Transcendência vertical

Precisamos lutar para compreender que somos canais de transcendências verticais, situadas acima das cabeças dos homens de transcendências horizontais

Por: Luiz Alca  -  29/11/20  -  13:20
Atualizado em 19/04/21 - 17:48
  Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

Uma figura pública das mais queridas e respeitadas na cidade, morre em menos de meia hora de um infarto agudo do miocárdio, em meio à atividade plena, mesmo no dia de sua partida. Comoção total, tristeza enorme, choque brutal para todos os que o estimavam e nem poderia ser de outra forma. E como sempre, começam as tentativas de justificar o infausto acontecimento, numa humana busca de entendimento diante da sombra do que é ainda o nosso maior fantasma. Atitude compreensível, claro, mas que pode se tornar ainda mais sofrida e brutal para a família e os mais próximos, ao resvalar em algum resquício absurdo, diga-se de passagem, mas muito possível frente aos questionamentos naturais do amor, de culpa ou descuido. Do tipo “ele ainda fumava?” ou “será que fazia exercícios regulares?”. Alguém afirma que era hipertenso e se desgastava muito com o trabalho.


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Uma pessoa durante o velório diz a outra “provavelmente abusava da alimentação ou estava com o colesterol alto”. Ouve-se ainda “essa vida de política acaba matando”. E tantas outras afirmações que soam como palavras ao vento nessa vã tentativa de se confundir as razões com a causa e de se negar a aceitar que os desígnios do Grande Mestre não seguem essas nossas pequenas e assustadas leis terrenas. Não que devamos nos abandonar à própria sorte, em termos físicos, orgânicos, longe disso.


Nem por um minuto, relega-se a um segundo plano a importância da alimentação balanceada, os exercícios físicos, como a caminhada ao menos três vezes por semana durante 30 ou 40 minutos e o controle da pressão arterial e dos índices de colesterol. Sobre os malefícios do cigarro, a perseguição hoje é tanta que nem é preciso reafirmar; não há uma única pessoa lúcida e informada que não o saiba. Mas tudo isso se enquadra nas razões, muito abaixo da causa; maior, ampla, tão linda quanto assustadoramente misteriosa. Será que nem pela fé ou mesmo pela crença, as pessoas conseguem admiti-la em seu pavor de aceitar a morte, o advento da parca? E o entendimento de que, chegado o nosso momento, a deliberação divina de que a transformação para um outro plano se faça, as razões se dissolvem diante do que os vedas, os milenares sábios diziam ser a “grandiosa hora da chamada”. Que nos aniquila por não conseguirmos entender a princípio – e mesmo passados anos e anos, temos recaídas de incompreensão – que no universo superior as leis são outras e o que pode parecer a nós, castigo, talvez seja o prêmio, principalmente quando a passagem é feita, como no caso, sem sofrimentos.


Precisamos lutar para compreender que somos canais de transcendências verticais, situadas acima das cabeças dos homens de transcendências horizontais, encarnados na humanidade. Eis porque sofremos tanto por amor e nos recusamos a aceitar a causa, prendendo-nos em razões, aliás, o que podemos entender.


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