Conexão Japão: Renovação na câmara alta

Nesta edição da coluna, Yukio Spinoza fala sobre o cenário político japonês após o resultado das eleições diretas dos parlamentares

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  26/07/19  -  23:11

Desde o início desta semana, a mídia e as redes sociais estão repletas de notícias, análises e comentários sobre o resultado das eleições diretas dos parlamentares da câmara alta da dieta nacional, como é chamada a legislatura bicameral do Japão. A contagem das cédulas de voto impresso apontou os representantes escolhidos para os 124 assentos em disputa, na renovação trienal de metade da casa dos conselheiros, como também é chamada esta câmara. 


Desta vez, a vitória não foi esmagadora, como na eleição para a câmara baixa (shuugiin) em 2013, logo após Shinzo Abe retomar o cargo de primeiro-ministro. O Partido Liberal Democrata (PLD) de Abe conseguiu 71 assentos, em coalização com o Partido Komeito, braço político da entidade budista Soka Gakkai, e o Isshin no Kai, o Partido da Inovação. A oposição obteve 53.


Dentro da câmara alta (sangiin), o balanço do poder pendeu para o lado da oposição. Sendo o total de assentos 245, a maioria é obtida com 123 e a maioria absoluta, três terços, com 164 assentos. A coalização que compõe o governo tem 141 contra 104 da oposição, portanto o primeiro-ministro deve conquistar o apoio dos membros conservadores da oposição para passar a reforma da constituição que deseja.


A mídia destacou que 160 parlamentares são a favor de reescrever a constituição pacifista, escrita pelo governo da ocupação em 1947 e que determina que o país deve renunciar à guerra e proíbe a manutenção de forças militares, exceto para autodefesa. Ou seja, faltam apenas quatro votos para esta importante pauta entrar em votação. Logo mais, em outubro, inicia-se uma sessão especial para votar o aumento da taxa de consumo de 8% para 10%. No país, todo produto tem seu preço acrescido atualmente com 8% do seu valor. Diferente do Brasil, onde cada mercadoria é taxada diferentemente.


As eleições de 2019 para a câmara alta registraram recorde de candidaturas de mulheres. Dos 370 candidatos, 28,1% eram mulheres, portanto 104 candidatas. A oposição foi a maior responsável por este recorde. O PLD teve 12 candidatas do sexo feminino, número que embaraça o premiê Abe. “Nós merecemos ser criticados por não tentar duro o bastante [ter mais mulheres legislando]”.


Apesar do alto índice de abstenção, 50%, estas eleições tiveram o surgimento de novas lideranças, como o grupo anti-establishment Reiwa Shinsengumi, que conquistou dois assentos na casa dos conselheiros, que serão de Yasuhiko Funago, portador de esclerose lateral amiotrópica, e Eiko Kimura, que tem paralisia cerebral. Os dois, que usam cadeiras de rodas, serão os primeiros parlamentares portadores de deficiências físicas sérias. 


Político da província de Osaka, Takashi Tachibana foi eleito através do partido criado recentemente e que defende o povo contra a rede de difusão NHK (NHK kara kokumin wo mamoru tou). Sua proposta é mudar a lei das telecomunicações e dar aos cidadãos a opção de não precisar pagar pela taxa de difusão, também conhecida como “taxa da NHK”. Estes pequenos grupos acabarão decidindo o futuro do país nas votações do segundo semestre.


Líderes do mundo dos negócios celebraram a vitória da coalizão no domingo de eleições. Representados por Akio Kimura, presidente da câmara de comércio, os empresários exteriorizaram esperança de que este governo facilite o progresso com melhorias nos programas de segurança social e restauração da saúde fiscal, o que inclui o aumento do imposto sobre consumo.


Esta deve ser a última vez que o premiê Abe estende seu mandato, sendo 2021 o seu último ano como líder máximo do Japão.


Sobre o autor


Yukio Spinosa é jornalista, intérprete, tradutor e consultor para a prospecção de produtos na indústria japonesa.


Logo A Tribuna
Newsletter