Cinema, tema da redação do Enem, causa surpresa em estudantes 

Especialistas pensavam que temas capazes de dar margem a polêmicas seriam evitados

Por: Egle Cisterna & Da Redação &  -  04/11/19  -  16:17
Candidatos entram em local de prova, na Vila Mathias: redação vale 20% da nota geral do exame
Candidatos entram em local de prova, na Vila Mathias: redação vale 20% da nota geral do exame   Foto: Carlos Nogueira/ AT

O assunto nas rodas de conversa nos minutos que antecediam a abertura dos portões para a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) era único na manhã deste domingo (3): qual seria o tema da redação deste ano. 


A ansiedade e medo são justificáveis, pois a redação representa 20% da nota geral do exame e algumas universidades dão um peso maior para esse conceito, o que pode representar entrar ou ficar de fora da faculdade pretendida. 


“É tanta coisa acontecendo neste ano que não dá para imaginar no que eles podem focar”, afirmava a estudante Bruna Rodrigues, de 18 anos. 


A estudante Ana Carolina Barros, de 17 anos, tentava se descontrair com brincadeiras com as colegas, mas bastava uma consulta ao celular para a tensão pré-redação voltar. 


“Acabei de ver essa história do nióbio aqui. Será que isso vai estar na redação? Alguém pode me dar um panorama disso?”, pergunta para as colegas, referindo-se ao metal exaltado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) como sendo o minério que daria a independência econômica do País. 


O desmatamento na Amazônia também estava entre os tópicos de destaque no banco de apostas dos participantes da prova. 


Mas os estudantes ouvidos pela Reportagem na manhã de domingo ficaram longe de acertar ou chegar perto do que os técnicos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), organizador do Enem, tinham em mente para a o texto. 


O mistério foi desfeito logo depois das 13h30, quando os participantes do Enem receberam o caderno de questões. Eles tiveram que dissertar sobre a Democratização do acesso ao cinema no Brasil. 


O tema surpreendeu especialistas em redação ouvidos por A Tribuna, que apostavam que temas capazes de provocar polêmica e polarização partidária ficassem fora da prova. 


“Não estava entre os temas possíveis, mas é muito importante e é comum ser debatido em sala de aula”, diz o professor do Eixo Linguagens, Códigos e suas Tecnologias do Cursinho Cardume, da Unifesp, e do Cursinho AtuaMente, da Poli-USP, Sérgio Jabur. 


Ele destaca que, ao contrário de anos anteriores, os organizadores fugiram dos temas exclusivamente voltados à área social. 


O professor do curso Educafro Michel Carvalho também ficou surpreso com o foco da redação. “Com o novo governo, esperava-se uma temática mais neutra, que não possibilitasse a manifestação de posicionamentos político-ideológicos no texto”, afirma. Para ele, o tema abre várias possibilidades de discussão na redação. 


Entre elas, Michel evidencia o preço médio dos ingressos, que dificulta o acesso ao cinema, e a concentração de salas de exibição nos grandes centros. “Existem verdadeiros ‘desertos cinematográficos’ no Brasil”, pondera Carvalho. 


Os especialistas concordam que uma boa proposta de discussão para o tema proposto, como exigido na prova, é um diferencial para os candidatos. 


Segunda parte  


No próximo domingo, ocorrerá a segunda parte da avaliação, na qual os alunos serão avaliados nas competências de Matemática e Ciências da Natureza. O gabarito deve ser publicado no dia 13, e os resultados individuais, em janeiro. 


O participante pode ainda ter acesso à vista de sua prova de redação, exclusivamente para fins pedagógicos, em março, mesma época em que os treineiros terão seus resultados. 


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