Em muitos casos, o isolamento social preconizado para conter o avanço da covid-19 tem intensificado a ansiedade e a depressão, levando a válvulas de escape perigosas, como o consumo do álcool. Médicos e entidades estão em alerta.
Uma pesquisa realizada em abril pela consultoria Opinion Box mostrou que os pedidos por delivery cresceram 26% durante a quarentena. Dos 2 mil entrevistados, 16% aumentaram a ingestão de álcool.
Os dados preocupam a Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Outras Drogas (Abead), principalmente em tempos do novo coronavírus.
“A bebida alcoólica, quando consumida em grande quantidade, é uma droga que prejudica a imunidade, principalmente o sistema respiratório, extremamente afetado pela covid-19”, diz a presidente da Abead, Renata Brasil Araújo.
Segundo ela, a substância também acaba induzindo sintomas de ansiedade, depressão e irritabilidade, um problema que já tem sido observado no aumento das taxas de violência doméstica divulgadas pelo Poder Público.
“O álcool diminui a atividade do lobo pré-frontal, área do nosso cérebro responsável pelo controle da impulsividade, o que pode gerar aumento em comportamentos agressivos”, afirma Renata.
Risco
Há o risco de que as pessoas que consomem álcool diariamente na quarentena se tornem dependentes com o tempo, segundo a médica hepatologista Gleicy Reinoso. “É possível desenvolver dependência da bebida como válvula de escape para a situação que estamos vivenciando.”
De acordo com a médica, estudos recentes têm demonstrado que pessoas que consomem álcool em excesso têm risco de elevação constante nos níveis de pressão arterial, aumentando o risco de acidente vascular cerebral (AVC).
“Em alguns casos, com o passar do tempo, o excesso de consumo de álcool pode levar a um quadro de cardiomiopatia alcoólica, condição grave que pode provocar um comprometimento severo no funcionamento do coração”, adverte Gleicy.