Conexão Espanha: Miguel de Unamuno, um coração espanhol e alma universal

Conhece-se também a grandeza de um povo pelos seus grandes homens e mulheres e a Espanha é muito generosa nisso

Por: Paulo Henrique Cremoneze - da Espanha  -  12/03/20  -  19:30
  Foto: Reprodução

A Espanha sempre foi terra de grandes homens e mulheres. Santos, escritores, pintores, poetas, conquistadores, gênios de todos os tipos. Como não venerar São João da Cruz, Santa Teresa D'Ávila, Santo Inácio de Loyola? E como não admirar Miguel de Cervantes, Goya, Francisco Ribalta, Hernán Cortés?


Conhece-se também a grandeza de um povo pelos seus grandes homens e mulheres e a Espanha é muito generosa nisso.


Um dos nomes marcantes da Espanha é o de Miguel de Unamuno. Um homem formidável.


Gosto de estudar biografias e estou bem impressionado com a deste proeminente salamantino. Intelectual, escritor, poeta, foi legislador em Salamanca e reitor na famosa universidade por muitos anos, inclusive nos difíceis e conturbados tempos da Guerra Civil.


Um homem em constante estado de aperfeiçoamento. Um espanhol apaixonado por seu país, mas distante do nacionalismo. Não era exatamente um cristão devotado, mas tinha como um dos melhores amigos um pastor protestante e era fervoroso defensor da cultura católica na Espanha e entusiasta do conceito de civilização cristã ocidental.


Foi republicano por um bom tempo, mas depois reconheceu que a monarquia parlamentarista era melhor e a identidade natural, histórica, da Espanha.


Na juventude, flertou com o socialismo, mas logo reconheceu se tratar de ideologia ruim e perigosíssima.


Inicialmente, posicionou-se de forma decidida a favor dos militares que combateram tenazmente as atrocidades praticadas por comunistas e anarquistas sob a bandeira republicana. Depois, ao notar que esses mesmo militares se desvirtuaram dos objetivos iniciais, posicionou-se contra o governo, o que lhe custou o cargo de reitor.


Foi um homem dedicado ao conhecimento, ao saber, ao desejo de dilatar os espaços da verdade em todos os campos da vida social. Um coração inquieto e questionador, mas obsequioso aos costumes e tradições do povo. Dedicado à família e ao bem comum, protagonizou escritos e discursos magníficos, carregados de um senso estético capaz de comover o próprio Cervantes. 


Não há salamantino, pobre ou rico, simples ou sofisticado, religioso ou indiferente, intelectual ou menos instruído, que não o admire ou ao menos não lhe tenha algum afeto.


Foi – e isso não é comum nos meios acadêmicos (infelizmente) – um fiel e ferrenho opositor do comunismo ou de qualquer forma de socialismo. Um dos grandes espanhóis dos tempos atuais.


No momento político-social que a querida Espanha passa, complexo e delicado, muito aproveita lembrar de Unamuno, um homem que ajudou a construir a história. Coração espanhol, alma internacional.


Sobre o autor


Paulo Henrique Cremoneze é advogado e escreve na coluna Conexão Mundo, do jornal A Tribuna, quinzenalmente.


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