Conexão Portugal: O Tejo vai secar

Com polêmica entre Portugal e Espanha, rio vem perdendo volume. Veja na coluna de Luiz Plácido

Por: Luiz Plácido - De Coimbra  -  31/10/19  -  19:41

Quem passeia por Lisboa dá de cara com aquilo que muitos pensam ser o mar. As águas que beiram a capital do país são, na verdade, do Rio Tejo, o mais extenso de toda a Península Ibérica. Com 1.007 km, ele nasce na Espanha, numa localidade conhecida como Fuente de García, no município de Frías de Albarracin, na província de Teruel, mais precisamente na serra do Albarracim, a 1.593 metros de altitude.


A formação montanhosa ao qual abriga é um dos mais importantes da Península Ibérica, já que separa a vertente atlântica da mediterrânea. Tudo normal se não fosse um detalhe, o Rio Tejo está a secar.


Há alguns anos, o leito deste rio vem descendo em números alarmantes e atualmente bateu seu recorde mínimo histórico. Entre a zona de Vila Velha de Ródão e Cedillo se registra o pior cenário. Assim como afluentes do Tejo, o Pônsul e o Sever quase desapareceram totalmente. Neste caso, a culpa é da Espanha.


Com a falta de chuva que atinge os dois países, o lado espanhol, que cuida da vazão do rio, não tem cumprido com suas metas. Há dias em que nem uma gota de água passa para o lado português. Tal medida seria para manter os níveis do lado espanhol para a produção de energia e para a agricultura, o que tem dado prejuízo a Portugal e irritado os portugueses que acusam o governo luso de nada fazer. 


Luís Pereira, presidente da Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa e da Câmara de Vila Velha de Ródão mostrou-se revoltado com a situação. “Há prejuízos imediatos que têm a ver com a atividade turística, que está suspensa, com infraestruturas que estão danificadas e com a pesca, que é hoje inativa. É inaceitável que os governos português e espanhol ajam desta maneira. Eles têm a obrigação de se articularem e evitarem uma situação destas”. 


O fato da Espanha ter regulado a vazão que chega a Portugal não é o único fator que faz com que o leito do rio tenha diminuído. Estudos comprovam que o Rio Tejo está sumindo aos poucos. 


Em agosto de 2017, o jornal britânico The Guardian trouxe uma matéria em que ambientalistas espanhóis falavam sobre o risco do Tejo desaparecer. Segundo estudos, nos últimos vinte anos, o rio perdeu cerca de 25% da sua água. 


A secura do rio pode ocorrer em algumas décadas já que as secas de todo ano são mais frequentes e cada vez maiores. Também foi comprovado que a Espanha tem feito novos afluentes para desviar a água do Rio Tejo para outros rios espanhóis, sem qualquer planificação ou estrutura e sem que Portugal diga qualquer palavra sobre o assunto. 


A Convenção de Albufeira, assinada entre os dois países em 1998, que rege as vazões e os caudais dos rios transfronteiriços. Ela tem como antecedentes mais próximos convenções assinadas em 1964 e 1968. Se levarmos o mesmo tempo para reformulá-las e atualizá-las, o Rio Tejo corre o risco de desaparecer em no máximo 30 ou 40 anos. 


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