse momento de autoconhecimento e dúvidas”, explica Nathalya.
A abordagem em casa deve ser espontânea e sincera, interessada em querer saber o que o filho está pensando.
“Acolher, deixar o jovem à vontade para falar e não impor a sua vontade são o melhor caminho. A depressão é uma doença crônica que aparece inclusive na infância. Se não tomar cuidado, tem a tendência ao suicídio”.
Para Nathalya, os pais devem entender que a depressão na adolescência não está relacionada a algum erro que tenham cometido e que não é preciso sentir culpa.
“É perfeitamente normal que eles se sintam assim, mas devem entender a doença e aprender a lidar com essa situação. A depressão tem cura”.
Pandemia
Segundo a doutora em psicologia social Maria Izabel Calil Stamato, deve-se saber que a adolescência é uma fase de transição tumultuada, carregada de sentimentos muito intensos e que, em grande parte, nem o próprio adolescente consegue compreender. Em tempos de pandemia do coronavírus, essa situação se agrava.
“Com o isolamento social, o contato e a proximidade são dificultados. A situação acirra conflitos que podem existir. A família vive um momento complexo e as coisas vão se acumulando com os dias”.
Para ela, que também coordena o mestrado de Psicologia, Desenvolvimento e Políticas Públicas da Universidade Católica de Santos (UniSantos), uma questão pouco trabalhada na adolescência é entender que acontece uma mudança no pensamento do jovem e ele precisa conversar.
“O jovem precisa de reflexão e não de sermão. É necessário escutar o que ele pensa e abrir espaços para que o adolescente se expresse. A distância dos amigos e o isolamento social têm sido gatilhos para muitos adolescentes. Até mesmo as famílias também precisam de ajuda nessa fase”.