Conexão Portugal: Como a saída do Reino Unido da UE afeta Portugal?

Portugal pode ser um dos países mais afetados com a mudança, sofrendo impactos negativos no crescimento

Por: Luiz Plácido - De Coimbra  -  06/02/20  -  22:46

No último dia 31 de janeiro, em uma votação histórica com 330 votos a favor e 231 contra, o Reino Unido saiu formalmente da União Europeia (UE). Após três anos e meio de crise e negociações, agora ambas as partes vivem uma fase de transição, quando serão definidas como vão ficar as relações entra os dois lados quando este período de mudanças terminar em 31 de dezembro de 2020. 


O Brexit, termo pelo qual ficou conhecida a saída inglesa da UE, uma junção das palavras, british (britânico) e exit (saída), já vinha se arrastando desde 1973, quando o Reino Unido ingressou na Comunidade Econômica Europeia, a precursora da União Europeia.


O primeiro referendo foi em 1975 e a permanência no bloco foi mantida. Num segundo referendo, já em 2016, o resultado foi favorável à saída. A partir daí começaram as negociações entre o Reino Unido e a Comissão Europeia, até o consenso final para a aprovação da retirada. Mas no que essa saída do Reino Unido da UE afeta Portugal?


Para já, Portugal pode ser um dos países mais afetados com a mudança, sofrendo impactos negativos no crescimento, nas exportações e mesmo nos custos de financiamento da República. Um estudo feito pelo FMI este ano, e citado num relatório recente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), aponta que Irlanda, Holanda e Bélgica serão os mais afetados no crescimento.


Mas Portugal também não escapa. “Considerando o cenário de acordo de comércio bilateral entre o Reino Unido e a União Europeia após o Brexit, Portugal seria o sexto país da UE mais afetado, com uma redução da produção de cerca de 0,2%”, destaca o estudo. 


Num cenário “de uma relação com base nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), Portugal seria o 12º país mais afetado, com uma redução da produção de 0,4%” e as exportações arriscariam descer até 26%. O Reino Unido é o quarto maior mercado das exportações portuguesas, mas as vendas para esse destino poderiam ser afetadas pela queda da libra e pelo risco de maiores barreiras comerciais após o Brexit. 


Um estudo da CIP do fim de outubro, informava que as exportações para o Reino Unido poderiam descer 15% no cenário mais otimista. Caso o país saia da UE sem acordo, as perdas potenciais arriscam chegar aos 26%. 


Entre os setores mais afetados, estão os de produtos de informática e óticos, equipamentos elétricos, veículos automotivos, têxtil, o setor de calçados e o vinho do Porto. E com as perspectivas de desvalorização da libra e da quebra da economia britânica, o poder de compra dos ingleses também deve cair nos próximos anos e isso pode afetar ainda o setor turístico de Portugal.


Segundo estudo da CIP, os ingleses, durante a alta temporada, costumam representar entre 21% e 28% dos hóspedes do setor hoteleiro português. O Algarve, Lisboa, Porto e a Ilha da Madeira devem ser as regiões mais afetadas nesse setor. 


Outro impacto forte deve ser notado na emigração. Muitos portugueses recém-formados buscam na Inglaterra os primeiros passos na vida profissional. Segundo o relatório do Observatório das Emigrações, o Reino Unido é o destino mais procurado dos portugueses. 


Todos os anos são formados em Portugal de 3.000 a 3.500 enfermeiros. Cerca de um terço, o que corresponde a 1.200 enfermeiros, começou a trabalhar no Reino Unido. A criação de novas barreiras para a emigração e a diminuição em potencial da criação de empregos para estrangeiros, com a crise que se aproxima, deve afetar esse fluxo migratório.


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