Conexão França: Dia 5, Paris sem transporte e paralisada

Greve marcada para essa data promete entrar para a história da França. Entenda os motivos na coluna de Diana Gonzalez

Por: Diana Gonzales - De Paris  -  03/12/19  -  19:47

O dia 5 de dezembro ainda não chegou, mas a greve marcada para essa data promete entrar para a história da França como sendo uma maiores paralisações do país.


A tão esperada mobilização foi motivada pelos funcionários da empresa de transportes parisienses, a RATP. Em setembro, o setor parou a capital francesa em protesto à reforma da previdência do governo Macron, que prevê o fim de regimes especiais de aposentadorias.


Já naquela época, eles haviam decidido que uma nova paralisação seria feita. A data foi estrategicamente escolhida levando em conta três critérios: 1 - dar ao governo o tempo de reagir à paralisação do 13 setembro; 2 - dar tempo a outras organizações de integrarem o movimento; 3 - esperar que os trabalhadores tenham recebido o 13º salário.


E de fato, diversas categorias viram a fragilidade do governo e resolveram se juntar à greve organizada pela RATP. Entre os aderentes estão: maquinistas e funcionários da empresa de trens francesa SNCF, funcionários de hospitais, estudantes e professores, o serviço de correios, magistrados, funcionários públicos de prefeituras e conselhos regionais e até mesmo a Polícia. Esta última vai optar por uma manifestação simbólica, fechando alguns postos de comissariado que não prestam serviço de urgência.


Claro, os famosos e polêmicos Gilets Jaunes (Coletes Amarelos) não poderiam ficar de fora. Sobre a adesão deste grupo ao movimento do dia 5, um membro do Executivo declarou preferir ter um milhão de manifestantes sindicalizados nas ruas do que 100 mil gilets jaunes. Isto porque as manifestações organizadas por sindicatos são controladas. O temor do governo é que entre os Gilets Jaunes existe o risco de que casseurs (quebradores, na tradução literal) se infiltrem e provoquem atos de vandalismo.


A greve do dia 5 pode se estender, diversas categorias anunciam a paralisação “a partir do dia 5”. Assim, o impacto negativo no setor comercial será grande, pois faltam 22 dias para o Natal.


Os parisienses são extremamente dependentes do metrô e transporte público em geral. Afinal, Paris é servida de diversas linhas de metrô e trem que não vale a pena ter carro e perder tempo e paciência no trânsito.


Diversas empresas privadas há meses procuram uma solução para amenizar o impacto econômico desta paralisação. Muitas propuseram a seus empregados que eles trabalhem de suas casas, os incentivaram a irem de bicicleta ou patinete, ou ainda tentarem organizar caronas entre aqueles que possuem um veículo. Algumas empresas indicam até que vão recompensar os funcionários que conseguirem se deslocar até o local de trabalho.


Eventos tiveram suas datas antecipadas para evitar os inconvenientes causados pela greve.


O presidente Macron tenta mostrar que a greve é um movimento exclusivamente dos trabalhadores de transporte que querem continuar com seus regimes especiais. A tática é fazer de conta que há apenas este setor que está insatisfeito com as medidas do seu governo. No entanto, pesquisas mostram que 2 a cada 3 franceses apoiam esta greve. Aguardemos os próximos passos desse movimento que promete paralisar Paris.


Sobre a autora


Diana Gonzalez é jornalista, com mestrado em Comunicação pela Universidade de Lille (França), e escreve naa coluna Conexão quinzenalmente, às terças-feiras.


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