Conexão Japão: Um novo papel, pacificador

Visita do primeiro-ministro Shinzo Abe à Arábia Saudita é a manchete com maior importância para o futuro global

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  24/01/20  -  23:40

A confirmação de um caso de infecção por coronavírus, a pneumonia de Wuhan; a apreensão de navio pesqueiro de bandeira nipônica pela guarda costeira russa na zona marítima comercial disputada pelos dois países nos territórios do Norte; a fuga de Carlos Ghosn e suas ameaças de difamação do sistema judiciário japonês. Nenhuma das manchetes do noticiário tem maior importância para o futuro global quanto a visita do primeiro-ministro Shinzo Abe à Arábia Saudita, realizada no último dia 13.


Ao mesmo tempo em que o Japão tem nos Estados Unidos seu maior aliado, o país também cultiva um longo histórico de relações com o Irã, e muitos interesses na região. Após o ataque com drone desferido pelo exército americano em localidade próxima ao aeroporto internacional de Bagdá, no Iraque, que terminou com a morte do general iraniano Qasem Soleimani, a ameaça de um conflito de proporções mundiais nunca fora tão iminente. Principalmente após a retaliação do Irã, após o velório ao militar, considerado um terrorista em países a exemplo dos EUA, Canadá, Bahrain e na própria Arábia Saudita.

“Qualquer confronto militar na região que inclui o Irã terá um impacto na paz e estabilidade do mundo inteiro”, disse o premiê Shinzo Abe, em reunião com o príncipe da Árabia Saudita, Mohammed bin Salman, na província de Al-Ula. Abe conclama que todos os países relevantes empenhem-se em esforços diplomáticos para remover qualquer possibilidade de conflitos da região.

Concordando em trabalhar em conjunto para a segurança marítima, os dois líderes ainda discutiram sobre a decisão de Tóquio em enviar um navio destróier para atividades de inteligência, junto a duas aeronaves P-3C ao Oriente Médio. No dia 13 de Junho de 2019, um navio cargueiro de bandeira japonesa foi atacado próximo ao estreito de Hormuz, causando aumento do preço do barril de petróleo e alimentando a preocupação de conflitos na região.

O país asiático já anunciou que não vai participar da coalizão liderada pelos EUA. O Japão tem trilhado uma linha tênue, equilibrando sua aliança com Washington e a longa relação com Teerã, do qual é parceiro comercial desde a década de 30.

As relações do Japão com ambos países, o Irã e os Estados Unidos, são tratadas como questão de segurança nacional. A dependência do petróleo iraniano é o principal fator para o novo papel que o premiê japonês passa a desempenhar, em busca do diálogo. Em poucos dias o preço da gasolina e do diesel no Japão aumentou sensivelmente, passando de 138 para 150 ienes, em média.


Sobre o autor


Yukio Spinosa é jornalista, intérprete, tradutor e consultor para prospecção de produtos da indústria japonesa. Ele escreve quinzenalmente, às sextas-feiras, na coluna Conexão.


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