Casais podem se redescobrir em tempos de confinamento

Especialistas dizem que fazer a quarentena com o parceiro ser uma prisão ou retiro depende de você; veja dicas do que fazer para resgatar o que se perdeu com o tempo

Por: Nathália de Alcantara  -  28/03/20  -  15:51
Se preocupar com o sentimento do outro é fundamental neste momento de isolamento social
Se preocupar com o sentimento do outro é fundamental neste momento de isolamento social   Foto: Adobe Stock

Os casais em tempo de confinamento viraram um dos memes preferidos nas redes sociais. Mas o fato é: o período dentro de casa com o parceiro pode ser uma prisão ou um retiro. Tudo vai depender do seu olhar e das suas atitudes.


Para especialistas ouvidos por ATribuna.com.br, é tempo das pessoas se conectarem de verdade e resgatarem o relacionamento que se perdeu com o tempo.


>> Cuidado com o outro e rotina da casa; confira o infográfico com mais detalhes sobre o assunto


Para a psicóloga Aparecida Favoreto, psicoterapeuta, mestre em Saúde Coletiva e especialista em Sexualidade e Educação Sexual, esse é o assunto mais abordado por seus pacientes.


Segundo ela, a principal questão tem a ver com o fato de um estar em home office e o outro, apesar de também estar em casa, ter o tempo livre.


“Muitas vezes um atraso no trabalho não incomoda, mas em casa a cobrança é maior quando o parceiro passa da jornada. Isso gera conflitos”.


Aparecida explica que as pessoas precisam reaprender a ocupar o tempo livre. “É hora de fazer o que sempre quis e não havia tempo. Proponho que os casais se olhem, se toquem mais. Fale como se sente sem criticar ou julgar, ouvindo o outro de verdade, sempre baseado nos seus sentimentos e suas necessidades”.


Para ela, é fundamental reencontrar a pessoa por quem se apaixonou. “Respeitar e compreender o espaço do outro é muito importante, resgatando a intimidade”.


A psicóloga especialista em sexualidade e saúde coletiva Márcia Atik, que trabalha com casais há 30 anos, acredita que muitas bareiras de hipocrisia vão cair.


“Muitas vezes está tudo bem com o relacionamento na superfície, mas isso é só a ponta do iceberg. É outra realidade que está submersa e será o momento de desconstruir verdades construídas há tempos”.


Reflexão


Com a determinação para que as pessoas fiquem dentro de casa, convivendo mais tempo juntas, é natural surgirem perguntas como ‘ela me faz feliz? Ele é atencioso comigo?’


“Vejo esse como um bom momento para trabalhar a relação. Se a decisão for ficar junto, vamos salvar esse relacionamento e pensar como fazer com que ele fique legal e interessante”.


Marcia sugere resgatar valores, comportamentos e situações que fizeram essas pessoas se atraírem.


“O resgate de sensações e emoções não acontece só no sexo. Exercite o olhar de Eros, repleto de vida, alegria, movimento e criatividade. É um excelente momento para se tocar, se cheirar, se escutar”.


Para a terapeuta de casais Viviane Sampaio, o momento pede que as pessoas se redescubram e que esse tempo de coronavírus deixará uma valiosa lição para a humanidade.


“Alguns casamentos não vão durar, outros ficarão ainda melhores. O confinamento aflora as coisas ruins, mas as coisas boas também. Vejo que é necessário ter bom senso e equilíbrio, um olhar para as soluções e não para o problema. Comece a mudança por você”.


Violência doméstica


Apesar de toda brincadeira envolvendo os casais em tempo de quarentena, o assunto é sério. No Brasil, correm na Justiça mais de um milhão de processos relacionados à lei Maria da Penha. Os dados são do Conselho Nacional de Justiça.


E esses números podem aumentar diante do cenário de confinamento que se desenha no Brasil, com a pandemia do coronavírus.


Na China, o número de denúncias triplicou nos três meses de reclusão a que foram impostos os cidadãos chineses. Segundo a ONG Weiping, de defesa à mulher, o número de consultas aumentou em três vezes durante a quarentena.


 Houve até a criação de uma hashtag, a #AntiDomesticViolenceDuringEpidemic para ajudar mulheres a pedirem ajuda num ambiente de isolamento.


Preocupação


Segundo o criminalista Leonardo Pantaleão, o assunto é preocupante e não pode ser deixado de lado. 


“Enfrentar a pandemia é uma tarefa árdua que tem concentrado todos os esforços das autoridades. Mas essa questão da violência doméstica no Brasil é crescente e deve ter uma atenção especial das autoridades”, explica o  professor com mestrado em Direito das Relações Sociais.


A advogado especialista em Direito de Família Priscila Goldenberg explica que é necessário redobrar o cuidado com o assunto.


“A violência doméstica contra as mulheres é outra questão que também aumentou em número de casos por causa do isolamento social. Os números certamente já refletem isso”.


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