Mãe perde a guarda da filha após ritual do candomblé

Avó da menina de 12 anos é católica e realizou uma das denúncias; defesa acredita em intolerância religiosa

Por: Por ATribuna.com.br  -  08/08/20  -  01:05
Defesa da mãe da família acredita que é um caso de intolerância religiosa
Defesa da mãe da família acredita que é um caso de intolerância religiosa   Foto: Unsplash

Uma mãe da cidade de Araçatuba, no interior de São Paulo, perdeu a guarda da filha de 12 anos após a jovem passar por um ritual de iniciação no candomblé, que envolve raspar a cabeça dos novos adeptos.


A ação foi movida pelo Conselho Tutelar da cidade, que recebeu denúncias de maus-tratos e abuso sexual. Como uma delas foi feita pela avó da menina, que é evangélica, a defesa afirma que o caso é de intolerância religiosa.


No último dia 23 de julho, o conselho recebeu uma denúncia anônima dizendo que a jovem era vítima de maus-tratos e abuso sexual. Junto de policiais militares, os conselheiros foram até o terreiro.


A adolescente chegou a relatar que não estava sofrendo qualquer tipo de abuso, mas, sim, passando por um ritual. A mãe, que trabalha como manicure, explicou que, durante a cerimônia, a menina não poderia deixar o local.


A mãe conta que ela só pode encontrar a filha pessoalmente por cerca de cinco minutos e que a filha relatou que estava sendo forçada a abandonar os preceitos que está seguindo em sua iniciação no candomblé.


Na semana passada, a mãe foi visitar a filha, mas a avó não deixou. A menina se revoltou e fugiu. A polícia a encontrou em uma praça próxima, de onde a levou dentro de uma viatura.


O caso segue em segredo de Justiça. A mãe quer a guarda de volta e aguarda o agendamento de uma audiência em que será ouvida pelo juiz, mas que ainda não tem data para acontecer.


Exame e ritual


Mesmo com as justificativas, mãe e filha foram levadas para a delegacia. Só foram liberadas depois de a jovem passar por exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal), que não encontrou nenhum tipo de hematoma ou lesão. A adolescente só estava com a cabeça raspada — segundo ela, estava se tornando filha de Iemanjá.


Nestes rituais, chamados de feitura de santo, o novo adepto fica 21 dias recluso no terreiro. Durante o retiro espiritual, recebe banhos de ervas e é exposto a fundamentos da religião. A ideia é que ele se purifique, entre em contato com o axé (que, na língua iorubá, significa "força" ou "poder") e, de acordo com a tradição, renasça conectado com valores ancestrais da crença. Deste ponto de vista, a passagem pelo terreiro é uma gestação. Raspar o cabelo é um ato sagrado e simboliza tudo isso.


*Com informações do UOL


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