Mapeamento identifica Covid-19 em esgoto de cidades do Rio de Janeiro e Minas Gerais

Pesquisadores da Fiocruz afirmam que não há evidências da transmissão do novo coronavírus para humanos por meio das fezes

Por: Eduardo Brandão  -  05/05/20  -  22:50
As valas trazem diversos problemas aos moradores, como doenças, mau cheiro e animais ao entorno
As valas trazem diversos problemas aos moradores, como doenças, mau cheiro e animais ao entorno   Foto: Arquivo Pessoal/ Bruna Ferreira de Souza

Material genético do novo coronavírus foi encontrado em amostras retiradas em esgoto de cidades do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Duas pesquisas realizadas por órgãos nacionais, e em locais distintos, tiveram a conclusões idênticas: a Covid-19 é excretado em fezes, sendo lançada no sistema de saneamento público.  


Assim afirmam os trabalhos iniciais de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – em Niterói, no Rio de Janeiro –, e da Agência Nacional de Águas (ANA) – Belo Horizonte e Contagem, em Minas Gerais. Os projetos utilizam análises de amostras de esgotos como um instrumento de vigilância, permitindo identificar regiões com presença de casos da doença, mesmo os ainda não notificados no sistema de saúde. 


Segundo os pesquisadores, não há evidências da transmissão do vírus para humanos por meio das fezes. Eles reafirmam que via respiratória é o principal modo de transmissão, por gotículas respiratórias geradas pela tosse ou espirros. As conclusões iniciais também não fornecem subsídios para cravar que pontos de descartes de esgoto estejam contaminados pela Covid-19.


Os resultados são baseados em metodologias científicas internacionais, que têm demonstrado a importância da vigilância em esgotos para a detecção precoce de acometidos pela Covid-19. Com o mapeamento, reforça a importância da relação entre saneamento básico e saúde pública.


No caso mineiro, os dados foram divulgados nessa segunda-feira (4). Conforme o estudo, a presença do novo coronavírus foi detectada em oito entre 26 amostras (31%) na primeira semana dos trabalhos de campo.  


Das amostras positivas para o novo coronavírus, três foram coletadas na sub-bacia do Ribeirão Arrudas e cinco na sub-bacia do Ribeirão do Onça (Belo Horizonte e Contagem, em Minas Gerais). As coletas foram realizadas de 13 a 24 de abril de 2020. Até o momento, não se pode afirmar que essas bacias estejam contaminadas pelo novo coronavírus. 


O objetivo da pesquisa é mapear os esgotos para indicar áreas com maior incidência da transmissão e  avaliar a adoção ou não de medidas de relaxamento do isolamento social. Também possibilitar avisos precoces dos riscos de aumento de incidência da Covid-19 de forma regionalizada, para a tomada de decisão dos gestores públicos. 


O trabalho tem duração de 10 meses. Com a continuidade dos estudos, o grupo pretende identificar tendências e alterações na ocorrência do vírus nas diferentes regiões analisadas, para entender a prevalência e a dinâmica de circulação do vírus. 


Fiocruz  


Trabalho similar foi iniciado em abril por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),  em Niterói, no Rio de Janeiro. As primeiras coletas foram realizadas no dia 15 de abril, em 12 pontos georreferenciados. Material genético do novo coronavírus foi identificado em cinco dessas amostras. Os resultados iniciais evidenciam a eficácia da metodologia na ampliação da vigilância de propagação da pandemia.  


“Esse monitoramento permite otimizar o uso dos recursos disponíveis e fortalecer medidas na área (afetada), uma vez que a investigação sistemática da presença do material genético do vírus na rede de esgotos sanitários pode fornecer um retrato da presença de casos positivos em determinada localidade”, explica a pesquisadora Marize Pereira Miagostovich, chefe do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC/Fiocruz e responsável pela pesquisa.


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