Conexão Reino Unido: Amazing London

A coluna de Paulo Henrique Cremoneze mostra que nem tudo são flores no país. Há sofrimento com imbróglios jurídicos decorrentes de sua adiada saída da União Europeia

Por: Paulo Henrique Cremoneze- Do Reino Unido  -  03/10/19  -  18:19

Cerca de quinze dias atrás estive em Londres, por onde fiquei durante uma semana ao lado de meus sócios. De alguns anos para cá, tenho visitado mais a cidade. Afinal, para quem trabalha com Direito do Seguro, Direito Marítimo, Direito dos Transportes, Londres é o núcleo nervoso do segmento.


Mas fora as preferências que a profissão acaba nos fazendo ter, gosto da cidade também por outros motivos. De fato, sou levado a concordar com seus habitantes quando a rotulam de Amazing London. Há muito ali de extraordinário, de fantástico, de incrível. Poucas cidades sabem combinar tradição com modernidade como ela, indiscutivelmente uma das capitais mais belas do mundo.


Rica em história e tradição, em museus e galerias, Londres também tem se transformado, de modo mais recente, em um importante centro gastronômico. Os tempos do fish and chips já se foram, e hoje a influência dos continentes se faz ver mais a cada esquina, proporcionando ao visitante um caleidoscópio culinário de fazer inveja à parte esmagadora dos países. Isso sem falar na gastronomia tipicamente britânica, com sua simplicidade rústica e aspecto reconfortante, facilmente apreciável na onipresença dos pubs londrinos. 


No entanto, nem tudo são flores na terra do grandioso Winston Churchill. O Reino sofre com os imbróglios jurídicos decorrentes de sua sempre adiada saída da União Europeia, aquilo a que costumam chamar de Brexit. Já faz um tempo razoável que o povo, democraticamente consultado, optou pela saída da zona do Euro. O problema é sempre a viabilização dessa saída. Isso tem sido complicado; e o consenso político sobre o assunto parece, no mínimo, impossível.


Durante os dias em que lá estive, ocorreu algo particularmente grave: com a anulação do ato que suspendia o Parlamento, o atual primeiro ministro, Boris Johnson, chefe de governo, foi acusado de ter mentido para a Rainha, chefe de Estado e reserva moral da nação, e de a ter levado a um erro político tremendo.


Para o padrão ético britânico, isso seria inaceitável. Por isso, parte do mundo político tem exigido a renúncia do chefe de governo. A situação geral do Brexit, já naturalmente complicada, acaba de se agravar um pouco mais.


Por toda a cidade vi manifestações de repúdio. Mas também de oportunismo de grupos contrários ao Brexit, e que tentam, com a postura do primeiro ministro (que, apesar do erro, é um bom político), rediscutir a saída do Reino Unido da União Europeia.


A situação é delicada no país que, em muitos campos, tem marcos civilizacionais e costuma servir de referência para o mundo. As cartas da política britânica não estão exatamente embaralhadas: já caíram da mesa.


Dessa forma, fico a observar os próximos movimentos, sem conseguir antever uma resposta fácil ao caminhão de problemas que, apesar de locais, acaba afetando a totalidade do globo.


Disse-me uma amiga inglesa ver a necessidade de um novo Churchill. Considerando que o povo britânico não é dos mais personalistas, nem muito acostumado ao messianismo político, esse é um desejo que já nos diz muita coisa.


Sobre o autor


Paulo Henrique Cremoneze 
É advogado e escreve na coluna Conexão quinzenalmente.


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