Transtornos afetivos estão ligados a casos de depressão, diz psicóloga

'Precisamos estar mais perto um dos outros', afirma Silva Callogeras

Por: Arminda Augusto  -  03/09/19  -  21:01
Atualizado em 03/09/19 - 21:08
Psicóloga Silvia Callogeras, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental
Psicóloga Silvia Callogeras, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental

No Setembro Amarelo, mês dedicado a discutir tema tão delicado como a prevenção ao suicídio, a coluna social de A Tribuna entrevista a psicóloga Silvia Callogeras, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, voluntária da Abrata-Santos (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos). Uma aula de afeto e a certeza de que a vida pode ser melhor se aprendermos a nos ouvir e nos olhar mais.



O que são transtornos afetivos?


Transtornos afetivos ou transtornos do humor são aqueles onde a perturbação fundamental é uma alteração do humor ou do afeto, que, quando em curso, alteram a percepção da realidade, com todas as suas consequências. Imaginem quando usamos uma lente roxa. Tudo que enxergarmos através dessa lente ficará com tons arroxeados. E isso ocorre porque há uma alteração química cerebral, que desequilibra as substâncias produzidas pelos neurônios. Portanto, depressão é doença sim! A diferença é que a maioria das doenças são detectáveis através de exames...a dor psíquica não consegue ser visível... é preciso chegar perto.


É possível fazer uma graduação entre os mais brandos e os mais severos?


Esses transtornos englobam as variações de depressão indo até os transtornos ciclotímicos e do espectro bipolar. O sofrimento implícito é bastante intenso e significativo, em ambos os casos. No caso da depressão, não necessariamente será uma doença crônica. Já os transtornos bipolares são crônicos e não se conhece a cura por completo, existe o tratamento adequado e contínuo e com ele a estabilização da doença.


Ter algum grau de ansiedade é normal? Quando percebemos que essa ansiedade está fugindo da normalidade?


Algum grau de ansiedade é benéfico e saudável. Se essa ansiedade for muito intensa e persistente, levando até níveis de alteração de comportamento e sintomas, e passar a interferir na vida cotidiana, muitas vezes mudando o curso de rotinas, impedindo realização de planos... aí podemos considerar que está afetando negativamente, com prejuízos importantes. O transtorno de ansiedade normalmente é comorbidade (efeito colateral) dos transtornos afetivos, e pode ser um sinal importante para a busca de tratamento.


É só uma impressão ou crianças e jovens estão mais ansiosos hoje do que antigamente?


A vida mudou muito nos últimos tempos! Brincadeiras que envolvam muita atividade física acontecem bem menos, contatos com a natureza ficaram mais restritos, assim como a presença da mãe, que hoje está no mercado de trabalho. Com tudo isso, a criança tem muito mais obrigações. Brinca-se pouco, normalmente jogos digitais, vídeos, redes sociais. Em grande parte do tempo as atividades acontecem isoladamente, a presença física dos colegas foi substituída. Cada criança e/ou adolescente diminuiu a convivência com pessoas e com seus pares, apesar das várias atividades, tudo acontece muito mais internamente. De alguma forma, tudo fica muito mais “dentro” do ser humano, o que eleva a ansiedade e outros sintomas típicos desse novo formato.


Estamos no Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio. Podemos dizer que parte dos casos está relacionada ao não tratamento de transtornos afetivos, emocionais?


Sim, com certeza! As estatísticas são claras de que na maioria dos casos há um transtorno afetivo associado, identificado ou não, mas muitas vezes negligenciado. Gosto de propor sempre uma reflexão sobre o modelo de vida que temos adotado. Independente dos transtornos, entendo que já passamos da hora de melhorar nossa qualidade de vida. Precisamos olhar mais seriamente pra o que temos de mais precioso, nossos filhos, nossos entes queridos. Precisamos voltar a estar perto uns dos outros. O suicídio, em última instância, costuma representar a desesperança total em livrar-se de uma dor psíquica insuportável. Muitas vezes essas dores não são ouvidas por outros, mesmo por familiares próximos. Se estivermos mais atentos, mais perto, mais juntos... abrimos mais possibilidade de ouvir a dor do outro.


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